quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Apolo, Senhor de Muitas Qualidades.




Apolo (do grego: Ἀπόλλων;: Apóllōn, ou Ἀπέλλων,. Apellōn) foi uma das divindades principais da mitologia greco-romana, um dos deuses olímpicos. Filho de Zeus e Leto, e irmão gêmeo de Ártemis, possuía muitos atributos e funções, e possivelmente depois de Zeus foi o deus mais influente e venerado de todos os da Antiguidade clássica.


Epítetos: Agreus (Caçador), Aguieus (Guardião das ruas), Aigletes (Radiante), Akesios (Curador), Alasiotas (de Cyprus), Alexikalos (Que desvia o mal), Apotropaios (Que evita o mal), Aristaios (Melhor), Arkhegetes (Líder de colônias), Daphnephoros (Portador da folha-de-louro), Delios (de Delos), Delphinios (Dos golfinhos), Délfico, Epikourios (Auxiliador, Aliado), Genetor (Progenitor, Ancestral), Hekatos (Justo atirador de dardos), Hersos (Recém-nascido, criança divina), Hyperborean (do longe Norte), Iatros (Doutor), Ismenios (de Ismenos), Karneios (de Karneia), Kitharodos (Cantor da lira), Kourotrophos (Protetor da juventude), Leukatas (Da luz) Loxias (O oblíquo), Lukeios (Do lobo), Maleatas (Curador) Musagetes (Líder das musas), Nomios (Pastor) Paian (nome alternativo), Patroos (Ancestral), Phoibos (Brilhante), Puthios (Pythian, assassino de Python), Smintheus (do Camundongo).

Domínios: Música, Profecia, Educação, Cura e Doença.
Animais: Cisne, Corvo (“raven”), Rato, Lobo.
Plantas: Louro, Delfínio.
Símbolos: Lira, Grinalda ou ramo de louro, Arco e flechas, Tripé délfico, Sol.
Ofertas: Folha de louro, vinha, junco, girassol, âmbar, jacinto, olíbano, babosa.
Cor: Dourado.

Apolo nasceu no dia sete do mês délfico Bísio, que corresponde, no calendário ático, ao mês Elafebólion, ou seja, segunda metade de março e primeira de abril, nos inícios da primavera. Tão logo veio à luz, cisnes, de uma brancura imaculada, deram sete voltas em torno da ilha de Delos. Suas festas principais celebravam-se no dia sete do mês. As consultas ao Oráculo de Delfos se faziam primitivamente apenas no dia sete do mês Bísio, aniversário do deus. Sua lira possuía sete cordas. Sua doutrina se resumia em sete máximas, atribuídas aos sete Sábios. Eis aí o motivo por que o pai da tragédia, Ésquilo, o chamou augusto deus Sétimo, o deus da sétima porta. Sete é, pois, o número de Apolo, o número sagrado.

Zeus enviou ao filho uma mitra de ouro, uma lira e um carro, onde se atrelavam alvos cisnes. Ordenou-lhes o pai dos deuses e dos homens que se dirigissem todos para Delfos, mas os cisnes conduziram o filho de Leto para além da Terra do Vento Norte, o país dos Hiperbóreos, que viviam sob um céu puro e eternamente azul e que sempre prestaram ao deus um culto muito intenso. Ali permaneceu ele durante um ano: na realidade, uma longa fase iniciática. Decorrido esse período, retornou à Grécia, e, no verão, chegou a Delfos, entre festas e cantos. Até mesmo a natureza se endomingou para recebê-lo: rouxinóis e cigarras cantaram em sua honra; as nascentes tornaram-se mais frescas e cristalinas. Anualmente, por isso mesmo, se celebrava em Delfos, com hecatombes, a chegada do deus.

O filho de Zeus estava pronto e preparado para iniciar a luta, que, aliás, foi rápida, contra Pitón, o monstruoso dragão, filho da Terra, que montava guarda ao Oráculo de Geia no monte Parnaso e que a ira ainda não apaziguada da deusa Hera lançara contra Leto e seus gêmeos.

Este deus que se está apresentando, já em roupas de gala, paramentado e etiquetado, não corresponde ao que foi no primórdios o senhor de Delfos. O Apolo grego, o Apolo do Oráculo de Delfos, o "exegeta nacional", é, na realidade, resultante de um vasto sincretismo e de uma bem elaborada depuração mítica.

Na Ilíada, aparentando a noite, o deus de arco de prata, Febo Apolo, brilha (e por isso é Febo, o brilhante) como a Lua.

É necessário levar em conta uma longa evolução da cultura e do espírito grego e mais particularmente da interpretação dos mitos, para se reconhecer nele, bem mais tarde, um deus solar, um deus da luz, de sorte que seu arco e suas flechas pudessem ser comparados ao sol e a seus raios. Em suas origens, o filho de Leto estava indubitavelmente ligado à simbólica lunar. No primeiro canto da Ilíada, apresenta-se como um deus vingador, de flechas mortíferas: o Senhor Arqueiro, o toxóforo; o portador do arco de prata, o argirótoxo. Violento e vingativo, o Apolo pós-homérico vai progressivamente reunindo elementos diversos, de origem nórdica, asiática, egéia e sobretudo helênica e, sob este último aspecto, conseguiu suplantar por completo a Hélio, o "Sol" propriamente dito. Fundindo, numa só pessoa e em seu mitologema, influências e funções tão diversificadas, o deus de Delfos tornou-se uma figura mítica deveras complicada. São tantos os seus atributos, que se teme a impressão de que Apolo é uma amálgama de várias divindades, sintetizando num só deus um vasto complexo de oposições. Tal fato possivelmente explica, em terras gregas, como o futuro deus dos Oráculos substituiu e, às vezes, de maneira brutal, divindades locais pré-helênicas: na Beócia, suplantou, por exemplo, a Ptóos, que depois se tornou seu filho ou neto; em Tebas, particularmente, sepultou no olvido o culto do deus-rio Ismênio e, em Delfos, levou de vencida o dragão Píton. O deus-sol, todavia, iluminado pelo espírito grego, conseguiu, se não superar, ao menos harmonizar tantas polaridades, canalizando-as para um ideal de cultura e sabedoria.

Realizador do equilíbrio e da harmonia dos desejos, não visava a suprimir as pulsões humanas, mas orientá-las no sentido de uma espiritualização progressiva, mercê do desenvolvimento da consciência, com base no (gnôthi s'autón), "conhece-te a ti mesmo".

Apolo é saudado como (Smintheús), um deus-rato, a saber, um deus agrário, não propriamente como propulsor da vegetação, mas como guardião das sementes e das lavouras contra os murídeos. Como seu filho Aristeu, o filho de Leto zela pelos campos com seus rebanhos e pastores, de que é, aliás, uma divindade tutelar. Com os epítetos de (Nômios), "Nômio", protetor dos pastores e (Karneîos), "Cárnio", dos rebanhos e particularmente dos carneiros, Apolo defende os campos e sua grei contra os lobos, daí talvez seu nome de (Lýkeios), "Lício".

Sua ação benéfica, porém, não se estende apenas ao campo: com a designação de (Aguyieús), "Agieu", representado por um obelisco ou pilar, ele se posta à entrada das casas e guarda-lhes a soleira. Vigia igualmente tanto a Fratria, com o nome de Phrátrios, quanto os viajantes nas estradas, como atesta Ésquilo, e nas rotas marítimas, sob a forma de delfim, predecessor zoomórfico dos deus, salva, se necessário, os marinheiros e tripulantes. Sob a denominação de (Akésios), "o que cura", precedeu em Epidauro, como médico, a seu filho Asclépio. Já na Ilíada, curara a peste que ele próprio havia lançado contra os aqueus, que lhe apaziguaram a ira com sacrifícios e entoando-lhe um belo peã, nome este, que, sob a forma de (paián), peã, após designar (Paieón), "Peéon", médico dos deuses, passou a qualificar igualmente não só Apolo como deus que cura, mas ainda com canto sobretudo de ação de graças.

Médico infalível, o filho de Leto exerce sua arte bem além da integridade física, pois é ele um (Kathársios), um purificador da alma, que a libera de suas nódoas. Mestre eficaz das expiações, mormente as relativas ao homicídio e a outros tipos de derramamento de sangue, o próprio deus submeteu-se a uma catarse no vale de Tempe, quando da morte de Píton. Incentivava e defendia pessoalmente aqueles com cujos atos violentos estivessem de acordo, como foi o caso de Orestes, que matou a própria mãe Clitemnestra, conforme nos mostra Ésquilo em sua Oréstia. Fiel intérprete da vontade de Zeus, Apolo é (Khrestérios), um "deus oracular", mas cujas respostas aos consulentes eram, por vezes, ambíguas, donde o epíteto de (Loksías), Lóxias, "oblíquo, equívoco". Deus da cura por encantamento, da melopéia oracular, chamado, por isso mesmo, pai de Orfeu, que tivera com Calíope, Apolo foi transformado, desde o século VIII a.e.c., em mestre do canto, da música, da poesia e das Musas, com o título de (museguétes), "condutor das Musas": as primeiras palavras do deus, ao nascer, diz o Hino homérico, foram no sentido de reclamar "a lira e seu arco recurvado", para revelar a todos os desígnios de Zeus.

Deus da luz, vencedor das forças ctônias, Apolo é o Brilhante, o sol. Alto bonito e majestoso, o deus da música e da poesia se fazia notar antes do mais por suas mechas negras, com reflexos azulados, "como as pétalas do pensamento". Muitos foram assim seus amores com ninfas e, por vezes, com simples mortais.

Amou a ninfa Náiade Dafne, filha do deus-rio- Peneu, na Tessália. Esse amor lhe fora instilado por Eros, de que o deus gracejava. É que Apolo, julgando que o arco e a flecha eram atributos seus, certamente considerava que as flechas do filho de Afrodite não passavam de brincadeira. Acontece que Eros possuía na aljava a flecha que inspira amor e a que provoca aversão. Para se vingar do filho de Zeus, feriu-lhe o coração com a flecha do amor e a Dafne com a da repulsa e indiferença. Foi assim que, apesar da beleza de Apolo, a ninfa não lhe correspondeu aos desejos, mas, ao revés, fugiu para as montanhas. O deus a perseguiu e, quando viu que ia ser alcançada por ele, pediu a seu pai Peneu que a metamorfoseasse. O deus-rio atendeu-lhe as súplicas e transformou-a em loureiro, em grego (dáphne), a árvore predileta de Apolo.

Com a ninfa Cirene teve o semideus Aristeu, o grande apicultor, personagem do mito de Orfeu.

Também as Musas não escaparam a seus encantos. Com Talia foi pai dos Coribantes, demônios do cortejo de Dionisio; com Urânia gerou o músico Lino e com Calíope teve o músico, poeta e cantor insuperável, Orfeu. Seus amores com a ninfa Corônis, de que nasceu Asclépio, terminaram tragicamente para ambos, a ninfa foi assassinada e o deus sol, por ter morto os Ciclopes, cujos raios eliminaram Asclépio, foi exilado em Feres, na corte do rei Admeto, a quem serviu como pastor, durante um ano. Com Marpessa, filha de Eveno e noiva do grande herói Idas, o deus igualmente não foi feliz. Apolo a desejava, mas o noivo a raptou num carro alado, presente de Posídon, levando-a para Messena, sua pátria. Lá, o deus e o mais forte e corajoso dos homens se defrontaram. Zeus interveio, separou os dois contendores e concedeu à filha de eveno o privilégio de escolher aquele que desejasse. Marpessa, temendo que Apolo, eternamente jovem, a abandonasse na velhice, preferiu o mortal Idas. Com a filha de Primo, Cassandra, o fracasso foi ainda mais acentuado. Enamorado da jovem troiana, concedeu-lhe o dom da manteía, da profecia, desde que a linda jovem se entregasse a ele. Recebido o poder de profetizar, Cassandra se negou a satisfazer-lhe os desejos. Não podendo tirar o dom divinatório, Apolo cuspiu-lhe na boca e tirou-lhe a credibilidade: tudo que Cassandra dizia era verídico, mas ninguém dava crédito às suas palavras.

Em Cólofon, o deus amou a adivinha Manto e fê-la mãe do grande adivinho Mopso, quando profeta do Oráculo de Apolo em Claros, competiu com outro grande mántis, o profeta Calcas. Saiu vencedor, e Calcas, envergonhando e, por despeito, se matou. Pela bela ateniense Creúsa, filha de Erecteu, teve uma paixão violenta: violou-a numa gruta da Acrópole e tornou-a mãe de ìon, ancestral dos Jônios. Creúsa colocou o menino num cesto e o abandonou no mesmo local em que fora amada pelo deus. Íon foi levado a Delfos por Hermes e criado no Templo de Apolo. Creúsa, em seguida, desposou Xuto, mas, como não concebesse, visitou Delfos e, tendo reencontrado o filho, foi mãe, um pouco mais tarde, de dois belos rebentos: Diomedes e Aqueu. Com Evadne teve Íamo, ancestral da célebre família sacerdotal dos iâmidas de Olímpia. Castália, filha do rio Aquelôo, também lhe fugiu: perseguida por Apolo junto ao santuário de Delfos, atirou-se na fonte, que depois recebeu seu nome e que foi consagrada ao deus dos oráculos. As águas de Castália davam inspiração poética e serviam para as purificações no templo de Delfos. Era dessa água que bebia a Pítia.

Das três provas por que passou Apolo com os três conseqüentes exílios (em Tempe, Beres e Tróia), a terceira foi a mais penosa. Tendo tomado parte com Posídon na conspiração urdida contra Zeus por Hera e que fracassou, graças à denúncia de Tétis, o pai dos deuses e dos homens condenou ambos a se porem ao serviço de Laomedonte, rei de Tróia. Enquanto Posídon trabalhava na construção das muralhas de Ílion, Apolo apascentava o rebanho real. Findo o ano de exílio e do fatigante trabalho, Laomedonte se recusou a pagar-lhes o salário combinado e ainda ameaçou de lhes mandar cortar as orelhas. Apolo fez grassar sobre toda a região da Tróada uma peste avassaladora e Posídon ordenou que um gigantesco monstro marinho surgisse das águas e matasse os homens no campo.

Não raro, Apolo aparece como pastor, mas por conta própria e por prazer. Certa feita, Hermes, embora ainda envolto em fraldas, lhe furtou o rebanho, o que atesta a precocidade incrível do filho de maia. Apolo conseguiu reaver seus animais, mas Hermes acabava de inventar a lira e o filho de Leto ficou tão encantado com os sons do novo instrumento, que trocou por ele todo o seu rebanho. Como também tivesse Hermes inventado a flauta, Apolo a obteve imediatamente, dando em troca ao astuto deus psicopompo o caduceu.

Um dia em que o deus tocava sua flauta no monte Tmolo, na Lídia, foi desafiado pelo sátiro Mársias, que, tendo recolhido uma flauta atirada fora por Atena, adquiriu, à força de tocá-la, extrema habilidade e virtuosidade.

Os juízes de tão magna contenda foram as Musas e Midas, rei da Frígia. O deus foi declarado vencedor, mas o rei Midas se pronunciou por Mársias. Apolo o puniu, fazendo que nascessem nele orelhas de burro. No tocante ao vencido, foi o mesmo amarrado a um tronco e escorchado vivo.

A grande aventura de Apolo e que há de fazer dele o senhor do Oráculo de Delfos foi a morte do Dragão Píton. Miticamente, a partida do deus para Delfos teve como objetivo primeiro matar o monstruoso filho de Geia, com suas flechas, disparadas de seu arco divino. Seria importante não nos esquecermos do que representam o arco e flecha num plano simbólico: na flecha se viaja e o arco configura o domínio da distância, o desapego da "viscosidade" do concreto e do imediato, comunicado pelo transe, que distancia e libera.

Quanto à guardiã do Oráculo de Geia pré-apolíneo, era, ao que parece, a princípio, uma (drákaina), um dragão fêmea, nascida igualmente da Terra, chamada Delfine.

Mas, ao menos a partir do século VIII a.e.c., o vigilante do Oráculo primitivo e o verdadeiro senhor de Delfos era o dragão Píton, que outros atestam tratar-se de uma gigantesca serpente. Seja como for, o dragão, que simboliza a autoctonia e "a soberania primordial das potências telúricas" e que, por isso mesmo, protegia o Oráculo de Geia, a Terra primordial, foi morto por Apolo, um deus patrilinear, solar, que levou de vencida uma potência matrilinear, telúrica, ligada às trevas. Morto Píton, Apolo teve primeiramente que purificar-se, permanecendo um ano no vale de Tempe, tornando-se, desse modo, o deus Kathársios, "o purificador", por excelência. É que, todo (Míasma) toda "mancha" produzida por um crime de morte era como que uma "nódoa maléfica, quase física", que contaminava o génos inteiro. Matando e purificando-se, substituindo a morte do homicida pelo exílio ou por julgamentos e longos ritos catárticos, como foi o sucedido com Orestes, assassino de sua própria mãe, Apolo contribuiu muito para humanizar os hábitos antigos concernentes aos homicídios.

As cinzas do dragão foram colocadas num sarcófago e enterradas sob o (omphalós), o umbigo, o Centro de Delfos, aliás o Centro do Mundo, porque, segundo o mito, Zeus, tendo soltado duas águias nas duas extremidades da terra, elas se encontraram sobre o omphálos A pele de Píton cobria a trípode sobre que se sentava a sacerdotisa de Apolo, denominada, por essa razão, Pítia ou Pitonisa.

Embora ainda se ignore a etimologia de Delfos, os gregos sempre a relacionaram com (delphýs), útero, a cavidade misteriosa, para onde descia a Pítia, para tocar o omphalós, antes de responder às perguntas dos consulentes. Cavidade se diz em grego (stómion), que significa tanto cavidade quanto vagina, daí o ser o omphalós tão "carregado de sentido genital". A descida ao útero de Delfos, à "cavidade", onde profetizava a Pítia e o fato de a mesma tocar o omphalós, ali representado por uma pedra, configuravam, de per si, uma "união física" da sacerdotisa com Apolo. Para perpetuar a memória do triunfo de Apolo sobre Píton e para se ter o dragão in bono animo) e este é o sentido dos jogos fúnebres, celebravam-se lá nas alturas do Parnaso, de quatro em quatro anos os jogos píticos.

Do ponto de vista histórico, é possível ter-se ao menos uma idéia aproximada do que foi Delfos arqueológica, religiosa e politicamente.

Múltiplas escavações , realizadas no local do Oráculo, demonstraram que, à época micênica Sec. XIV-XI, Delfos era um pobre vilarejo, cujos habitantes veneravam uma deusa muito antiga, que lá possuía um Oráculo por "incubação", cujo omphalós certamente era da época pré-helênica. Trata-se, como se sabe, de Geia, a mãe-Terra, associada a Píton, que lhe guardava o oráculo. Foi na Época Geométrica, que Apolo chegou a seu habitat definitivo e, nos fins do Século VIII a.e.c. a "apolinização" de Delfos estava terminada; a Manteía por "incubação",ligada a potências telúricas e ctônias, cedeu lugar à manteía por "inspiração", embora Apolo jamais tenha abandonado, de todo, algumas "práticas como se observa no sacrifício de uma porca feito por Orestes, em Delfos, após sua absolvição pelo Areópago. Tal sacrifício em homenagem às Erínias se constitui num rito tipicamente Ctônio. A própria descida da Pitonisa ao Ádyton, ao "impenetrável, localizado, ao que tudo indica, nas entranhas do Templo de Apolo, atesta uma ligação com as potências de baixo.

De qualquer forma, a presença do deus patrilinear no Parnaso, a partir da Época Geométrica, é confirmada pela substituição de estatuetas femininas em terracota por estatuetas masculinas em bronze.

O novo senhor do Oráculo do monte Parnaso trouxe idéias novas, idéias e conceitos que haveriam de exercer, durante séculos, influência marcante sobre a vida religiosa, política e social da Hélade. Mais que em qualquer oura parte, o culto de Apolo testemunha, em Delfos, o caráter pacificador e ético do deus que tudo fez para conciliar as tensões que sempre existiram entre as póleis gregas. Outro mérito não menos importante do deus foi contribuir com sua autoridade para erradicar a velha lei do talião, isto é, a vingança de sangue pessoal, substituindo-a pela justiça dos tribunais. Buscando "desbarbarizar" velhos hábitos, as máximas do grandioso Templo Délfico pregam a sabedoria,o meio-termo, o equilíbrio, a moderação. O (gnôthi s'autón), "conhece-te a ti mesmo" e o (medèn ágan), o "nada em demasia" são um atestado bem nítido da influência ética e moderadora do deus Sol.

E como Heráclito de Éfeso (Séc. V a.e.c.), já afirmara que "a harmonia é resultante da tensão entre contrários, como a do arco e da lira, Apolo foi o grande harmonizador dos contrários, por ele assumidos e integrados num aspecto novo. "A sua reconciliação com Dionisio", Salienta M. Eliade, "faz parte do mesmo processo de integração que o promovera a padroeiro das purificações depois do assassinato de Píton. Apolo revela aos seres humanos a trilha que conduz da 'visão' divinatória ao pensamento. O elemento demoníaco, implicado em todo conhecimento do oculto, é exorcizado. A lição apolínea por excelência é expressa na famosa fórmula de Delfos: 'Conhece-te a ti mesmo'. A inteligência, a ciência, a sabedoria são consideradas modelos divinos, concedidos pelos deuses, em primeiro lugar por Apolo. A serenidade apolínea torna-se, para o homem grego, o emblema da perfeição espiritual e, portanto, do espírito. Mas é significativo que a descoberta do espírito conclua uma longa série de conflitos seguidos de reconciliação e o domínio das técnicas extáticas e oraculares".

Deus das artes, da música e da poesia, é bom que se repita, as musas jamais o abandonaram. Note-se, a esse respeito, que os Jogos Píticos, ao contrário dos Olímpicos, cuja tônica eram os concursos atléticos, deviam seu esplendor sobretudo às disputas musicais e poéticas. Em Olímpia imperavam os músculos; em Delfos, as Musas.

Em síntese, temos de um lado Geia e o dragão Píton; de outro, o omphalós, Apolo e sua Pitonisa. Ora, se examinarmos as coisas mais de perto, vamos encontrar em Delfos o seguinte fato incontestável: Apolo com seu culto implantou-se no monte Parnaso, porque substituiu a mântica ctônia, por incubação, pela mântica por inspiração, embora se deva observar que se trata tão-somente da substituição de um interior por outro interior: do interior da Terra pelo interior do homem, através do "êxtase e do entusiasmo" da Pitonisa, assunto aliás controvertido e que se tentará explicar. Ademais disso, convém repetir, os gregos sempre ligaram Delfos a delphýs, útero, e a descida da sacerdotisa ao ádyton é um símbolo claro de uma descida ritual às regiões subterrâneas.

 

O tipo de Apolo – Esplendente é o epíteto que se dá a Apolo, considerado deus solar. Apolo atira ao longe as suas setas, porque o sol dardeja ao longe os seus raios. É o deus profeta, porque o sol ilumina na sua frente e vê, por conseguinte, o que vai suceder; é o condutor das Musas e o deus da inspiração, porque o sol preside às harmonias da natureza; é o deus da medicina, porque o sol cura os doentes com o seu benéfico calor.

Apolo, o Sol, o mais belo dos poderes celestes, o vencedor das trevas e das forças maléficas, tem sido representado pela arte sob vários aspectos. Nos tempos primitivos, um pilar cônico, colocado nas grandes estradas, bastava para lembrar o poder tutelar do deus.

Quando nele se pendem as armas, é o deus vingador que premia e castiga; quando nele se pendura uma cítara, torna-se o deus cujos harmoniosos acordes devolvem a calma à alma agitada.

O Apolo de Amicleu, reproduzido em medalhas, pode dar uma idéia do que eram, na época arcaica, as primeiras imagens do deus, sensivelmente afastadas do tipo que a arte adotou mais tarde. Em bronzes de data menos antiga, mas ainda anteriores à grande época. Apolo está representado com formas mais vigorosas do que elegantes, e os anéis achatados da sua cabeleira o aproximam um pouco das figuras de Hermes.

No tipo que tem dominado, Apolo usa cabelos longuíssimos, separados por uma risca no meio da cabeça e afastados de cada lado da testa. Às vezes, eles se prendem atrás, na nuca, mas, outras, flutuam. Vários bustos e moedas nos mostram tais diferentes aspectos.

"A figura oval-alongada, diz Ottfried Mueller, que o cróbilo freqüentemente colocado sobre a testa mais ainda alonga, servindo, por assim dizer, de topo à figura inteira que parece aspirar à morada divina, revela uma doce plenitude, uma energia completa e uma força cheia de maturidade. Em todas as feições respira um sentimento elevado, altivo e franco, sejam quais forem as modificações a que o artista submete a ideal figura. As formas dos membros são delgadas e moles ; os quadris altos as coxas longas; os músculos, sem serem salientes, e muito ao contrário bem fundidos na massa do corpo, são, no entanto, suficientemente ressaltados para porem em evidência a maleabilidade do corpo e o vigor dos seus movimentos."

Apolo é sempre representado jovem e imberbe, porque o sol não envelhece. Algumas das suas estátuas o mostram até com os caracteres da adolescência, por exemplo o Apollino de Florença. No Apolo Sauróctone, o jovem deus está acompanhado de um lagarto, que ele sem dúvida acaba de excitar com a flecha para o arrancar ao torpor e obrigá-lo a caminhar. Apolo, nesse caráter, é considerado o sol nascente, ou o sol da primavera, porque a presença do lagarto coincide com os seus primeiros raios.

O grifo é um animal fantástico, que vemos freqüentemente perto da imagem do deus ou atrelado ao seu carro. Tem a cabeça e as asas de águia, com corpo, patas e cauda de leão. Os grifos têm por missão guardar os tesouros que as entranhas da terra ocultam, e é para obter o ouro de que são detentores, que os Arimaspes lutam constantemente contra eles. Os combates constituem o tema de grandíssimo número de representações, principalmente em terracotas ou em vasos. Os Arimaspes são guerreiros fabulosos, que usam vestes análogas às das amazonas. Uma pintura de vaso no-los mostra combatendo grifos, providos de cristas e penachos.



Jacinto - Teve Apolo vários amigos, entre outros Jacinto, jovem lacedemônio dotado de maravilhosa beleza. "Um dia, diz Ovídio, por volta do meio-dia, após tirarem as vestes e fazerem escoar pelos membros o lúcido suco da oliva, o jovem e o deus desafiaram-se para um jogo de disco. Apolo começa; o seu disco parte, fende a nuvem e só cai sobre a terra muito tempo depois; o deus pretendia demonstrar toda a sua habilidade e força. Arrebatado pelo ardor do jogo, o jovem corre a recolher o disco; mas, repelido pela terra, o disco salta e bate-lhe em pleno rosto ; ) adolescente empalidece, e o próprio deus empalidece; Apolo acorre, aperta entre os braços o infeliz Jacinto e estanca-lhe o sangue da ferida; emprega todos os recursos da sua arte para conservar-lhe a vida. Mas é em vão! O ferimento era mortal. Assim como vemos o lírio, a papoula e a violeta, cuja haste se partiu, curvar-se para ) chão, agonizantes, a cabeça do jovem Jacinto, já coberta peja palidez da morte, cai-lhe sobre os ombros ... Enquanto Apolo se entrega à dor, o sangue espalhado pela relva desaparece; uma flor nova nasce, uma flor mais brilhante que a púrpura e de formato semelhante ao do lírio. Não basta ao deus prestar tão triste homenagem à memória do amigo; quer ainda que aquela flor prove para sempre o seu infortúnio; liga-lhe a expressão e os sinais da dor, traçando nela as letras Ai!" (Ovídio).

O jacinto de Peloponeso tem matiz escuro; os antigos o consideravam emblema da morte.

Uma estátua de Apolo foi erguida em Amicleu sobre o túmulo de Jacinto, e no pedestal, via-se num baixo-relevo o jovem levado ao céu. Uma linda pedra gravada mostra Jacinto durante a sua metamorfose em flor. Há no Louvre, no museu de escultura, uma estátua de Callamard que representa Jacinto levando a mão ao ferimento que acaba de receber na testa : o disco que o feriu está-lhe aos pés. Bosio, numa encantadora estátua, esculpiu Jacinto semideitado e vendo Apolo atirar, enquanto aguarda a sua vez.

Hinos:

Hino a Apolo II, de Calímaco
Como se agita o rebento de loureiro de Apolo!
Como treme todo o templo! Fora, fora com os males!
Deve ser Febo que pontapeia a porta com o seu belo pé.
Não vedes? A palmeira de Delos acena levemente,
De repente; o cisne canta de modo belo no ar.
Trancas das portas, retirai-vos.
Chaves – abri as portas! Pois o Deus já não está longe.
(Callimachus, Hymns and Epigramns.Lycophrom. Aratus Loeb classical Library volume 129, postado por Antonio)

Hino Homérico a Apolo Délio:
...e logo aos imortais disse Febo Apolo:
"Seja-me dada minha cítara querida e meu arco recurvo;
anunciarei por oráculo aos homens o desígnio infalível de Zeus."
Assim tendo falado, andou pela terra de largos caminhos
o arqueiro Febo de longos cabelos; então todas
as imortais o admiravam, e Delos inteira de ouro
se cobriu, contemplando o filho de Zeus e Leto,
com alegria porque o deus escolheu tomá-la para morada
e porque às ilhas e ao continente ele a preferiu de coração;
ela floriu, como o cimo de uma montanha na floração de seu bosque.
(tradução de Daisi Malhadas e M.H.Moura Neves)

Hino Órfico 33 a Apolo, com incenso de Maná
Vem, venturoso Peã, assassino de Tício, Iê Febo,
de Licórea e de Mênfis, de muitas honras e dador de fortuna,
Pítio Titã, da áurea lira e do arado, semeador,
Grineu, Esminteu, assassino de Píton, délfico profeta,
feroz nume lucífero, amado e ínclito jovem, (5)
†líder das musas, regente dos coros, arqueiro que acerta ao longe,
amante de Branco, Dídimo, puro, Oblíquo [Lóxias] † que age ao longe,
soberano de Delos, onividente de luzeiros olhos aos mortais,
de áureos cabelos, declarando oráculos e augúrios imáculos,
ouve as minhas preces pelo povo, com um benévolo coração:
toda a vastidão infinita do Éter tu perscrutas
do alto da rica Terra [Gaia] e através do crepúsculo;
nas sombras silentes da noite contemplas as raízes
do solo com olhar astral, e deténs os confins do cosmo
todo: são teus o princípio e o fim das coisas que virão;  (15)
todo viçoso tu harmonizas a esfera celeste
com tua cítara multivibrante, ora alcançando os mais baixos acordes,
ora outra vez os mais sublimes, em dórica melodia harmônica.
Mesclando toda a esfera celeste, discernes as raças viventes
e com harmonia infundes um destino pancósmico as homens,  (20)
distribuindo o inverno e o verão, ambos igualmente:
com os mais baixos acordes, escolhes o inverno; o verão, com os mais sublimes
e tangendo uma melodia dórica, a flor da primavera amorosa.
Por isso os mortais dão-te o nome de soberano,
e de Pan, deus bicórneo, quando envias ventos silvantes,
porque tens o selo e o molde de todo o cosmo.
Ouve, venturoso, guardando os mistérios com súplice voz.
(Tradução de Rafael Brunhara)

Hino Homérico XXV: Às Musas e Apolo
Que pelas Musas eu comece e por Apolo e Zeus.
Pelas Musas e pelo flechicerteiro Apolo
homens aedos sobre a terra há e citaredos
e por Zeus reis. Feliz quem as Musas
amam: doce lhes flui da boca a voz.
Salve, filhas de Zeus, e honrai minha canção
Depois eu vos lembrarei também em outra canção.
(Tradução de Jaa Torrano)

Peã a Apolo de Arístono
Residente eterno da pedra délfica, sede profética do oráculo pítico de sagrada fundação,iê iê Peã, eu te invoco ó Apolo,venerável objeto de orgulho de Leto, filha de Ceos, e pela vontade de Zeus, supremo entre os deuses,ô iê Peã.
Onde dos tripés forjados pelos deuses, brandindo galhos de loureiros recém-colhidos, tu exerces a arte profética, iê iê Peã,daquela parte do templo que,sendo a mais recôndita,inspira calafrio:leis pias que governam o futuro ao som de oráculos e da voz da lira de língua melodiosa,ô iê Peã.
Purificado no vale de Tempe pela vontade de Zeus sublime, depois do que Palas te conduziu a Pito, iê iê Peã, tu deténs a eterna sede perfumada após haver persuadidoGaia nutriz de flores ,e Têmis de bela cabeleira ,ô iê Peã.
Daí,retribuindo Tritogênia com recompensas imortais tu lhe conferes um local de privilégio no limiar do teu templo sagrado,iê iê Peã; em gratidão a graças passadas que tu sempre manténs na memória , a ela tu concedes sem cessar honras sublimes,ô iê Peã.
Os deuses te dão presentes , Posêidon um terreno sagrado , as Ninfas uma gruta corícia ,iê iê Peã,Dioniso folias à luz de tochas, e a venerável Ártemis patrulha a região com a sua matilha de cães bem treinados, ô iê Peã.
Sendo assim, tu que adorna o teu corpo na torrente da castália que descem a vertentes do Parnaso ,iê iê Peã, recebe esse nosso hino e nos dá para sempre fortuna fundada no decoro, e também nos protege sem cessar, ô iê Peã.
(Furley-Breme, 2001, vol 2, tradução de José M. Macedo, enviado por Antonio)

Peã a Apolo e Asclépio, de Macedônico

Louvai em hino o délio filho de Zeus do arco de prata com corações alegres e vozes de bom augúrio- iê Peã ! Ponde o ramo de súplica nas mãos,luzente rebento da bela oliveira e do loureiro, jovens atenienses-iê Peã ! Jovens, que ressoe o vosso impecável hino para o filho de Leto que atira longe, famoso líder das Musas-iê Peã !- , o salvador que outrora gerou aquele que cura doenças e misérias, Asclépio, deus jovem e alegre- iê ô iê Peã !-
(Inscrição encontrada no final do século XIX no Asclepiéion de Atenas. Edição de Furley-Bremer (2001), vol. 2, 228-9. Tradução de José.M.Macedo. Enviado por Antonio)

Hino Mágico a Apolo
Loureiro, planta do dom profético de Apolo, cujas folhas ele saboreou certa feita e revelou canções- tu mesmo e ninguém mais, senhor que empunha o cetro, iêio, nobre Pêan que habita colofonte, dá ouvidos à canção sagrada; vem rápido, baixa do céu sobre a terra e junta-te a mim,põe- te ao meu lado e insufla-me canções da tua boca imortal, tu mesmo e ninguém mais,senhor da canção,vem !,nobre senhor da canção.
Escuta, bem- aventurado, deus de pesada fúria e espírito poderoso, escuta, Titã! Não ignores agora a minha voz, ó deus imperecível!
Põe-te ao meu lado, declara a profecia de tua boca imortal ao teu suplicante, rápido imaculado Apolo!
(Ελληνικοί Μαγικοί Πάπυροι, em - Preisendanz, K., Albert Henrichs (1974-1974 second ed.) Papyri Graecae Magicae. Die Griechischen Zauberpapyri. (2 vols) Stuttgart: Teubner, em alemão. Tradução de José M. Macedo, enviado por Antonio.)

Hino Órfico XXXIII - A Apolo, com fumigação de Maná:
Abençoado Peã, venha, propício à minha prece, ilustre poder, a quem as tribos de Memphis reverenciam,
Assassino de Tityus, e Deus da saúde, Febo licoriano, fonte frutífera de prosperidade.
Espermático, da lira dourada, os campos de ti recebem sua fertilidade rica e constante.
Titânico, Gruniano, Sminthiano, a ti eu canto, destruidor de Python, consagrado, rei délfico:
Rural, portador da luz, chefe das Musas, nobre e amável, armado com temíveis flechas:
O que atira longe, Báquico, duplo, e divino, o poder difundido e o curso oblíquo são teus.
Ó, rei Délio, cujo olho produtor de luz vê tudo o que há dentro e tudo abaixo do céu:
Cujas mechas são douradas, cujos oráculos são certeiros, que revela bons presságios e puros preceitos:
Ouça-me suplicante pela espécie humana, ouça, e esteja presente com mente benigna;
Pois tu sobreviveste a todo esse ilimitado éter, e cada parte dessa esfera terrestre,
Abundante, abençoado; e tua visão penetrante se estende sob a noite silenciosa e lúgubre;
Além da escuridão estrelada e profunda, o estábulo se enraiza, fixado fundo por ti.
Os limites largos do mundo, todo-florescentes, são teus, a ti toda a fonte e término divino:
A ti toda a música inspiradora da Natureza, com vários sons da harmoniosa lira;
Agora a última corda tu entoaste em um doce acorde, divinamente trinando o acorde mais agudo;
A lira dourada imortal, agora tocada por ti, responde cedendo à melodia dórica.
Todas as tribos da Natureza a ti devem suas diferenças, e as mudanças de estações fluem de tua música.
Assim, misturados por ti em partes iguais, avançam o verão e o inverno em dança alternada;
Isto clama tanto a mais aguda quanto a mais grave corda, os tons de medida dórica, a amável primavera.
Assim, pela humanidade, o divino Pã, nomeado de dois cornos, emite ventos uivantes através da famosa Siringe;
Uma vez que, a teus cuidados, são consignados os selos figurados que estampam o mundo com formas de todo o tipo.
Ouça-me, abençoado poder, e nestes ritos se rejubile, e salve teus místicos com uma voz suplicante.

Hino Homérico XXI - A Apolo
Febo, a ti até os cisnes cantam com voz clara e batem suas asas quando se deparam com a margem do turbilhante rio Peneus; e é a ti que o menestrel de língua doce, segurando sua lira aguda, sempre canta tanto primeiro quanto por último. E então saúdo a ti, ó deus! Busco o teu favor na minha canção.

Hino Homérico XXV - Para as Musas e Apolo
Eu começarei com as Musas e Apolo e Zeus; pois é por causa das Musas e de Apolo que existem cantores na terra e tocadores de lira, mas os reis são de Zeus.
Feliz é quem as Musas amam: a doçura faz fluir discursos de seus lábios. Saúdo-vos, filhas de Zeus! Honrem a minha canção! E agora me lembrarei de vós e de outra canção também. (traduções da Alexandra)
Hino Órfico 34: Apolo
<Ἀπόλλωνος>, θυμίαμα μάνναν.

Ἐλθέ, μάκαρ, Παιάν, Τιτυοκτόνε, Φοῖβε, Λυκωρεῦ,
Μεμφῖτ', ἀγλαότιμε, ἰήιε, ὀλβιοδῶτα,
χρυσολύρη, σπερμεῖε, ἀρότριε, Πύθιε, Τιτάν,
Γρύνειε, Σμινθεῦ, Πυθοκτόνε, Δελφικέ, μάντι,
ἄγριε, φωσφόρε δαῖμον, ἐράσμιε, κύδιμε κοῦρε, (5)
† μουσαγέτα, χοροποιέ, ἑκηβόλε, τοξοβέλεμνε,
Βράγχιε καὶ Διδυμεῦ, † ἑκάεργε, Λοξία, ἁγνέ,
Δήλι' ἄναξ, πανδερκὲς ἔχων φαεσίμβροτον ὄμμα,
χρυσοκόμα, καθαρὰς φήμας χρησμούς τ' ἀναφαίνων·
κλῦθί μου εὐχομένου λαῶν ὕπερ εὔφρονι θυμῶι· (10)
τόνδε σὺ γὰρ λεύσσεις τὸν ἀπείριτον αἰθέρα πάντα
γαῖαν δ' ὀλβιόμοιρον ὕπερθέ τε καὶ δι' ἀμολγοῦ,
νυκτὸς ἐν ἡσυχίαισιν ὑπ' ἀστεροόμματον ὄρφνην
ῥίζας νέρθε δέδορκας, ἔχεις δέ τε πείρατα κόσμου
παντός· σοὶ δ' ἀρχή τε τελευτή τ' ἐστὶ μέλουσα, (15)
παντοθαλής, σὺ δὲ πάντα πόλον κιθάρηι πολυκρέκτωι
ἁρμόζεις, ὁτὲ μὲν νεάτης ἐπὶ τέρματα βαίνων,
ἄλλοτε δ' αὖθ' ὑπάτης, ποτὲ Δώριον εἰς διάκοσμον
πάντα πόλον κιρνὰς κρίνεις βιοθρέμμονα φῦλα,
ἁρμονίηι κεράσας {τὴν} παγκόσμιον ἀνδράσι μοῖραν, (20)
μίξας χειμῶνος θέρεός τ' ἴσον ἀμφοτέροισιν,
ταῖς ὑπάταις χειμῶνα, θέρος νεάταις διακρίνας,
Δώριον εἰς ἔαρος πολυηράτου ὥριον ἄνθος.
ἔνθεν ἐπωνυμίην σε βροτοὶ κλήιζουσιν ἄνακτα,
Πᾶνα, θεὸν δικέρωτ', ἀνέμων συρίγμαθ' ἱέντα· (25)
οὕνεκα παντὸς ἔχεις κόσμου σφραγῖδα τυπῶτιν.
κλῦθι, μάκαρ, σώζων μύστας ἱκετηρίδι φωνῆι.

De Apolo; fumigação: Incenso.

Vem, venturoso Peã, assassino de Tício, Iê Febo,
de Licórea e de Mênfis, de muitas honras e dador de fortuna,
Pítio Titã, da áurea lira e do arado, semeador,
Grineu, Esminteu, assassino de Píton, délfico profeta,
feroz nume lucífero, amado e ínclito jovem, (5)
†líder das Musas, regente dos coros, arqueiro que acerta ao longe,
amante de Branco, Dídimo, puro, Oblíquo [Lóxias] † que age ao longe,
soberano de Delos, onividente de luzeiros olhos aos mortais,
de áureos cabelos, declarando oráculos e augúrios imáculos,
ouve as minhas preces pelo povo, com um benévolo coração:
toda a vastidão infinita do Éter tu perscrutas
do alto da rica Terra [Gaia] e através do crepúsculo;
nas sombras silentes da noite contemplas as raízes
do solo com olhar astral, e deténs os confins do cosmo
todo: são teus o princípio e o fim das coisas que virão;  (15)
todo viçoso tu harmonizas a esfera celeste
com tua cítara multivibrante, ora alcançando os mais baixos acordes,
ora outra vez os mais sublimes, em dórica melodia harmônica.
Mesclando toda a esfera celeste, discernes as raças viventes
e com harmonia infundes um destino pancósmico as homens,  (20)
distribuindo o inverno e o verão, ambos igualmente:
com os mais baixos acordes, escolhes o inverno; o verão, com os mais sublimes;
e tangendo uma melodia dórica, a flor da primavera amorosa.
Por isso os mortais dão-te o nome de soberano
e de Pan, deus bicórneo, quando envias ventos silvantes,
e porque tens o selo e o molde de todo o cosmo.
Ouve, venturoso, guardando os mistérios com súplice voz.
[Tradução de Rafael Brunhara]

Fontes:
Templo de Apolo,
Helenos,
Primeiros escritos


2 comentários:

O Salgueiro.

Não há desmerecimento às outras árvores quando o salgueiro é referido como sagrado, pois a árvore carrega este título desde tempos lo...