sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Atena, Senhora da Guerra e da Sabedoria.


Atena (no grego ático: Αθηνά, transl. Athēnā ou Aθηναία, Athēnaia), também conhecida como Palas Atena (Παλλάς Αθηνά) é, na mitologia grega, a deusa da civilização, da sabedoria, da estratégia em batalha, das artes, da justiça e da habilidade.

Domínios: Artes bélicas, Heroísmo, Conselho, Cerâmica, Tecelagem, Azeitona & Azeite.
Animais: Mocho-galego, Coruja-buraqueira, Corvo, Cobra.
Plantas: Oliveira.
Símbolos: Elmo grego, Égide (armadura de pele de cabra), Lança.

 
Ofertas: Óleo de oliva, folhas e ramos de oliveira, ervas aromáticas, amendoeira, carvalho, linho, lã, rubi-estrela, turquesa, amaranto, lírio-tigrino, gerânio, teixo, gálbano, assafétida, escamônea.

Epítetos: Aglauros (Orvalhada), Agoraia (do Mercado), Aithuia (Pássaro marinho), Alalkomene (Que repele o perigo), Alea (Protetora), Apatouria (do festival Apatouria), Areia (Bélica), Boulaia (do Conselho), Ergane (Trabalhadora), Glaukopis (Olhos cinza, de coruja), Gorgopis (Com olhos de górgona), Hellotis (Rosto largo), Hephaistia (de Hefesto), he Theos (a Deusa), Hippia (De cavalos), Hugieia (Saúde), Itonia (de Itonos) Khalinitis (Da rédea), Khalkioikos (Habitante de uma casa de bronze), Khruse (Dourada), Kourotrophos (Protetora da juventure), Kranaia (Cumpridora, executora), Meter (Mãe), Nike (Vitória), Nikephoros (Que traz a vitória), Pallas (nome alternativo), Panakhais (deusa da Liga Akhaean), Pandrosos (Toda-orvalhada), Parthenos (A virgem), Phatria (Da frátria), Poliakhos (Urbana), Polias (da Cidade), Polumetis (De muitos conselhos), Promakhos (Campeã), Pronoia (Providência), Salpinx (Trompete de guerra), Sophia (Sabedoria), Soteria (Salvadora), Sthenias (Poderosa), Tritogeneia (Nascida no lago Triton).

Como deusa da guerra, Atena é a perfeita antítese de Ares, o outro deus encarregado desta atividade. Atena é dotada de profunda sabedoria e conhece todas as artes da estratégia, enquanto que Ares carece de todo bom juízo, prima pela ação impulsiva, descontrolada e violenta, e às vezes, no calor do combate, mal sabe distinguir entre aliados e inimigos. Por isso Ares é desprezado por todos os deuses, enquanto que Atena é universalmente respeitada e admirada. A falta de sabedoria de Ares explica sua invariável derrota sempre que confrontou Atena. O princípio simbolizado por Ares é por vezes mais necessário quando se trata de desbravar um território hostil e fundar ou conquistar uma cidade, ou quando a violência é absolutamente incontornável diante de uma situação desesperada, mas é incapaz de criar cultura e civilização e manter a sociedade numa forma estável, integrada e organizada. Este papel cabe a Atena, a deusa da sabedoria, da diplomacia, da coesão social - lembre-se que ela é a protetora por excelência das cidadelas, o núcleo vital das cidades -, instrutora nas artes e ofícios manuais produtivos, especialmente o trabalho em metal e a tecelagem, que enriquecem o espírito e possibilitam a continuidade da vida em comunidade. Ela torna a guerra um instrumento social e político submetido ao intelecto, à disciplina e à ordem, antes do que um produto da pura barbárie e das paixões irracionais. As próprias derrotas repetidas de Ares diante de Atena, seu atributo como domadora de cavalos e, na disputa pela Ática, sua vitória contra Posídon, um deus conhecido por seu caráter turbulento, vingativo e irascível, confirmam a submissão da força bruta à soberania e ao equilíbrio da justiça e da razão. Entretanto, quando decide lutar nela não se encontra nenhuma hesitação ou fraqueza, e sua simples presença pode bastar para afugentar o inimigo.

Na qualidade de guerreira Atena é invencível e pode ser tão implacável quanto Ares, mas isso não a priva de traços mais doces, o que Ares não possui. Vários episódios do seu mito a mostram em relações afetuosas com seu pai e com os seus protegidos, e sua fidelidade e devoção podem ser profundas. Ela tem ainda um inigualável senso de justiça e, como a virgem divina, de pureza, como provou várias vezes: puniu personagens tomados pela húbris ou que profanaram seus templos, protegeu donzelas prestes a serem violadas e foi dura contra o comportamento indigno dos pretendentes de Penélope, além de ter corrigido várias injustiças, como quando devolveu a vida a Perdix, que fora morto por seu tio invejoso, ou quando, num julgamento público em Atenas, seu voto dissolveu a maldição que caíra sobre Orestes, perseguido pelas Fúrias por conta do matricídio que cometera cumprindo uma ordem direta de Apolo. Por esta razão Atena é considerada a divindade tutelar dos julgamentos e dos júris, e a fundadora mítica das cortes de justiça ocidentais, substituindo a tradicional punição por vingança pela penalidade baseada em princípios consagrados num sistema legal formalizado.

Palas Atena, Atena Polías, era a defensora e a garante de Atenas. Lá de cima da Acrópole, contemplando sua Cidade, transmitiu-lhe pelos lábios de Ésquilo, seu discurso de paz, de liberdade, de justiça e de democracia. Era o fecho do julgamento de Orestes, perseguido pelas Erínias. Vencendo-as, Atena, mais uma vez, dessa feita com o escudo da razão, restabeleceu o domínio da ordem sobre o Caos, da luz sobre as trevas, do primado do ius fori (do direito do homem) sobre o ius poli (o direito das trevas).

Eis seu discurso:
“Ouvi agora o que estabeleço, cidadãos de Atenas, que julgais a primeira causa de sangue. Doravante o povo de Egeu conservará este conselho de Juízes, sempre renovado, nesta Colina de Ares. Nem anarquia, nem despotismo, esta é a norma que a meus cidadãos aconselho observarem com respeito.
Se respeitardes, como convém, esta augusta instituição, tereis nela baluarte para o país, salvação para a Cidade, Incorruptível, venerável, inflexível, tal é o Tribunal, que aqui instituo para vigiar, sempre acordado, sobre a Cidade que dorme.”

Tendo como um de seus símbolos a oliveira, que oferecera como seu presente à cidade de Atenas em sua fundação, Atena era uma imagem da perenidade e vitalidade da pólis, e protetora de um dos seus produtos agrícolas mais importantes, o óleo de oliva, e tornou-se uma poderosa imagem de esperança e renovação para os gregos especialmente depois da guerra com os persas, quando a antiga oliveira sagrada da acrópole, incendiada no saque da cidade pelos inimigos, voltou a brotar. A ela era consagrado um olival na área da Academia, que produzia o óleo oferecido como prêmio aos vencedores dos jogos atléticos de seus festivais. A oliveira era ainda um dos indicativos da sua ligação com a fertilidade da terra e com a agricultura, aspectos que estavam por sua vez ligados ao lado feminino da natureza, o que conduz a outra das ambiguidades de Atena a respeito da dinâmica dos princípios da geração e da virgindade, do masculino e do feminino, em sua própria identidade, que era fortemente andrógina e paradoxalmente encontrava escasso paralelo na sociedade grega e em especial nas mulheres de seu tempo. Para aqueles gregos era fundamental que suas filhas permanecessem virgens até o casamento, mas era também fundamental que depois elas fossem capazes de constituir família gerando prole. Atena, a sempre virgem, repudiava desta forma valores básicos da sociedade grega. Guerreira, altiva e independente, também contrastava com o hábito da época que mantinha as mulheres em grande parte submissas ao homem, confinadas a atividades domésticas e delas exigia modéstia, mas por outro lado era a patrona da tecelagem, da fiação e do bordado, artes eminentemente femininas. Sua maior aproximação da maternidade foi a adoção e educação de Erictônio, e por isso foi chamada de kourotrophos, a que cria os homens jovens, mas também isso a conduziu a um maior contato com o princípio viril, como protetora de heróis.

A ave predileta da deusa era a coruja, símbolo da reflexão que domina as trevas; sua árvore favorita, a oliveira.

A coruja em grego (glaúks), etimologicamente, "brilhante, cintilante", porque enxerga nas trevas; em latim noctua, "ave da noite", era, como se viu, consagrada a Atena. Ave noturna, relacionada, pois, com a lua, a coruja não suporta a luz do sol, opondo-se desse modo, à águia, que a recebe de olhos abertos. Deduz-se, daí que o mocho, em relação a Atena, é o símbolo do conhecimento racional com a percepção da luz lunar por reflexo, opondo-se, destarte, ao conhecimento intuitivo com a percepção direta da luz solar. Explica-se talvez, assim, o fato de ser a coruja um atributo tradicional dos mânteis, dos adivinhos, simbolizando-lhes o dom da clarividência, mas através de sinais que os mesmos interpretam. Noctua, ave das trevas, ctônia portanto, a coruja é uma excelente conhecedora dos segredos da noite. Enquanto os homens dormem, ela fica de olhos abertos, bebendo os raios da lua, sua inspiradora. Vigiando os cemitérios ou atenta aos cochichos da noite, essa núncia das trevas sabe tudo o que se passa, tendo-se tornado em muitas culturas uma poderosa auxiliar da mantéia, da mântica, da arte de adivinhar. Daí a tradição segundo a qual quem come carne de coruja participa de seus poderes divinatórios, de seus dons de previsão e presciência.
No mito grego a coruja é representada por Ascálafo, que, tendo denunciado a Perséfone, foi transformado em mocho.

Nascimento de Atena:
Métis, a reflexão personificada, fora a primeira esposa de Zeus. Foi ela que deu ao velho Crono uma beberagem para obrigá-lo a devolver os jovens deuses que ele havia engolido. Estando grávida, predisse a Zeus que teria em primeiro lugar uma filha e, em seguida, um filho que se tornaria senhor do céu. O rei dos deuses, espantado com tal profecia, engoliu Métis,

Algum tempo depois, foi acometido de violentíssima dor de cabeça e rogou a Hefesto que lhe fendesse a cabeça com o machado.

Mal recebeu o golpe de machado de Hefesto, saiu-lhe do cérebro, armada de todas as suas peças, a filha Atena, nova encarnação da sabedoria divina. Essa lenda, de caráter assaz bárbaro e, por conseguinte, velhíssima, está representada de maneira ingênua num baixo-relevo onde, extraordinariamente, Hefesto é um rapaz imberbe.

Num espelho etrusco vemos Ilitia, a deusa dos partos assistindo ao rei dos deuses e tirando-lhe da cabeça Atena, que sai armada do capacete e da lança. No outro lado está Afrodite que também parece acorrer em auxílio a Zeus e atrás da qual vemos, empoleirada numa árvore, a pomba que lhe é consagrada. Tais divindades trazem os seus nomes gravados no espelho em língua etrusca.

O mesmo tema decorava um dos frontões do Partenão, mas é provável que o nascimento estivesse ali concebido de maneira inteiramente diversa. Infelizmente, nada resta da parte central do frontão em que tal cena estava representada.

Zeus é a abóbada do céu donde jorra o raio luminoso e súbito; como é também o senhor dos deuses, a sua sabedoria não vacila absolutamente em lhe brotar do cérebro divino. Atena devia, pois, nascer inteiramente armada e provida de todos os seus atributos. É assim que no-la apresentam as estátuas, muitas vezes com a lança e o escudo, mas sempre com o capacete e a égide.

Luciano narrou o nascimento de Atena sob forma de diálogo:
"Hefesto. — Que devo fazer, Zeus? Venho, por ordem tua, armado de um machado afiadíssimo e que, se houvesse necessidade, seria capaz de partir, de um só golpe, a mais dura das pedras.
Zeus. — Ótimo, Hefesto! Parte-me, pois, a cabeça.
Hefesto. — Queres submeter-me a uma prova, ou estás louco? Dá-me uma ordem séria, dize o que queres que eu faça!
Zeus, — Já te disse, parte-me a cabeça; bate com toda a força e sem demora; não posso viver com as dores que me dilaceram o cérebro.
Hefesto. — Acautela-te, Zeus. Quem sabe se não vamos cometer uma asneira? O meu machado é afiadíssimo, fará com que te corra o sangue e não te libertará à guisa de Lucina.
Zeus. — Bate, vamos, Hefesto! Nada temas. Sei o que quero.
Hefesto. — Bato, mas contra a vontade. Que me resta, se assim me ordenas?... Que estou vendo? Uma jovem armada da cabeça aos pés! Safa, que dor de cabeça não devia ser a tua, Zeus! Não é de assombrar que te hajas mostrado irascível, se trazias viva, sob a membrana do teu cérebro, uma jovem desta estatura, e, ainda por cima, armada. Não sabíamos que tinhas na cabeça um verdadeiro campo. Olha, ela salta ! Ei-la que dança a pírrica, agita o escudo, brande a lança, e está dominada pelo entusiasmo. O que é mais estranho é que, de súbito, se tornou belíssima e pronta para casar. É verdade que tem olhos cinzentos, mas o capacete compensa esse defeito. Zeus, como pagamento pelo serviço que te prestei, cede-ma por esposa.
Zeus. — Tu me pedes o impossível, Hefesto; ela quer permanecer virgem para sempre. Quanto a mim, não me oponho ao que desejas.
Hefesto. — É o que quero. O resto fica por minha conta. Vou levá-la.".

Nascimento de Erecteu:
Hefesto pôs-se imediatamente a procurar Atena. e, certo de que ela estivesse na Acrópole, rumou para Atenas. Mal a percebeu, colocou-se-lhe na frente e quis dar os passos necessários. Mas a deusa o recebeu de maneira tal que lhe tirou qualquer desejo de recomeçar. O sêmen do deus lhe caiu numa das pernas. Atena retirou-o com um floco de algodão, que foi lançado na terra, que, fecundada, deu à luz um menino. Dessa união nasceu Erecteu, que mais tarde se tornou rei de Atenas.

A Terra, mal gerou Erecteu, deixou o recém-nascido no chão, sem mais com ele preocupar-se, como se fosse uma simples cobra ou um verme. Atena, percebendo-o, compadeceu-se e, pegando-o, pô-lo num cesto e levou-o para o seu santuário. Mas, apesar de todo o seu bom coração, não conseguia livrar-se das preocupações guerreiras, e, estando a galgar a Acrópole levando o cesto, notou que a sua cidade não estava bastante fortificada do lado do Ocidente. Entrou na casa de Cécrops, que tinha três filhas, Pandrosa, Aglaura e Herse, e, confiando-lhes o cesto, muito bem fechado, proibiu-lhes que o abrissem para verificar o conteúdo, e imediatamente partiu em busca de uma montanha que julgava necessária para a fortificação da cidade. Quando partiu, Aglaura e Herse, impelidas pela curiosidade, pretenderam abrir o cesto, não obstante as censuras de Pandrosa. Mas uma gralha, que tudo vira, foi contar o fato a Atena, que já segurava a montanha entre os braços e que fortemente surpresa, a deixou cair. Eis aí a origem do monte Licabeto.
Diz-se que, como punição de três princesas enlouqueceram e precipitaram do alto do rochedo da Acrópole. A partir de então, Atena se encarregou de educar seu filho no recinto sagrado de seu templo na Acrópole.

Disputa de Atena e Posidon:
Atenas tira o seu nome de, mas a honra de dar o nome à cidade que Cécrops acabava de fundar deu origem a uma famosa disputa entre Posidon e a deusa. Constituía ela o tema de um dos dois frontões do Partenão, esculpidos por Fídias e cujos fragmentos mutilados fazem hoje parte do Britsh Museum em Londres. Figura igualmente em moedas antigas.

Era preciso pôr a nova cidade sob a proteção de uma divindade. Decidiu-se que se tomaria por protetor da cidade o deus que produzisse a coisa mais útil. Posidon, batendo a terra com o tridente, criou o cavalo e fez jorrar uma fonte de água do mar, querendo com isso dizer que o seu povo seria navegador e guerreiro. Mas Atena domou o cavalo para o transformar em animal doméstico, e, batendo a terra com a ponta da lança, fez surgir uma oliveira carregada de frutos, pretendendo com aquilo mostrar que o seu povo seria grande pela agricultura e pela indústria.

Cécrops, embaraçado, consultou o povo, para saber a que deus preferia entregar-se. Contudo, não se tendo naqueles tempos tão remotos imaginado que as mulheres não pudessem tão bem quanto os homens exercer direitos políticos, todos votaram. Ora, sucedeu votarem todos os homens por Posidon e todas as mulheres por Atena; mas como entre s colonos que acompanhavam Cécrops, houvesse uma mulher mais, Atena raptou-a. Posidon protestou contra essa maneira de julgar a divergência, e apelou para o tribunal dos doze grandes deuses. Estes chamaram Cécrops como testemunha, e tendo sido a votação considerada regular, passou a cidade a ser consagrada a Atena. Os atenienses, no entanto, temendo a cólera de Posidon que já ameaçara engoli-los, ergueram na Acrópole um altar ao Olvido, monumento da reconciliação de Posidon e Atena; em seguida, Posidon participou das honras da deusa. Eis como os atenienses se tornaram um povo navegador e ao mesmo tempo agrícola e manufatureiro.

Atena e Encélades :
Atena participou da guerra dos deuses contra os gigantes e contribuiu poderosamente para a vitória de Zeus. Entre os inimigos por ela vencidos, o mais importante é Encélades. A força desse gigante era tal que, sozinho, poderia ter lutado contra todos os deuses juntos. Num momento em que Atena se achava distante dos companheiros de armas, Encélades, percebendo que ela estava sozinha. dá um salto e posta-se-lhe na frente. A deusa o vê sem empalidecer. reúne todas as forças e pegando com ambas as mãos a Sicília, atira-a sobre o gigante que fica esmagado sob a enorme massa. A queda de Encélades termina a guerra dos gigantes: às vezes tenta ele remexer-se, e é o que produz os tremores de terra da região. A sua cabeça está situada sob o monte Etna, por onde vomita chamas.

Atena, e Tirésias:
Virgem essencialmente casta, Atena aparece sempre vestida, e se os artistas dos últimos séculos a representam por vezes despida, notadamente no julgamento de Páris, é pela ignorância em que se encontram quase sempre dos caracteres distintivos da deusa. Um único homem, o tebano Tirésias, observou um dia Atena no banho, e foi imediatamente ferido de cegueira, ou, segundo outros, metamorfoseado em mulher. Uma bela estátua de Gatteaux representa a deusa no momento em que nota que está sendo observada por um homem.

Pradier fizera um diálogo de Atena repelindo as setas de Cupido: a idéia era justa mitologicamente. Afrodite ofendeu-se um dia pelo fato de seu filho nada poder contra a deusa ateniense:

"Afrodite. — Por que, pois, Eros, tu que venceste os demais deuses, Zeus, Posidon, Apolo, Réa, e eu própria, tua mãe, por que poupas apenas Atena? Contra ela o teu archote não tem fogo, a tua aljava não tem setas, tu não tens arco... Não sabes mais disparar uma seta?

Eros. — Tenho medo dela, minha mãe. Ela é terrível, os seus olhos são terríveis, o seu aspecto imponente e viril. Todas as vezes em que avanço contra ela para lançar-lhe uma seta, ela me espanta agitando a sua pena; tremo e as setas me fogem das mãos.

Afrodite. — Marte, por acaso, não é mais terrível? E, no entanto, tu o desarmaste e venceste.

Eros. — Sim, mas ele próprio é que se oferece aos meus golpes: chama-os. Atena, pelo contrário, sempre me fita com desconfiança; um dia, quando por acaso voava para ela, segurando o archote: "Se te aproximares de mim, disse-me, juro por meu pai que te varo com esta lança, pego-te pelo pé e atiro-te ao Tártaro, onde te dilacerarei com as minhas próprias mãos para matar-te." São essas as suas ameaças sem fim, e ao mesmo tempo lança sobre mim olhares furiosos ; traz, ademais, sobre o peito uma cabeça horrorosa, cuja cabeleira é feita de víboras e que sempre me causa o maior terror. Creio estar vendo um fantasma e fujo mal a percebo." (Luciano) .

Atena e Mársias:
Segundo uma velhíssima lenda, Atena, tendo encontrado um osso de cervo, dele se serviu para inventar a flauta. Mas notando que tal instrumento a obrigava a umas caretas que a afeavam, e que, quando pretendia tocar, as demais deusas se riam, atirou para longe a desastrada flauta, e proferiu a maldição mais terrível contra o que a recolhesse. O frígio Mársias, que muito provavelmente pouco se importava com a divindade de Atena, não atribuiu a menor importância a tais imprecações, recolheu o instrumento e conseguiu tocá-lo com grande perfeição. Havia na Acrópole de Atenas um grupo representando Atena a golpear Mársias, por ter ousado recolher a flauta por ela atirada para longe e que ela desejava fosse esquecida para todo o sempre. Num baixo-relevo, que está em Roma, vê-se Atena tocando a flauta dupla, e Mársias, sob a forma de um sátiro, a espreita para se apoderar do instrumento, no momento oportuno. Mais habitualmente, a deusa observa com atenção o que acaba de inventar. A mesma razão que a obrigou a renunciar ao uso de tal instrumento, impedia que os escultores a representassem com uma figura deformada e careteira.

Atena higéia:
Vimos a serpente aparecer entre os atributos de Atena. Essa serpente é habitualmente o emblema de Erecteu, que foi criado pela deusa. Mas Atena era, por vezes, invocada como protetora da saúde. Tinha então o nome de Atena higéia, e a serpente que ao seu lado surge come uma taça que a deusa segura com a mão, como se a serpente estivesse perto da companheira de Esculápio. Atena higéia está representada num baixo-relevo que decora um candelabro antigo do museu Pio-Clementino de Roma.

Atena obreira ou ergane:
Atena não é apenas guerreira. Dela é que nos vem à indústria, e por isso tem sido denominada Atena obreira. Laboriosa tanto quanto guerreira, enriquece as cidades que a honram ao mesmo tempo em que as protege. Ama a agricultura, e ensinou aos homens o uso da oliveira: é por tal motivo que essa árvore lhe é consagrada e que vemos figurar uma lâmpada entre os seus atributos. A arquitetura, a escultura, a mecânica cabem no domínio da deusa, que preside em geral a todos os trabalhos do espírito e da imaginação. Está representada, com tal aspecto, mas conservando o seu costume de guerra, num interessante baixo-relevo, onde a vemos dirigir, com os seus conselhos, um jovem escultor que cinzela um capitel, e outros obreiros que lidam com uma máquina; Zeus e Diana estão atrás dela e seguidos de uma sacerdotisa fazendo uma libação, e de uma grande serpente de cabeça de bode que representa o gênio do teatro, como indica a inscrição mutilada que se lê acima. A de baixo diz: "Lucéio Pecularis, empreiteiro do proscênio, mandou colocar este baixo-relevo votivo segundo um sonho tido."

As principais atribuições de Atena ergane estão resumidas num passo de Artemidoro: "Atena é favorável aos artesãos, em virtude do seu apelido de obreira; aos que desejam contrair núpcias, pois pressagia que a esposa será casta e apegada ao lar; aos filósofos, pois é a sabedoria nata do cérebro de Zeus. É ainda favorável aos lavradores, porque tem uma idéia comum com a terra; e aos que vão à guerra, porque tem uma idéia comum com Marte."

Foi Atena obreira que inventou as velas dos barcos e a ela se deve a construção do famoso navio Argos. Mas é sobre-tudo pelos tecidos e trabalhos das mulheres que Atena assume importância toda especial, e tem por atributo a roca. É também especialmente invocada pelas obreiras que preparam os tecidos, como se pode ver neste trecho da Antologia :

"Ó Atena, as filhas de Xuto e de Melita, Sátira, Heracléia, Eufro, todas três de Samos, te consagram uma a sua longa roca, com o fuso que obedecia aos seus dedos para se incumbir dos fios mais soltos; outra a sua lançadeira harmoniosa que fabrica as telas de tecido cerrado ; a terceira o seu cesto com os lindos novelos de lã, instrumentos de trabalho que, até a velhice, lhes sustentaram a laboriosa vida. Eis, augusta deusa, as ofertas das tuas piedosas obreiras."

Atena e Aracne:
Os tecidos constituíam um dos ramos mais importantes da indústria dos atenienses; mas as fábricas da Ásia, célebres em todas as épocas, sobrepujavam em delicadeza as cidades gregas, cujos tecidos menos delicados eram provavelmente mais sólidos. Foi o que deu origem à lenda que nos pinta a rivalidade entre Atena e Aracne.

Aracne não era ilustre pelo nascimento, mas o seu talento e a sua industriosidade a haviam tornado famosa. Seu pai era tintureiro de lã na cidade de Colonon, e ela adquirira tal reputação em todas as cidades da Lídia pela beleza dos seus trabalhos, que as ninfas do Tmolo e do Pactolo abandonavam as águas límpidas e os deliciosos bosquetes para lhe admirar os trabalhos de agulha. Sabia fiar e fazer a lã, e embelezava os seus tecidos com desenhos encantadores realçados por todas as cores do arco-íris. Envaidecia-se, porém, de tal modo com o seu talento, que por toda parte apregoava não ter receio de desafiar a própria Atena.

A deusa, ferida por tal intento, assumiu o aspecto de uma anciã, cobriu de cabelos brancos a cabeça, e, indo procurar Aracne, censurou-a em termos amigáveis pela inconveniência da pretensão de uma simples mortal de se comparar a uma deusa, e sobretudo à deusa da qual procede toda a indústria humana. Aracne ofendeu-se, acolheu muito mal a anciã, que assim lhe falava, e, fitando-a de sobrolho carregado, avançou para ela disposta a golpeá-la, dizendo que, se Atena se apresentasse, saberia muito bem confundi-la, mas que a deusa não ousaria, certamente, empreender uma luta que lhe seria desvantajosa.

Atena, diante daquelas palavras, reassume o seu verdadeiro aspecto e declara que aceita o desafio. Ei-las a prepararem os trabalhos, a disporem os tecidos e a iniciarem o mister. Já corre a lançadeira com incrível rapidez, e o desejo que ambas experimentam de vencer lhes redobra a atividade. Para tornarem o trabalho mais perfeito, cada uma delas desenha velhas histórias. Atena representou no seu a disputa mantida com Posidon em torno do nome que deveria ser usado pela cidade de Atenas. Aracne houve por bem fixar histórias que não podiam deixar de ser desagradáveis às divindades do Olimpo grego. Viam-se as metamorfoses dos deuses, e as suas intrigas eram figuradas de tal modo que nenhum prestígio lhes advinha. Mas o trabalho de Aracne foi executado com tal delicadeza e tão incrível perfeição que Atena não logrou descobrir sequer o menor defeito.

Esquecida, então, de que era deusa, para só se lembrar do despeito provado por se ver igualada em finura por uma simples mortal, Atena rasgou o tecido da rival, que imediatamente se enforcou de desespero. Atena, tomada de piedade, sustentou-a no ar, para impedir que se estrangulasse, e disse-lhe: "Viverás, Aracne, mas ficarás para sempre pendurada desta maneira; será o castigo teu e de toda a tua posteridade." Ao mesmo tempo, Aracne sentiu que a cabeça e o corpo lhe diminuíam de volume; mingudas patas lhes substituíram os braços e as pernas, e o resto do corpo se transformou num enorme ventre. A partir de então, as aranhas sempre continuaram a fiar, e a indústria humana até hoje não conseguiu igualar a finura dos seus tecidos. (Ovídio).

A festa das Panatenéias:
A grande festa das Panatenéias celebrava-se em Atenas, em honra de Atena, deusa tutelar da cidade, a quem ela devera o nome. A festa compreendia diferentes exercícios, entre outros corridas a pé e a cavalo, combates gímnicos, e concursos de música e poesia. As lutas gímnicas se desenrolavam nas margens do Ilisso. A festa terminava por uma grande procissão figurada no friso da cela do Partenão.

O objetivo religioso da festa era cobrir a deusa de um véu novo em substituição ao que fora gasto pelo tempo. Mas o objetivo político era muito outro; tratava-se de mostrar que Atena era ateniense pelo coração, e que ninguém podia invocar-lhe a proteção, se não fosse amigo de Atenas.

No monumento, a sacerdotisa recebe duas jovens virgens que lhe entregam objetos misteriosos. As jovens são crianças, pois segundo os ritos não podiam ter menos de sete anos nem mais de onze. "Durante a noite que precede a festa, diz Pausânias, põem elas sobre a cabeça o que a sacerdotisa lhes ordena que carreguem. Ignoram o que se lhes dá: aquela que lhes dá os objetos misteriosos também nada sabe Há na cidade, perto da Afrodite dos jardins, um recanto em que se acha um caminho subterrâneo cavado pela própria natureza. As jovens descem por aí, depõem o fardo, e em troca recebem outro, cuidadosamente coberto. O precioso fardo contém a velha vestimenta. e o que elas trazem de volta encerra a nova. Como a cena se desenrola de noite, uma delas empunha um archote."

Enquanto a sacerdotiza recebe a nova vestimenta da deusa, o grão-sacerdote, assistido por um jovem rapaz, se ocupa em dobrar o antigo peplo. O público não assiste à misteriosa cena do santuário, mas os deuses, espectadores invisíveis, estão sentados e dispostos em grupos simétricos. Entre eles, depara-se-nos Pandrosa, recoberta do véu simbólico que caracteriza o sacerdócio; mostra ela ao jovem Erecteu, ajoelhado, a procissão que avança em direção ao santuário.

Vem antes um grupo de anciãos de andar grave, todos envoltos nos seus mantos e quase todos a se apoiarem nos seus bordões. São os guardas das leis e dos ritos sagrados, pois alguns parecem dar instruções às jovens virgens atenienses que os seguem. Trazem estas com gravidade o candelabro, o cesto, os vasos, as páteras e os demais objetos destinados ao culto. Depois das atenienses, surgem as filhas dos forasteiros fixados em Atenas. Não têm o direito de carregar objetos tão santos, mas seguram nas mãos os assentos dobradiços que servirão aos canéforos. Vêm, depois, os arautos e os ordenadores da festa, que precedem os bois destinados ao sacrifício, seguidos dos meninos que conduzem um carneiro. Desfilam alguns homens que seguram bacias e odres cheios de azeite. Finalmente os músicos que tocam flauta ou lira, e um grupo de anciãos, todos empunhando um ramo de oliveira.

Começa, então, o desfile dos carros puxados por quatro cavalos e o longo cortejo dos cavaleiros. Sabia-se que Atena ensinara aos homens a arte de domar os cavalos e de os atrelar ao carro, e a festa era sempre acompanhada de jogos eqüestres. Todos conheciam, pelos moldes, a famosa cavalgata do Partenão. Um cortejo de jovens, cuja clâmide flutua ao vento, doma os cavalos tessalienses que se empinam e lhes resistem.

Os prêmios concedidos aos vencedores nos jogos realizados em honra de Atena consistiam ordinariamente em ânforas cheias de azeite. Era um modo de lembrar que a deusa plantara a oliveira que constituía a grande riqueza da Ática. O museu do Louvre possui vários desses vasos, chamados panatenaicos. Têm eles interessantes decorações, nas quais vemos Atena de pé, brandindo a lança e segurando o escudo. A figura está concebida no estilo tradicional das antigas figuras de estilo arcaico. Está situada entre duas colunas que suportam, cada uma, um galo.

Templos:
Até o presente não há evidências suficientes para apontar onde foi fundado o primeiro santuário de Atena, mas o local onde hoje se vêem as ruínas do Erecteion, uma construção do século V a.C., deve ter abrigado em tempos anteriores um dos mais antigos templos dedicados à deusa, havendo ali vestígios de construções datadas do período micênico. A partir de meados do século VI a.C. há notícia de diversos templos de grandes proporções já erguidos em várias cidades. De todos eles o mais célebre foi o Partenon de Atenas, cujas ruínas ainda são visíveis na acrópole local. Ele se tornou um dos mais conhecidos ícones da cidade e de toda a cultura grega, e constitui um exemplo prototípico do templo grego em estilo dórico. Foi construído após o saque de Atenas e destruição da acrópole pelos persas em 480 a.C., substituindo uma estrutura mais antiga, sendo um dos marcos artísticos inaugurais do período Clássico. Este foi o tempo de Péricles, que reorganizou a cidade devastada e, mais do que isso, conseguiu consolidar a posição de Atenas como a maior força política e cultural em toda a Grécia daquela época. Relatos antigos referem a rapidez com que as obras se realizaram, congregando toda a sociedade no esforço da reconstrução, e o orgulho que os atenienses sentiam pelo magnífico resultado, visto como um símbolo do poderio e prestígio ateniense. A reconstrução esteve sob a supervisão artística de Fídias, renomado escultor, que se responsabilizou também pelo projeto da decoração escultural do templo e pela ereção de duas estátuas monumentais de Atena, realizadas por ele pessoalmente. Apesar do nome pelo qual se tornou conhecido, segundo indicam registros oficiais do período, o Partenon foi dedicado à Atena Polias, a padroeira da cidade, mas sabe-se que entre o povo ela recebia comumente o epíteto de Parthenos, "a virgem", e daí ter-se-ia fixado o nome de Partenon.

Outros templos foram construídos por toda a Ática e além, como na Jônia, Beócia, Lídia, Rodes, Tessália, Eubeia, e várias outras regiões. Dentre os templos extra-áticos foram particularmente destacados os da Jônia, cujas cidades possuíam todas um templo de Atena, sendo especialmente ricos os de Smirna e Mileto. Em Esparta a estrutura mais importante em sua acrópole, um templo todo em bronze, era devotada a Atena. Na Beócia se reputava como de grande antiguidade o santuário de Queroneia, sede de uma festividade própria, a Pan-beócia, que comemorava a renovação mítica de todos os beócios. Contudo, a localização dos vários templos citados na literatura antiga é extremamente difícil, pois as descrições disponíveis em geral não concordam com as ruínas que atualmente são identificadas como dedicadas à deusa.

Culto:
Atena teve o seu centro de culto mais importante em Atenas, cidade da qual era a padroeira, uma proteção estendida a toda a Ática. Em muitos locais Atena era cultuada em associação com outras divindades e heróis, como Erictônio, Hefesto, Posídon, Deméter e Teseu. Nos ritos que estavam associados a funções legais muitas vezes era servida junto com Zeus. Mas não se limitou à Ática, ao contrário, como uma deusa urbana por excelência, protetora das cidades, a presença de Atena é atestada em quase toda a volta do mar Mediterrâneo, penetrando pelo oriente até a Pérsia. Seus atributos e o seu culto conheceram assim infinitas variações, o que torna impossível defini-los como homogêneos.

Das várias festas dedicadas em sua honra, como a Plynteria e a Skiraphoria, as Panatenaias eram as mais importantes, pois além de serem uma grande celebração religiosa, tinham grande impacto na vida política e social, e influíram decisivamente na produção artística ao longo de dez séculos, oferecendo uma quantidade de novos motivos temáticos e formais para os artistas. Alguns estudiosos acreditam que os hinos cantados em homenagem a Atena nas Panatenaias ao longo do século VI a.C. contribuíram para a fixação da forma canônica dos grandes épicos da Ilíada e da Odisseia. Todo o culto de Atena estava de alguma forma ligado à agricultura, a mais importante fonte de subsistência para os gregos, mas tinha outras associações e se projetava no seu mito. E neste culto a principal atenção recaía sobre a Atena Polias, que concentrava em si todos os múltiplos atributos de Atena. Era ela quem recebia as mais importantes e ricas oferendas e homenagens.

Hinos á Atena:
Hino Homérico XI: A Atena
Palas Atena salva-cidade começo a cantar
Deusa terrível, a ela com Ares concerne trabalhos de guerra
cidades arrasadas, o reboar da guerra, os combates;
Também salva a tropa que parte e retorna;
Salve, Deusa, dá-nos sorte e felicidade.
(tradução de Rafael Brunhara)

Hino homérico a Atena
Palas Atena, ilustre deusa começo a cantar,
a de olhos brilhantes, de muitos conselhos, de inexorável coração,
virgem temível, protetora de cidades, poderosa
Tritônia, a quem o próprio Zeus, próvido, gerou sozinho
da sacra cabeça, a portar áureas guerreiras armas,
e brilhantes. A todos os deuses veneração tomou,
que a viram diante de Zeus, que porta a égide,
saltar-lhe da imortal cabeça vibrando a lança aguda.
O próprio Olimpo tremeu sob o ímpeto grave da Olhos-brilhantes,
a terra em torno ressoou e o oceano em purpúreas ondas agitado
conturbou-se e súbito o mar salino estancou. Deteve
por longo tempo o preclaro filho de Hiperião
os celerípedes corcéis, até que, menina, as armas despiu
divinas dos ombros imortais
Palas Atena e riu Zeus próvido.
E, salve, filha de Júpiter, o que porta a égide,
de ti eu me lembrarei em outra canção.
(Tradução de João Angelo Oliva Neto)

Hino Homérico XXVIII a Atena:
Um tremor imenso correu o Olimpo frente ao poder da deusa de olhos cinzas, a terra ressoou terrivelmente de fora a fora, e o mar agitou-se na confusão de ondas revoltas. Mas de repente as águas detiveram-se, e o filho do esplêndido Hipérion conteve os seus cavalos de pés ligeiros por muito tempo, até que a virgem, Palas Atena, tirou a armadura divina dos seus ombros imortais, e Zeus perspicaz alegrou-se.
(tradução de José M. M. Macedo)

Hino Homérico XI a Atena:
Primeiro eu canto Palas Atena, deusa gloriosa, de olhos cinzentos, engenhosa e de coração implacável, virgem venerável, salvadora da cidade, robusta, Tritogênia, a quem Zeus perspicaz ele mesmo deu à luz da sua augusta cabeça, trajando ela armadura de batalha dourada, resplandecente: todos os imortais assistiram com espanto quando diante de Zeus que detém a égide ela pulou veloz da sua cabeça imortal brandindo sua lança afiada.
(tradução de José M. M. Macedo)

Hino Homérico XI - A Atena:
À Palas Atena, guardiã da cidade, eu começo a cantar. Temida ela é, e com Ares ela ama os feitos de guerra, os saques às cidades e os gritos de batalha. É ela quem salva as pessoas quando elas saem para a guerra e retornam. Saúdo-te, deusa, e dá-nos uma boa ventura, com felicidade!

Hino Homérico XI - A Atena (2ª versão):
Eu te saúdo, Atena, alfa e ômega dos homens,
Da sabedoria Tu te sentas no augusto trono;
Mais que punições, às ações humanas
Tu dás glórias e bençãos - como a graça
Que brilha nas tuas asas douradas.
Longa felicidade anuncia teu destino.
Tu encontraste o bom caminho, entre os infortúnios,
Tua luz varreu as trevas, Deusa da graça.

Hino Homérico XXVIII - A Atena:
Eu canto a Palas Atena, a gloriosa Deusa, de olhos brilhantes,
Inventiva, de coração aberto,
Virgem pura, salvadora das cidades,
Corajosa, nascida da água. O sábio Zeus deu-lhe a luz por ele mesmo
De sua temível cabeça, adornada em armamento bélico
De ouro reluzente, e o terror tomou conta de todos os deuses assim que a fitaram.
Mas Atena surgiu rapidamente da cabeça imortal
E se pôs diante de Zeus que segura a égide,
Agitando uma lança afiada: o grande Olimpo começou a vacilar de horror
Ao poder da Deusa de olhos brilhantes,
E a terra girou em volta dos medrosos chorosos,
E o mar se moveu e se agitou com ondas escuras,
Enquanto a espuma se rompia repentinamente:
O brilhante Filho de Hipérion parou seus ligeiros cavalos por um longo instante,
Até a donzela Palas Atena despir-se da pesada armadura sobre seus ombros imortais.
E o sábio Zeus estava contente.
E então saúdo a ti, filha de Zeus que segura a égide!
Agora eu me lembrarei de ti e de outra canção também.

Hino Homérico XXVIII - A Atena (2ª versão):
Eu começo minha canção a Pallas Atena, ilustre deusa de olhos cinzentos penetrantes.
Astuciosa, Ela, com um coração inexorável, modesta Virgem, Protetora da cidade! A valente Tritogeneia foi despertada por Zeus, a sábia de sua própria testa aterradora, com as ferramentas de batalha em seu braço, resplandecente e dourada: Todos os imortais ficaram atordoados.
Sem demora ela saltou do crânio sempre-existente para vir diante de Zeus, mestre da égide, com a afiada lança trepidando em sua mão.
O poderoso Olimpo começou a girar insanamente pela potência dela, aquela de olhos-cizentos.
De cada direção da terra soltou-se um grito refrigerante.
Ondas, profundezas e trevas, se elevaram no agitado oceano.
O brilhante filho de Hipérion trouxe seus velozes corcéis para descansar, esperando bastante, até que a Donzela despisse seus incorruptíveis ombros da armadura divina...
Ela, Pallas Athena! A sábia do Zeus escarnecido!
É por isso que eu digo também: Salve a ti, Filha do Zeus empunhador-da-égide!
Mesmo quando canto uma canção diferente, eu sempre me lembro de ti!

Hino a Atena, de Orfeu:
A Palas, com um incenso de ervas aromáticas:
Única nascida do pai, nobre raça de Zeus, abençoada e feroz,
Que se alegra em andar pelas cavernas;
Ó Palas guerreira, cuja ilustre gentileza inefável encontramos, magnânima e célebre;
O ápice rochoso, os bosques e montanhas sombrias se regozijam;
Com as Erínias atormentas os exércitos exultantes e selvagens,
E as almas dos mortais tu inspiras.
Virgem atlética de mente terrível, abençoada e gentil,
Mãe das artes, impetuosa, compreensível,
Ira para os malvados, sabedoria para os bondosos;
Fêmea e macho, as artes da guerra são tuas, ó deusa
Sobre os gigantes de Flegran demonstraste tua ira,
Tuas maldições dirigiste e com destruição os aterrorizaste;
Espirrada da cabeça de Zeus, de esplêndido aspecto,
Expurgadora de males, rainha toda-vitoriosa.
Escuta-me, ó Deusa, quando a ti eu oro,
Com voz suplicante, tanto de noite quanto de dia,
E na minha última hora, dê-me paz e saúde,
Tempos propícios, e a prosperidade necessária;
E que todo o meu presente seja dedicado para a cura;
Ó, implorada, mãe da arte, donzela dos olhos azuis.

Hino Órfico à Palas Atena
Eu canto à Palas Atena, guardiã da cidade, a temível,
Que com Ares cuida das ações bélicas,
Dos saques às cidades e das batalhas de guerra.
Ela salva os soldados que vêm e se vão.
Seja bem-vinda, ó Deusa,
Dê-me sorte e satisfação.
(traduções da Alexandra)

Carmina Convivialia, Fragmento 1
Palas Tritogênia, Senhora Atena,
Corrige essa cidade e os cidadãos,
Livra-nos de dores e sedições
E mortes precoces, tu e teu pai.
(tradução Rafael Brunhara)

Trecho de "Íon" de Eurípides (452-471)
Alheia às dores do parto, minha Atena, eu te rogo, que vieste à luz pelo Titã Prometeu do topo da cabeça de Zeus, abençoada Vitória, vem à casa de Pito, voando dos aposentos dourados do Olimpo até essas vias onde o apolíneo lar central da terra* profere os seus oráculos em meio à dança ao redor do tripé; tu e a filha de Leto, duas deusas, duas virgens**, irmãs veneráveis de Apolo. E vós, mulheres, rogai a elas que seja concedida à antiga tribo de Erecteu uma clara promessa mântica de fertilidade, embora extemporânea.
(tradução de José M. M. Macedo)

Trecho de "Íon" de Eurípides (452-471)
E a ti, minha Pallas, donzela marcial, eu chamo: ó, ouça a canção! Tu, a quem o Titã da cabeça de Zeus, Prometeu, retirou; brilhante Vitória, vem, descendo do teu trono dourado acima, precipita-te, deusa, à cúpula pítia, onde Febos, do seu santuário central, dá o divino oráculo, pela donzela em delírio repetido, no sagrado tripé sentado. Ó, apressa-te, deusa, e contigo tragas a filha de Leto, virgem tu e virgem ela, irmãs do rei de Delfos; Ele, virgens, deixe vossos votos implorar, que agora esse poder oracular puro irá à linha ancestral de Erecteu declarar a bênção de um herdeiro há muito esperado!
(tradução da Alexandra a partir do inglês de Robert Potter)

Hino a Atena, de Proclus
Filha de Zeus portador-da-égide, divina,
Propícia a tuas preces votivas te inclinas,
Da fronte do grande pai supremamente brilhante,
Saltaste para a luz como um fogo ressoante.
Deusa que porta o escudo, ouça, a quem desfrutar
De uma mente valorosa e com poder de o forte domar!
Ó, surgida de um poder sem par, com alegre mente
Aceita este hino; gentil e benevolente!
Por tuas mãos, os portões sagrados da sabedoria
São amplamente abertos; e a ousada companhia
De gigantes ctônicos, que em ímpia batalha armados
Luta com teus parentes, por teu poder foram derrotados.
Uma vez, por teu cuidado, como cantam poetas sagrados,
O coração de Baco, rei rapidamente assassinado,
Foi salvo no éter, quando, com um feroz fogo,
Os Titãs contra sua vida conspiraram logo;
E com incansável ira e sede por sangue coagulado,
Suas mãos e membros em pedaços foram destroçados:
Mas, sempre atenta à vontade de teu pai ver,
Teu poder o preservou de a doença lhe abater,
Até dos secretos conselhos de seu pai Zeus,
E nascer de Semele através do fogo dos céus,
O Grande Dioniso ao mundo apresentado
Novamente apareceu com ânimo renovado.
Uma vez, também, teu machado de guerra, em inigualável hora,
Sacou de seus pescoços selvagens as cabeças fora
De furiosas bestas, e assim ficaram as pestes destruídas
As quais há muito deixavam a onividente Hécate aborrecida.
Por ti o poder do grande Zeus se ergueu
Para guarnecer os mortais com um deleite seu:
E toda a largura da vida e a vária extensão dela dominas
Cada parte para embelezar com tuas artes divinas:
Revigorados, portanto, por ti, encontramos
Um demiurgo impulso na mente que levamos.
Torres altamente erguidas, e fortes para proteção,
A ti, temível deidade guardiã, pertencem então,
Como símbolos próprios da altura exaltada
Estas séries entre os pátios de luz são clamadas.
Terras amadas por ti são dispostas a aprender,
E Atenas, ó Atena, é tua a reaver!
Grande deusa, ouça! e, na minha mente escurecida
Verta tua luz pura em ilimitada medida;
- Tua sagrada luz, Ó toda-protetora rainha,
Que irradia o eterno de tua face serena:
Minha alma, enquanto vagueia pela terra, inspira
Com o abençoado fogo de tua própria e impulsiva pira;
E a teus relatos, místicos e divinos, dê
Todos os poderes com sagrada luz resplandecer.
Dê amor, sabedoria e um poder de amar de fato,
Com incessante inclinação aos reinos do alto;
Assim como, inconsciente do controle da base terrena,
Gentilmente atrai a alma que o vício domina;
Da região escura da noite, ajude-a a se retirar,
E, mais uma vez, conquiste o palácio de seu lar:
E, se em mim vier alguns infortúnios causticantes,
Remova a aflição, e abençoa esse teu suplicante.
Deusa que tudo salva, às minhas preces te inclines!
Nem deixai essas hórridas punições serem minhas
As quais culpadas almas no Tártaro confinam,
Com grilhões atados a seus solos infernais,
E presos pelas enormes portas de ferro nos umbrais.
Ouça-me, e salva (pois o poder é todo teu aqui)
Esta alma desejosa de pertencer somente a ti.
(tradução e rimas de Alexandra a partir do inglês de Thomas Taylor)

Libação a Atena
Salve, Atena, dá-nos sorte e felicidade!
Estando todos com roupas limpas e limpos também os corpos inicia-se o ritual.

Purificação:
Sacra rainha de tudo que é sacro,
Nós te saudamos em rito, ó Héstia,
Gloriosa filha de Cronos e Rea, a
Quem foi o fogo divino fadado.
O que pedimos, por favor, arruma:
Para os honestos, garante fortuna.
E sempre assim dançaremos diante
Do teu eterno altar cintilante.

Em seguida o incenso é colocado dentro de um pote com água limpa, ao comando:
KHERNIPTOMAI!
Seja esta água purificada pelo fogo sagrado.
Tornada lustral a água, borrifa-se o altar, o que será ofertado, e as pessoas, ao comando:
Ó deuses, mandem embora o mal!

Em seguida ela deve circular o altar, recolhendo as impurezas. A tigela é retirada das vistas para depois a água impura ser jogada diretamente na terra.

Convite à Deusa.
Eu te saúdo, Atena, fim e início!
É teu o augusto trono da artimanha!
Mais que castigos, às ações humanas
Dás glória e bênçãos – com o mesmo viço
Que o dourado dá-te às belas asas!
Feliz de quem te segue, pois teu prumo
Melhor dos rumos acha entre infortúnios.
Às trevas rechaça tua clara graça!
Eu saúdo a deusa Atena em seus epítetos:
Atena Pronoia, a Providência;
Atena Aglauro, o aspecto escuro;
Atena Pândraso, o aspecto brilhante e a oliveira sagrada;
Atena Selene, a lua;
Atena Gorgópis, a do rosto de Górgona;
Atena Helótis, a de rosto largo;
Atena Glaukopis, a dos olhos cinzentos de coruja;
Atena Tritogênia, a que nasceu da água;
Atena Etíia, o pássaro marinho;
Atena Heféstia, a noiva de Hefesto;
Atena Ária, a guerreira de Ares;
Atena Ergane, a dos trabalhos manuais;
Atena Alalcomene, a que fia e tece;
Atena Hígia, a companheira de Asclépio;
Atena Polias, a protetora das cidades;
Atena Tritéia, a protetora dos heróis;
Atena Auge, a lustrosa;
Atena Etra, a brilhante;
Atena, a deusa para quem Zeus – ao vê-la saltar da
cabeça do pai – fez cair uma chuva de ouro.
Ofertas – Nesse momento acendem-se os incensos, apresenta-se as bebidas das libações.

Libações – Cada um dos participantes aproxima-se do altar e faz a libação dizendo:
Amada Mestra,
Ó Deusa Sábia,
Abre-me a Mente
Às tuas Palavras.
Meditação – Cada participante entra em comunhão com a deusa em prece. Ao encerrar
sua prece individual o membro deve dizer para que todos possam ouvir: Khaire Atena!
Será o sinal para continuar.
Agradecimento
Saúdo os deuses de nossos pais.
E minha devoção cá reafirmo.
Que Hermes nos leve as vozes mortais
e as conduza em paz aos portões do Olimpo.
Todos confirmam com um:

Estó!

Ao fim da cerimônia os membros cumprimentam-se e juntos desmontam o altar, os visitantes devem levar as ofertas que serão deixadas fora, e as que ficarem devem ser respeitosamente jogadas no lixo.

Óleo para Atena:
30 g lascas de madeira de cedro
15 g resina de cânfora
7 gotas de óleo de almíscar
6 azeitonas pretas

Fontes:
Helenos
Wikipédia
Templo de Apolo.
Teogonia.

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