Set
ou Seth também chamado Setesh, Sutekh, Setekh, ou Suty é o deus egípcio
da violência, da traição, do ciúme, da inveja, do deserto, da guerra,
da escuridão, das tempestades, dos animais e serpentes. Set era
encarnação do espírito do mal e irmão de Osíris, o deus que trouxe a
civilização para o Egito. Set era marido e irmão da deusa Néftis. É descrito que Set teria rasgado o ventre de sua mãe Nut com as próprias garras para nascer.
Querendo suceder Osíris, o seu filho e sobrinho de Seth (às vezes
indicado como irmão deste), Hórus, trava uma verdadeira batalha para
suceder seu pai contra Set que sentindo-se injustiçado por não assumir o
lugar de Osíris, pois segundo ele, é o único deus forte o suficiente
para ocupar tal lugar, vai perante os deuses superiores protestar pelo
que considera seu direito. Hórus, o deus do céu, argumenta para Geb ou,
em outras versões do mito, para Rá que é o legítimo herdeiro do trono ao
que Set se opõe dando início a um conflito divino. Na querela entra
Ísis, a mãe de Hórus, que convence o Ennead, o conselho dos deuses, a
não outorgar em favor de Set, porém decidem se reunir mais uma vez,
agora numa ilha, para julgar o caso no que é impedida de acompanhar.
Entretanto Ísis disfarçada de idosa suborna o condutor da barca do sol,
Nemty, com uma joia e segue os outros deuses até a ilha onde eles se
reuniriam. Lá ela se transforma numa bela jovem para seduzir Seth e
assim conseguir sua confissão de que na verdade o seu filho de fato era o
herdeiro por direito ao trono de Osíris e não ele fazendo-o mais uma
vez protestar com o conselho de deuses sugerindo então um desafio para
Hórus onde ambos se metamorfoseariam em hipopótamos para sobreviver
alguns meses sob a água. Ísis preocupada com seu filho decide ajudá-lo
arremessando um arpão nas águas onde termina por atingi-lo e fisga Set
que pede por clemência ao que ela consente.
Irritado por sua
mãe tê-lo ferido, Hórus a ataca e corta sua cabeça fugindo para o
deserto. Após o ocorrido o Ennead decide puní-lo por ferir sua mãe ao
que Set tira seus olhos enquanto dorme. A deusa Hator restaura a sua
visão com leite. Outra vez Hórus apela perante os deuses por equidade
sendo que agora esses, falam para Osíris no mundo dos mortos que
responde inquirindo por que seu filho ainda não foi entronado
ameaçando-os com uma infestação de demônios/demónios. Finalmente após
deliberar, Rá, decide arbitrar em favor de Hórus e acolhe Seth enfim
para a morada dos deuses.
Como potência da natureza, estava
sempre em guerra com Hórus, o antigo, ou seja, a noite estava sempre em
guerra com o dia em busca da supremacia. (...) Quando Hórus, filho de
Ísis, cresceu, lutou com Seth, que assassinara Osíris, seu pai, e
venceu-o; em inúmeros textos, as duas lutas, originalmente distintas, se
confundem, como também se confundem os dois deuses Hórus. A vitória de
Hórus sobre Seth no primeiro conflito significava apenas a vitória do
dia sobre a noite, mas a derrota de Seth no segundo parece ter sido
entendida como a vitória da vida sobre a morte, do bem sobre o mal.
(...) As figuras do deus não são comuns, visto que os egípcios as
destruíram, em sua maioria, quando mudaram de opinião a respeito dele —
conclui o autor.
Seth era um Deus representado por um homem com
a cabeça de um tipo incerto de animal, um animal mítico, parecido com
um cachorro de focinho e orelhas compridas e cauda ereta, ou ainda com a
cabeça de um bode. Às vezes portava uma lança na mão. O animal mítico
em si era chamado de animal-seth ou fenekh. A divindade era identificada
com muitos outros animais, incluindo o porco, o asno, o hipopótamo e o
crocodilo. Deus dos trovões e das tempestades tinha seu centro de culto
na cidade de Ombos. Fazia parte dos nove deuses principais (enéade) de
Heliópolis, sendo filho do deus-Terra, Geb, e da deusa do céu, Nut.
Embora inicialmente fosse um deus benéfico e tenha sido venerado como
senhor do Alto Egito durante as primeiras dinastias, com o passar do
tempo tornou-se a personificação do mal, um ser que ameaçava
periodicamente a ordem cósmica. Tornou-se uma divindade popular no delta
oriental por sua semelhança com o deus sírio Baal e os invasores hicsos
(c. 1640 a 1532 a.C.) tiveram nele o seu deus protetor. Foi
identificado pelos gregos com Tífon.
O Deus Seth comenta o
egiptólogo Wallis Budge “foi considerado, num período muito primitivo,
irmão e amigo de Hórus, o antigo. Seth representava a noite, ao passo
que Hórus representava o dia. Cada um desses deuses executou muitos
serviços de natureza amistosa para os mortos e, entre outros, ergueu e
segurou a escada pela qual os falecidos subiam desta terra para o céu,
ajudando-os a escalá-la. Num período subseqüente, todavia, as opiniões
dos egípcios no que diz respeito a Seth se modificaram e, logo depois do
reinado dos reis chamados Seti, isto é, aqueles cujos nomes tinham por
base o nome do deus, tornou-se a personificação de todo o mal, de tudo o
que é horrível e terrível na natureza, como, por exemplo, o deserto em
sua mais desolada forma, a borrasca e a tempestade, etc.”
Por
personificar o deserto, Seth tinha os cabelos vermelhos, da cor daquela
terra rochosa e árida. E não só representa o deserto, como também as
feras que parecem sair dele. Por analogia, o asno, animal de pêlo
vermelho, estúpido e lúbrico, era considerado um animal de Seth, ou
seja, um animal impuro e possuído por um mau espírito. Segundo o
historiador grego Plutarco (c. 50 a 125 d.C.), os egípcios tentavam
acalmar essa divindade através de sacrifícios. Os habitantes de Koptos,
capital do 5.º nomo do Alto Egito, por exemplo, precipitavam um asno das
alturas de um precipício. Por todo o país, nas ofertas solenes que
faziam no segundo e no décimo meses do ano egípcio, amassavam tortas
sobre as quais imprimiam uma marca na qual se via a figura de um asno
acorrentado. Nos sacrifícios que ofereciam ao Sol, transmitiam aos
adoradores do astro a ordem de não levar consigo objetos de ouro e não
dar de comer a um asno. Os moradores de Abido e de Busíris jamais
empregavam trombetas e tinham horror ao seu som, porque lhes lembrava o
zurrar do asno. É sacrilégio diz Plutarco entre os egípcios, dar ouvidos
ao som da trombeta, porque se parece ao zurro, e este animal é mal
visto entre eles por causa de Seth.
Pelo mesmo fato de
acreditarem que Seth é vermelho, sacrificavam-lhe bois dessa cor
acrescenta ainda Plutarco, observando tão escrupulosamente tal
prescrição que se o animal possui um só pêlo negro ou branco, julgam-no
indigno de ser imolado.
O historiador grego Heródoto afirma o mesmo:
Se no boi que se vai imolar descobre-se um único pêlo negro, ele é
declarado impuro. Um dos sacerdotes tem a seu cargo este exame, e para
efetuá-lo o boi lhe é apresentado em pé, mas logo é obrigado a deitar-se
de barriga para cima. Fazem-no tirar para fora a língua para verificar
se ela está isenta das marcas a que aludem os livros sagrados.
Finalmente, examinam os pelos da cauda, para ver se crescem
naturalmente. Se o boi é tido como puro sob todos os aspectos, o
sacerdote marca-o colocando cortiça de papiro ao redor de seus chifres;
sobre ela o sacerdote coloca barro tenro e aplica seu selo, pois é
proibido, sob pena de morte, sacrificar um boi que não possua essa
marca.
Os bois puros de que fala Heródoto, ou seja, os
adequados para o sacrifício, eram aqueles nos quais não apareciam os
sinais sagrados dos que serviam para distinguir os bois Ápis ou Mnévis.
Os selos que os sacerdotes aplicavam sobre o barro levavam gravada a
efígie de um homem caído de joelhos, com as mãos atadas às costas e uma
espada sob a garganta. Isso talvez fosse à lembrança de um tempo muito
antigo no qual o sacrifício não se fazia por substituição, mas se
imolava um homem ritualmente. Posteriormente o próprio Rá, dizem os
papiros egípcios, substituiu a vítima nos sacrifícios, imolando uma
besta ao invés de uma pessoa.
Heródoto prossegue narrando como
se procedia o sacrifício: Conduz-se o animal assim marcado ao altar onde
deve ser imolado; acende-se o fogo; espalha-se vinho sobre o altar,
perto da vítima, que é, então, estrangulada, depois de se haver invocado
o deus. Corta-se-lhe, em seguida, a cabeça, profere-se toda sorte de
imprecações sobre ela, após o que é levada ao mercado e vendida a
qualquer negociante grego, ou, em caso contrário, atirada ao rio. Entre
as imprecações a que nos referimos, os que ofereceram o sacrifício pedem
aos deuses para conjurar todas as desgraças que possam cair sobre o
Egito ou sobre eles, desviando-as para aquela cabeça.
Havia
ainda um outro animal relacionado ao deus Seth: o porco. Heródoto nos
diz que os egípcios consideravam os porcos como animais imundos. A tal
ponto, que se alguém tocasse inadvertidamente em um deles, ainda que de
leve, corria para mergulhar no rio, mesmo vestido. E acrescenta: Os
guardadores de porcos, embora egípcios de nascença, são os únicos que
não podem entrar em nenhum templo do Egito. Ninguém lhes quer dar as
filhas em casamento, nem desposar as filhas deles. São, por isso,
obrigados a casar-se entre eles, isto é, com gente da mesma categoria.
Uma vez que não consumiam a carne de porco, os egípcios utilizavam
manadas desses animais durante o plantio para enterrarem as sementes de
milho. A matança de porcos só era permitida para ofertá-los em
sacrifício à lua ou a Osíris, quando então a carne do animal era
consumida.
Talvez a aversão ao porco estivesse ligada a
questões de higiene, mas mitologicamente está relacionada com a briga
entre Seth e Hórus. Numa passagem do Livro dos Mortos conta-se uma lenda
segundo a qual, em tempos muito remotos, Seth, assumindo a forma de um
porco preto, aproximou-se de Hórus que, ao fitá-lo, sentiu-se como se
tivesse recebido um golpe na vista. O fato ocorreu numa cidade do delta
do Nilo chamada Pe. Rá ordenou que colocassem o deus ferido num quarto e
nomeou duas outras divindades para montar-lhe guarda. Wallis Budge
comenta: A lenda refere-se, sem dúvida, a uma grande tempestade que caiu
sobre Pe, quando as nuvens obscureceram o céu, e rugiram trovões, e
fuzilaram relâmpagos, e desabaram torrentes de chuva. Durante a
tormenta, Hórus foi atingido nos olhos por um raio, ou abatido por um
relâmpago e, quando a borrasca passou, Rá nomeou dois de seus filhos
para "fazer florir a terra" e destruir as nuvens e a chuva que ameaçavam
a cidade. Seth também aparece como porco no mito de Osíris. Quando Ísis
foge para o delta para garantir a segurança de seu filho Hórus, ela
assume a forma de um pássaro e fica vigiando para ver se o violento
monstro Seth, o porco selvagem, aparece. Em versões muito antigas dessa
história, Osíris é morto por Seth sob a forma de um porco ou javali.
Sacrifícios desses animais era, portanto, um ato de vingança inflingido
ao assassino de Osíris que assumiu a forma de um porco negro.
Seth ainda era venerado sob a forma de crocodilo no templo de Kom Ombos,
no sul do Egito, e na cidade de Avaris, a capital dos invasores hicsos.
Nessa última região ele já vinha sendo adorado por sucessivos reis da
XIII dinastia (c. 1783 a 1640 a.C.), antes da chegada dos hicsos. Com a
vinda dos conquistadores, Seth acabou sendo assimilado ao deus hicso
Baal e, sob o nome de Sutekh, seu culto fortificou-se. Um dos
governantes estrangeiros, Apophis (c. 1585 a 1542 a.C.), fez de Seth a
sua divindade pessoal e vangloriou-se de não servir a nenhum outro deus
na terra a não ser ele. Ao lado de seu palácio construiu um maravilhoso
templo em honra de Seth e ali comparecia diariamente para oferecer
sacrifícios à deidade. Quando os hicsos foram expulsos, a veneração de
Seth prosseguiu no delta oriental. Durante o reinado de Aquenaton (c.
1353 a 1335 a.C.), o faraó que estabeleceu o culto de uma única
divindade, Aton, a devoção a Seth teve que ser mantida secreta. Mas no
reinado de Haremhab (c. 1319 a 1307 a.C.) ela retornou com a construção
de um enorme templo em Avaris. Os faraós que sucederam a Haremhab, ou
seja, Ramsés I (c. 1307 a 1306 a.C.), Seti I (c. 1306 a 1290 a.C.) e
Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.) eram devotos de Seth. Esse último faraó,
no 34.º ano de seu reinado, erigiu uma pedra comemorativa, conhecida
como A Estela dos 400 Anos, na qual proclama a veneração de Seth pelos
ancestrais imediatos do rei e marca os 400 anos do reinado da divindade
no delta oriental.
Algumas referências na literatura:
“Seth é um curandeiro eficaz. Numa conjura especial contra a misteriosa
“doença asiática”, é chamado “Seth que apazigua o mar”. Desse modo, os
líquidos do corpo humano também estarão em paz e a doença se afastará.
Se necessário, ela será encerrada e sua boca ficará impenetrável como a
pele de tartaruga. Um papiro mágico de Paris ensina-nos que o mago
invoca os deuses por meio de um vaso. Dirige-se a Seth, considerado o
deus dos deuses. O mago tem essa audácia porque venceu uma serpente
invisível graças ao poder de Seth, que lhe permite fazer os deuses
deambularem à vontade.”
“Em Abidos, como hóspede do templo de
Sethi I, Bés fornecia oráculos e curava doentes. O Papiro mágico de
Brooklyn32 indica que Seth dos sete rostos afasta morto e morta, inimigo
e inimiga, adversário e adversária, a porca, devoradora do Ocidente.”
“O mago entra no ventre do Inimigo como se fosse uma mosca, volta-lhe o
rosto para trás da cabeça, coloca-lhe os pés ao contrário.
Enfraquece-o, esvazia-o da sua substância. Evoca o poder do deus touro
Montu e o de Seth. Pega terra com a mão direita e sobre ela recita uma
fórmula. Quebra os ossos e devora a carne do Inimigo. Arranca-lhe o
poder para ficar com ele.”
“Se não ouves as minhas palavras,
cortarei a cabeça de uma vaca no pórtico de Hathor, decapitarei um
hipopótamo no pórtico de Seth, farei com que Anúbis se sente envolto na
pele de um cão, e que Sobek se sente envolto na pele de um crocodilo”
“Quando a doença aparece, é porque Seth ou outro demônio qualquer
cruzou o caminho do paciente e o assaltou, tornando-o impuro. Daí a
necessidade de intervenção de um médico, “sacerdotepuro” de Sekhmet
qualificado para curar.”
“Libertado foi, libertado foi por
Ísis. Libertado foi Hórus por Ísis de todo o mal que lhe tinha sido
feito pelo irmão Seth, quando este lhe matou o pai, Osíris. Ó Ísis,
grande maga, livra-me, liberta-me de toda coisa má, malfazeja, vermelha,
da doença de um deus e da doença de uma deusa, da morte masculina e da
morte feminina, do inimigo e da inimiga que poderiam vir contra mim.”
“O sangue é um líquido precioso. Essa é a razão por que uma hemorragia é
considerada um mal temível. Felizmente, existe uma fórmula para lhe pôr
fim: “Para trás, tu que estás sob a mão de Hórus! Para trás, tu que
estás sob a mão de Seth! O sangue que com está travado!”
“A
serpente Apófis volta o seu mau olho contra Rê. Hipnotiza a equipagem da
barca solar. Somente Seth lhe pode resistir porque possui, também ele,
um olhar temível que lhe permite lutar contra a serpente maléfica.”
“O deserto é a terra de Seth, o Vermelho, o lugar onde se trava o
perigoso duelo com as forças descontroladas que, uma vez domadas,
permitirão fazer com que nasçam as terras cultivadas”
Christian Jacq
Wikipédia
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