sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Oyá, Grandiosa Guerreira dos Ventos.



Na Mitologia Yoruba, o nome Oyá (também conhecido como Oiá ou Iansã) provém do rio de mesmo nome na Nigéria, onde seu culto é realizado, atualmente chamado de rio Níger. É uma divindade das águas como Oxum e Iemanjá, mas também é relacionada ao elemento ar, sendo uma das divindades que ao lado de Ayrá e Orixá Afefê controla os ventos. É conhecida também como Iansã.

Costuma ser reverenciada antes de Xangô, como o vento personificado que precede a tempestade. Assim como a Orixá Obá, Oyá também está relacionada ao culto dos mortos, onde recebeu de Xangô a incumbência de guiá-los a um dos nove céus de acordo com suas ações. Para assumir tal cargo recebeu do feiticeiro Oxóssi uma espécie de erukerê especial chamado de Eruexim com o qual estaria protegida dos Eguns. Oyá é a terceira deusa de temperamento mais agressivo, sendo que a primeira é Opará e Obá é a segunda.


O nome Iansã trata-se de um título que Oyá recebeu de Xangô que faz referência ao entardecer. Iansã quer dizer A mãe do céu rosado ou A mãe do entardecer. Era como ele a chamava pois dizia que ela era radiante como o entardecer.

Os africanos costumam saudá-la antes das tempestades pedindo a ela que apazigue Xangô o Orixá dos trovões, raios e tempestades pedindo clemência.

Os devotos costumam lhe oferecer sua comida favorita, o àkàrà (acarajé), ekuru e abará.

No candomblé a cor utilizada para representá-la é o marrom, ainda que seja mais identificada com a cor rosa. No Brasil houve uma grande distorção com relação as suas regências e origens.

É saudada como "Iya mesan lorun", título referente à incumbência recebida como guia dos mortos. Iansã é associada a sensualidade, dos Orixás femininos é uma das mais guerreiras e imponentes.

Algumas lendas,

Ventos e eguns.

Conta umas das lendas de Iansã, a primeira esposa de SÀNGÓ, teria ido, a seu mandato, a um reino vizinho buscar 3 cabaças que estava com Obalúayé. Foi dito a ela que não abrisse estas cabaças, as quais ela deveria trazer de volta a SÀNGÓ. Iansã foi e lá Obalúayè recomendou mais uma vez que não deixasse as cabaças caírem e quebrarem e, se isto acontecesse, que ela não olhasse e fosse embora. Iansã ia muito apressada e não aguentava mais segurar o segredo. Um pouco mais à frente quebrou a primeira cabaça, desrespeitando a vontade de Obalúayé. Saíram de dentro da cabaça os ventos que a levou para os céus. Quando terminaram os ventos, Iansã voltou e quebrou a segunda cabaça. Da segunda cabaça saíram os Eguns. Ela se assustou e gritou: Reiiii! Na vez da terceira cabaça SÀNGÓ chegou e pegou para si, que era a cabaça do fogo, dos raios.
Ela tinha um temperamento ardente e impetuoso. Foi a única entre as mulheres de SÀNGÓ que, no fim do seu reinado, o seguiu em sua fuga para Tapá. Quando ele recolheu-se para baixo da terra em Cosso, ela fez o mesmo em Yiá.

A ira da mulher búfalo.

Ogum foi caçar na floresta, como fazia todos os dias. De repente, um búfalo veio em sua direção rápido como um relâmpago; notando algo de diferente no animal, ogum tratou de segui-lo. O búfalo parou em cima de um formigueiro, baixou a cabeça e despiu sua pele, transformando-se numa linda mulher. Era Iansã, coberta por belos panos coloridos e braceletes de cobre. Iansã fez da pele uma trouxa, colocou os chifres dentro e escondeu-a no formigueiro, partindo em direção ao mercado, sem perceber que ogum tinha visto tudo. Assim que ela se foi, ogum se apoderou da trouxa, guardando-a em seu celeiro.

Depois foi a cidade, e passou a seguir a mulher até que criou coragem e começou a cortejá-la. Mas como toda mulher bonita, ela recusou a corte. Quando anoiteceu ela voltou à floresta e, para sua surpresa, não encontrou a trouxa. Tornou à cidade e encontrou ogum, que lhe disse estar com ele o que procurava. Em troca de seu segredo (pois ele sabia que ela não era uma mulher e sim animal), Iansã foi obrigada a se casar com ele; apesar disso, conseguiu estabelecer certas regras de conduta, dentre as quais proibi-lo de comentar o assunto com qualquer pessoa.

Chegando em casa, ogum explicou suas outras esposas que Iansã iria morar com ele e que em hipótese alguma deveriam insultá-la. Tudo corria bem; enquanto ogum saía para trabalhar, Iansã passava o dia procurando sua trouxa.

Desse casamento nasceram nove filhos, o que despertou ciúmes das outras esposas, que eram estéreis. Uma delas, para vingar-se, conseguiu embriagar ogum e ele acabou relatando o mistério que envolvia Iansã. Logo que o marido se ausentou, elas começaram a cantar: "Você pode beber, comer e exibir sua beleza, mas a sua pele está no depósito, você é um animal." Iansã compreendeu a alusão. Depois que Iansã encontrou então sua pele e seus chifres. Assumiu a forma de búfalo e partiu para cima de todos, poupando apenas seus filhos.

Decidiu voltar para a floresta, mas não permitiu que os filhos a acompanhassem, porque era um lugar perigoso. Deixou com eles seus chifres e orientou-os para, em caso de perigo deveriam bater os chifres um contra o outros; com esse sinal ela iria socorrê-los imediatamente. E por esse motivo que os chifres estão presentes nos assentamentos de Iansã /oya.

Orixá do fogo.

Embora tenha sido esposa de Sangô, Iansã percorreu vários reinos e conviveu com vários Reis. Foi paixão de Ogum, Osogiyan e de Esú. Conviveu e seduziu Osossi, Logun-Edé e tentou em vão relacionar - se com Obaluaê. Sobre este assunto a história conta que Iansã percorreu vários Reinos usando sua inteligência, astúcia e sedução para aprender de tudo e conhecer igualmente tudo. Em Irê, terra de Ogum foi a grande paixão do Guerreiro. Aprendeu com ele o manuseio da espada e ganhou deste o direito de usá-la. Depois partiu e foi para Oxogbo, terra de Osogiyan. Com ele aprendeu o uso do Escudo para se defender de ataques inimigos e recebeu o direito de usá-lo. Depois partiu e nas estradas deparou-se com Esú. Com ele aprendeu os mistérios do fogo e da magia. No reino de Osossi, seduziu o Deus da Caça, e aprendeu a caçar, a tirar a pele do búfalo e se transformar naquele animal com a ajuda da magia aprendida com Esú. Seduziu Logun-Odé e com ele aprendeu a pescar. Foi para o Reino de Obaluaê, pois queria descobrir seus mistérios e conhecer seu rosto. Lá chegando, insinuou-se. Mas muito desconfiado, Obaluaê perguntou o que Oya queria e ela respondeu:

-”Queria ser sua amiga".

Então, fez sua Dança dos Ventos, que já havia seduzido vários reis. Contudo, sem emocionar ou sequer atrair a atenção de Obaluaê. Incapaz de seduzí-lo, Iansã procurou apenas aprender, fosse o que fosse. Assim dirigiu-se ao homem da palha:
-"Aprendi muito com os outros Reis, mas só me falta aprender algo contigo."
- "Quer mesmo aprender, Oya? Vou te ensinar a tratar dos Mortos".

Venceu seu medo com sua ânsia de aprender e com ele descobriu como conviver com os Eguns e a controlá-los. Partiu então para o Reino de Sangô, pois lá acreditava que teria o mais vaidoso dos reis e aprenderia a viver ricamente. Mas ao chegar ao reino do Rei do Trovão, Iansã aprendeu mais do que isso, aprendeu a amar verdadeiramente e com uma paixão violenta, pois Sangô dividiu com ela os poderes do raio e deu à ela seu coração. O fogo das paixões, o fogo da alegria e o que queima. Ela é o Orixá do Fogo.

O sopro.

Osogyian estava em guerra, mas a guerra não acabava nunca, tão poucas eram as armas para guerrear. Ògún fazia as armas, mas fazia lentamente. Osogyian pediu a seu amigo Ògún urgência, mas o ferreiro já fazia o possível. O ferro era muito demorado para se forjar e cada ferramenta nova tardava como o tempo. Tanto reclamou Osaguiã que Oyá, esposa do ferreiro, resolveu ajudar Ògún a apressar a fabricação.
Oyá se pôs a soprar o fogo da forja de Ògún e seu sopro avivava intensamente o fogo e o fogo aumentado de calor derretia o ferro mais rapidamente. Logo Ògún pode fazer muitas armas e com as armas Osogyian venceu a guerra. Osogyian veio então agradecer Ògún. E na casa de Ògún enamorou-se de Oyá. Um dia fugiram Osogyian e Oyá, deixando Ògún enfurecido e sua forja fria. Quando mais tarde Osogyian voltou à guerra e quando precisou de armas muito urgentemente, Oyá teve que voltar a avivar a forja. E lá da casa de Osogyian, onde vivia, Oyá soprava em direção à forja de Ògún. E seu sopro atravessava toda a terra que separava a cidade de Osogyian da de Ògún. E seu sopro cruzava os ares e arrastava consigo pó, folhas e tudo o mais pelo caminho, até chegar às chamas com furor atiçava. E o povo se acostumou com o sopro de Oyá cruzando os ares e logo o chamou de vento. E quanto mais a guerra era terrível e mais urgia a fabricação das armas, mais forte soprava Oyá a forja de Ògún. Tão forte que às vezes destruía tudo no caminho, levando casas, arrancando árvores, arrasando cidades e aldeias.
O povo reconhecia o sopro destrutivo de Oyá e o povo chamava a isso tempestade.

Respeito.

Oiá desejava ter filhos, mas não podia conceber Oiá foi consultar um babalaô e ele mandou que ela fizesse um ebó. Ela deveria oferecer um carneiro, um agutã, muitos búzios e muitas roupas coloridas. Oiá fez o sacrifício e teve nove filhos. Quando ela passava, indo em direção ao mercado, o povo dizia:
-"Lá vai Iansã".
Lá ia Iansã, que quer dizer mãe nove vezes. E lá ia ela toda orgulhosa ao mercado vender azeite-de-dendê. Oiá não podia ter filhos, mas teve nove, depois de sacrificar um carneiro, e em sinal de respeito por seu pedido atendido Iansã, a mãe de nove filhos, nunca mais comeu carneiro.

Corajosa e atrevida.

Certa vez houve uma festa com todas as divindades presentes. Omulu-Obaluaê chegou vestindo seu capucho de palha. Ninguém o podia reconhecer sob o disfarce e nenhuma mulher quis dançar com ele. Só Oiá, corajosa, atirou-se na dança com o Senhor da Terra. Tanto girava Oiá na sua dança que provocava vento. E o vento de Oiá levantou as palhas e descobriu o corpo de Obaluaê. Para surpresa geral, era um belo homem. O povo o aclamou por sua beleza.

Obaluaê ficou mais do que contente com a festa, ficou grato e em recompensa, dividiu com ela o seu reino. Fez de Oiá a rainha dos espíritos dos mortos. Rainha que é Oiá Igbalé, a condutora dos eguns.

Oiá então dançou e dançou de alegria para mostrar a todos seu poder sobre os mortos, quando ela dançava, agitava no ar o iruquerê, o espanta-mosca com que afasta os eguns para o outro mundo.
Rainha Oiá Igbalé, a condutora dos espíritos. Rainha que foi sempre a grande paixão de Omulu.

Estas três narrativas retratam o temperamento violento e, ao mesmo tempo, doce de Oyá. A primeira explicita a sua condição animalesca e seu encontro com o Orixá da guerra Ogum. Nela, evidencia-se o lado vingativo e colérico da senhora dos ventos e sua relação com seus nove filhos, quando ela os deixa, mas os entrega uma forma mágica de convocá-la sempre que necessário. E, também, referindo-se a sua outra forma: o raio. A segunda trata sobre o caráter autônomo, transgressor e teimoso da deusa. Que sai num rompante tempestuoso, por ter sido repreendida e proibida pelos pais de fazer algo da sua vontade. Ela enraivece-se se transformando no vento. A terceira expõe o lado doce da intempestiva Iansã. Narrando um dos domínios rituais mais importantes da religião dos Orixás, que é dirigido sob a égide de Oyá: o axexê. Da tristeza e da dedicação amorosa para com seu pai adotivo, o Grande Caçador, depois da sua morte, Iansã inventa os ritos fúnebres que se usa no Candomblé, tornando-se a protetora absoluta dos espíritos dos humanos que desencarnam.

O poeta e antropólogo Antonio Risério escreveu o livro Oriki Orixá (1996), analisando e registrando os fundamentos reveláveis dessa forma primorosa da chamada literatura oral africana voltada para o sagrado.

É desse livro que se retiram alguns versos dedicados a Oyá-Iansã, demonstrando seus domínios e suas principais características:

Oriki 1: Oiá na cidade, Oiá na aldeia
Mulher suave como o sol que se vai
Mulher revolta como vendaval
Levanta e chama o vendaval
Levanta e anda na chuva
Assim é a grande Oiá
Eparipá Oiá ô, hê-hê-hê
Firme no meio do vento
Firme no meio do fogo
Firme no meio do vendaval
Firme Orixá
Bate sem mover a mão
Firme orixá... (Risério, 1996, p. 49)

Oriki 2: Leopardo que come pimenta crua.
Mulher de vestes vistosas.
Cabaça rara, diante do marido.
Eparrei!
O que Xangô disser
Oiá logo saberá.
Ela entende o que Xangô
Nem chegou a falar.
E o que ele quiser dizer
Oiá dirá.
Ê ê ê-par-rei!
Oiá, árvores desarvora.
Adeus, morte.
Minha mãe de roupa de fogo.
Nada de mentiras para ti
Nada de mentiras para ti.
As marcas na tua pele calam o alabê.
Oiá ô
Mulher neblina no ar.
Oiá, leopardo que come pimenta crua (Risério, 1996, p. 144)

Oriki 3: Amor de Xangô
Epa, senhora sem medo
De segredo de egum.
Ialodê
Espada na mão
Bela no batuque
Do tantã tambor.
Ventania que varre lares
Ventania que varre árvores
Não nos desarvore.
Epa Oiá, maravilha de Irá.
Quem não sabe que Oiá é mais que marido?
Oiá é mais que o alarido de Xangô. (Risério, 1996, p. 150)

Nos textos acima transcritos mais uma vez as características de Oyá-Iansã são exaltadas: o seu domínio sobre os ares e o fogo, a sua determinação, seu temperamento em cólera, a sua união a Xangô e, mais ainda, a sua preponderância sobre o marido, a sua independência como mulher, tornando-se maior que o alarido do homem Xangô.

Cantos á Oya.

“Pontos de Iansã
Umbanda
Eparrei Oya
Eparrei Iansã

Iansã orixá de Umbanda
Rainha do nosso congá
Saravá Iansã! Lá na aruanda, eparrei, eparrei,
Iansã venceu demanda
Iansã, saravou pai Xangô! No céu trovão roncou
E lá na mata o leão bradou, Saravá Iansã! Saravá Xangô!

Eparrei Oya
Eparrei Iansã

Oya é moça rica, ela é filha de Xangô!
Oya é moça rica, ela é filha de Xangô!
Iansã chegou na umbanda e o seu reino saravou

Eparrei Oya
Eparrei Iansã.”

Oyá-Iansã:
O vento da transformação
“O raio de Inhansã sou eu
Cegando o aço das armas de quem guerreia
E o vento de Inhansã também sou eu
Que Santa Bárbara é Santa que me clareia”
(A dona do raio e do vento, Paulo César Pinheiro).

“Eu sou o céu para suas tempestades.
Um céu partido ao meio no meio da tarde”.
(Caetano Veloso, Gilberto Gil, Iansã).

Fontes:
Wikipédia
http://douglashartt.blogspot.com.br/
Marlon Marcos Vieira Passos – Dissertação: Oyá – Bethânia: Os mitos de um Orixá nos ritos de uma estrela.

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