Domínios: Costume, Ordem, Profecia.
Símbolos: Tripé délfico, Cornucópia, balança e espada (representações modernas).
Plantas: Manjerona; giesta; hipericão; salva, verbasco.
Epítetos: Euboulos (do bom conselho), Orthobolus (do conselho correto), Soteira (salvadora), Hiera (sagrada), Aidoios (augusta, venerável), Eugenes (bem-nascida), Titanis (titânide), (das amáveis bochechas).
Émile Benveniste explica que: "Na epopéia, entende-se por thémis a prescrição que fixa os direitos e deveres de cada um sob a autoridade do chefe do génos, quer na vida cotidiana no interior da casa, quer nas circunstâncias excepcionais: aliança, casamento, combate. A thémis é o apanágio de basileús, que é de origem celeste, e o plural thémistes indica o conjunto destas prescrições, código inspirado pelos Deuses, leis não-escritas, coletânea de ditados, sentenças dadas pelos oráculos, que fixam na consciência do juiz (no caso, o chefe da família) a conduta a manter todas as vezes que a ordem do génos está em jogo".
Filha dos Titãs Urano e Gaia, ainda criança fora entregue por sua mãe aos cuidados Nix, tendo por objetivo protegê-la da loucura de seu pai. Entretanto, Nix estava exausta da constante criação de prole e, por este motivo, resolveu entregar Têmis e Nêmesis (filha mais nova) aos cuidados de suas filhas mais velhas, as Moiras. Estas, por sua vez, aceitam de bom grado a tarefa e lhes ensinam tudo sobre a ordem cósmica e natural das coisas e a importância de zelar pelo equilíbrio universal.
Têmis foi à segunda esposa de Zeus, depois de Métis e, antes, de Hera. É ela que temperou o poder de Zeus com muita sabedoria e com seu profundo respeito pelas leis naturais. Sendo uma Titã, suas raízes são instintivas e pré-olímpicas estendendo-se à frente, para incluir uma visão cósmica das operações finais e essenciais do universo inteiro.
Existe uma vastidão de fragmentos explicando os benefícios desta união:
“Após desposou Têmis luzente que gerou as Horas,
Eqüidade, Justiça e a Paz viçosa
que cuidam dos campos dos perecíveis mortais,”
“Com Thémis, o novo soberano gera a Ordenação interior de seu reinado, a Ordem em todos os aspectos nomeados pelos nomes de suas filhas Hórai, que dosam e regram a distribuição de bem e de mal (v. 906), pois com Thémis ele assegura ao seu poder um domínio imutável e estável, afim com a natureza fundamental da Terra.”
“Zeus se associa ao estável, ao inabalável e incontestável: Thémis, filha do Céu e da Terra, e que, segundo o Prometeu de Esquilo, é um outro nome da própria Terra.”
“Unindo-se à Lei Ancestral Thémis, Zeus estabelece ordem, ritmo e medida no seu reinado: gera as Hórai.”
No casamento de Zeus e Têmis vemos duas forças, uma solar e outra lunar, trabalharem coligadas com poucos conflitos à serem observados. Zeus era o rei todo-poderoso, absoluto, um padrão arquetípico que governa a consciência coletiva, que tanto cria como mantém uma coletividade. Mas é Têmis, que movimentando-se dentro de vários outros padrões arquetípicos, desestabiliza o absolutismo e as certezas de Zeus. Ela movimentava-se em uma direção contrária, nunca deixando de incluir o máximo possível. Têmis exercia portanto, um efeito de abrandamento.
Entretanto, o casamento dos dois não foi de total doce harmonia, pois embora transitasse sabedoria entre eles, os ditames de um e do outro, sempre tinham um preço muito elevado, pois nada possui solução definitiva.
Na imagem de Zeus consultando Têmis, podemos aceitar uma boa dose de troca. Zeus é quem rege e decide, enquanto Têmis assume uma atitude mais suave e dá seu toque relativizador que procede de perspectivas mais abrangentes.
Um dos atributos de Têmis é sua grande beleza, além do poder de atração de sua dignidade. Sua atratividade física é confirmada pelo mito em que Zeus a persegue com seu estilo desenfreado e, finalmente, a desposa. Em outra versão após Zeus devorar Métis grávida, as Moiras levam Têmis até Zeus para se tornar a segunda esposa, e as Moiras profetizam que Zeus precisa e tem muito a aprender com Têmis, que é até mesmo mais sábia que Métis.
Seu mais ardente adversário no Olimpo foi Ares, o deus da guerra cujo apetite por violência e sede de sangue não conhecia limites. Não porque Têmis fosse contra a guerra, mas agia com motivos de ordem ambiental, pois a guerra reduziria a população humana. Na qualidade de mãe das Horas (e pai Zeus), Têmis está também por trás da progressão ordenada do tempo na natureza. As Horas representavam a ordenação natural do cosmo: inverno e depois primavera, dia depois à noite, uma hora após a outra.
As Horas ou Estações (filhas de Zeus e Têmis) suas são: Irene (paz), Dice (justiça) e Eunômia (disciplina); estas são as Horas mais velhas e estão ligadas a legislação e ordem natural, sendo uma extensão dos atributos de Têmis. Esta última está relacionada com a representação da divindade da justiça. Têmis e Dice elucidam o lado ético do instinto, a voz miúda e calma no seio do impulso. Dice para a humanidade é a função de base institucional muito sintônica com o que chama de instinto para reflexão.
“Filhas de Thémis, as Hórai ("Estações") são três: Eqüidade, Justiça e a viçosa Paz (v. 902). Os nomes das três estações põem em evidência quanto o pensamento arcaico apreende como uma Ordem única e unitária o que nós cindimos em distinções como ordem político-social, ordem natural e ordem temporal. Uma crença profunda de Hesíodo era a de que as injustiças sociais acarretavam não só perturbações e danos às forças produtivas da Natureza mas também subvertiam a própria ordem temporal. As Hórai, portanto, nascidas de Zeus e Thémis, têm por função instaurar a boa distribuição dos bens sociais, as boas relações entre homens e a ordem que ritma as forças produtivas da Natureza.”
Existem mais nove Horas que são guardiãs da ordem natural, do ciclo anual de crescimento da vegetação e das estações climáticas anuais. (Talo, Carpo, Auxo, Acme, Anatole, Dice, Diceia, Eupória, Gimnásia)
Sua outra filha com Zeus, Astreia, deusa virgem protetora da humanidade e que simboliza a pureza e a inocência, também era uma deusa da justiça. Conta-se que ela deixou a Terra no fim da Idade do Ouro para não presenciar as aflições e sofrimentos da humanidade durante as idades do Bronze e do Ferro. No céu ela tornou-se a constelação de Virgem. Também a balança de Têmis, que Astreia carregava foi transformada em uma constelação, Libra.
Ao presidir as reuniões de cunho político do Olimpo, Têmis manifesta o teor organizacional de sua dignidade e justiça. Têmis congregava às reuniões com seriedade moral e obrigava os grandes e poderosos a ouvir, de modo consciencioso, as objeções e contribuições dos irmãos e irmãs menos proeminentes. A Deusa opunha-se à dominação de um sobre muitos e apoiava a unidade mais que a multiplicidade, a totalidade mais do que a fragmentação, a integração mais do que a repressão. Nessa atividade de contenção e vinculação, Têmis revela o princípio operado pela consciência feminina: a lei do amor.
Têmis era a deusa da consciência coletiva e da ordem social, da lei espiritual divina, paz, ajuste de divergências, justiça divina, encontros sociais, juramentos, sabedoria, profecia, ordem, nascimentos, cortes e juízes. Foi também inventora das artes.
Dos oráculos:
Têmis não representa a matéria em si, como sua mãe Gaia, mas uma qualidade da terra, ou seja, sua estabilidade, solidez e imobilidade. Ela é uma deusa que falava com os homens através dos oráculos. O mais famoso de todos os templos oraculares da Grécia Antiga, Delfos, pertencia originalmente a Gaia, que o passou a filha Têmis. Depois disso, ele foi de Febe e só no fim foi habitado por Apolo. Há pesquisadores que afirmam, no entanto, que Têmis é o próprio princípio oracular, de modo que, em vez de ter havido quatro estágios de ocupação do oráculo de Delfos, foram só três: Gaia-Têmis, Febe-Têmis e Apolo-Têmis. Portanto, Têmis tinha máxima ligação com a questão das previsões oraculares e, no fundo, representa a boca oracular da terra, a própria voz da Terra, ou seja, Têmis é a terra falando.
Quando o titã Prometeu foi acorrentado ao Cáucaso, Têmis profetizou que ele seria libertado. Sua profecia se concretizou quando Héracles (ou Hércules), salvou-o do seu castigo. Foi Têmis quem alertou Zeus que o filho de Métis seria uma ameça à seu pai.
Ajudou Deucalião e Pirra a formar a humanidade após o dilúvio enviado como castigo por Zeus, profetizando que ambos deveriam "jogar os ossos de sua mãe para trás das costas". Pirra ficou temerosa de cometer algum sacrilégio ao profanar os ossos de sua mãe, não captando o sentido da profecia. Deucalião, porém, entendeu tratar-se de pedras os ossos da deusa-Terra, mãe de todos os seres. Assim ele atirou pedras para trás e delas surgiram homens.
Os oráculos dados por Têmis, não profetizavam só o futuro, mas eram ainda, mandamentos das leis da natureza às quais os homens deveriam obedecer. A Deusa nos fala de uma ordem e de uma lei naturais que precedem as noções culturalmente condicionadas da organização e das regras derivadas das necessidades de uma sociedade.
Os cultos à Têmis eram celebrados os "mistérios" ou "orgias", emprestando-lhe a visão que ela era uma Deusa genuína, e não uma simples personificação da idéia abstrata de legalidade. Têmis é a Deusa oracular da Terra, ela defende e fala em nome da Terra, do enraizamento da humanidade em uma inabalável ordem natural.
Inicialmente, Têmis era representada como uma divindade de olhar austero, seus olhos ainda não eram vendados e segurava uma balança em uma das mãos, o que, até hoje, simboliza o equilíbrio entre as partes envolvidas em uma relação de Direito. A imagem de Têmis, como conhecemos hoje, passou a ter a venda nos olhos por criação de artistas alemães do século XVI. A faixa a cobrir-lhe os olhos simboliza imparcialidade, porquanto a deusa Têmis, por ser a própria exteriorização da Justiça, não vê diferenças entre as partes em litígio, sejam ricos ou pobres, poderosos ou humildes, grandes ou pequenos. Suas decisões, justas e prudentes, não são fundamentadas na personalidade, nas qualidades das pessoas ou, ainda, no seu poder, mas apenas na sabedoria das leis.
Significado dos símbolos mais comuns utilizados na personificação da justiça:
I- A balança com o fiel (lingueta) na vertical expressa a ideia de igualdade. Decisão justa é a decisão reta, em que o meio-termo foi conseguido, em que nenhuma das partes recebeu mais do que a outra. Por isso, o papel da deusa na mitologia grega era justamente dizer onde estava o meio-termo em cada situação.
II- A venda nos olhos indica que a deusa, ao deliberar, não poderia levar em conta as diferenças entre as partes em disputa, devendo basear-se apenas nos argumentos colocados pelas partes, permanecendo indiferente em relação a todos os demais aspectos. Ricos e pobres, poderosos e indigentes, todos deveriam ser considerados da mesma forma.
III- A espada em repouso indica que a deusa possuía também o poder de fazer sua decisão ser cumprida (o poder de polícia); seu papel principal, entretanto, era dizer o que é correto (jus dicere). Sua espada apenas deixaria a situação de repouso se fosse requisitada.
Sendo assim, condensam-se três dimensões fundamentais da noção de justiça que ainda temos hoje: igualdade, imparcialidade e eficácia.
Hino órfico:
Ilustre Têmis, de nascimento celestial, a ti eu invoco, jovem florescer da terra;
Toda-bela virgem, foi apenas de ti que primeiramente os oráculos proféticos foram conhecidos aos homens,
Vindos dos profundos recessos do templo da sagrada Pytho, onde renomada tu reinas;
De ti, os oráculos de Apolo se erguem, e de teu poder a inspiração flui dele.
Honrada por todos, de forma divinamente brilhante, majestosa virgem, que perambula pela noite:
Foi de ti que a humanidade aprendeu os ritos iniciais, e com os coros noturnos de Baco tua alma se delicia;
Pois a honra sagrada da revelação é tua, e os sagrados mistérios e ritos divinos.
Esteja presente, Deusa, inclina-te às minhas preces, e abençoa tuas consagrações com uma mente favorável.
Fontes:
Brandão
DallanChantal
Dr. Elpidio Donizetti
Helenos
Teogonia
theoi
Wikipédia
Nenhum comentário:
Postar um comentário