terça-feira, 14 de agosto de 2018

Deusa Gaia, A Grande Mãe


Gaia, Geia ou Gé (em grego: Γαῖα), na mitologia grega, é a Mãe-Terra, como elemento primordial e latente de uma potencialidade geradora incrível.

Epítetos: Kourotrophos (a que Nutre as Crianças), Meter (Mãe), Physis (Natureza).
Atributos e símbolos: Qualquer grão, flor ou planta, exceto por feijões e ervas aromáticas.
Aspectos: Deusa-Mãe; Deusa-Terra, Deusa da Natureza.
Descendentes: Urano; Pontos; Óreas; ciclopes; hecatônquiros; Titãs; Píton; Ceto; Euríbia; Nereu; Fórcis; Taumante; Equídna; Tífon; dentre outros.


Na Theogonía de Hesíodos, Gaia é um dos Protogenos, “deuses primordiais”, primeiros elementos a emergir do Kháos. Tal como Kháos, Gaía, “a de amplos seios”, parece possuir uma natureza forte, pois gera sozinha, “sem doce união de amor”: Ouranós o Céu estrelado, Póntos as infrutíferas profundezas do Mar, e os Oúrea, as grandes e numerosas Montanhas, belos abrigos das divinas Nýmphes.

Os Theoí Ouranioí (deuses celestiais) descendiam de sua união com Ouranós, os Theoí Halioí (deuses do mar) de sua união com Póntos, as Nýmphes (elementais) de sua união com os Oúrea, o monstruoso Typhôeús (furacão) de sua união com Tártaros, também emergido diretamente do Kháos. Os Gígantes (nascidos da terra), os Autokhthónes (primeiros reis), os Prôtódêmoi (primeiros povos), além dos Téres (monstros), dos Zóes (animais) e Phytaí (vegetais), que brotaram ou nasceram de sua carne terrosa.

Hesíodos sugere que ela tenha gerado Ouranós com o desejo de se unir a alguém semelhante a si mesma em natureza. Isso porque Gaía personifica a base onde se sustentam todas as coisas, e Ouranós é então o abrigo dos deuses bem-aventurados.

No mito órfico, Gaía sob o nome de Phýsis emerge de Hýdros (água) e Thésis (criação) e com ele gera Aíôn (tempo eterno) e Anánkê (tempo necessário).

Segundo Pseúdos-Hygínos, Terra e Coelum são filhos de Aether e Dies e mãe de Pontus e Tartarus com Aether, além de inúmeros Daemones como, Dolor, Dolus, Ira, Luctus, Mendacium, Iusiurandum, Ultio, Intemperantia, Altercatio, Oblivio, Socordia, Timor, Superbia, Incestum e Pugna.

Com Ouranós, Gaía gerou os seis Titánes: Ôkeanós (água doce), Koíos (eixo celeste) Kreíos (constelações), Hýperíôn (fogo astral) e Iapetós (ancestral da raça humana), e as seis Titanídes: Theía (visão), Rheía (fluxo), Thémis (ordem natural), Mnemosýnê (memória), Phoíbê (eixo terrestre) a de dourada coroa e a formosa Têthýs (água salgada) “em seguida nasceu o astuto Krónos (tempo), o mais jovem e terrível de seus filhos, e este odiou a seu luxurioso pai”.

Gaía concebeu mais tarde outra descendência com Ouranós. Primeiro os Kýklopes, gigantes de um só olho, construtores de muralhas, aos que posteriormente lhes deram os nomes: Bróntês (“o que troveja”), Sterópês (“o que dá o raio”) e Árgês (“o que brilha”): “Havia força, vigor e destreza em suas obras”. Logo acrescentaram-se os três terríveis filhos de cem braços armados com lanças, os Hekatónkheires: Kóttos (“forte”), Briáreos (“robusto”) e Gýgês (“terreno”), cada um com cinqüenta cabeças.

Sendo Ouranós capaz de prever o futuro, temeu o poder de filhos tão grandes e poderosos e os encerrou novamente no útero de Gaía, nas profundezas escuras do Tártaros, onde não podiam ver a luz, e se regozijou de sua maldade. Ela, que gemia com dores atrozes sem poder parir, chamou seus filhos Titánes e pediu auxílio para libertar os irmãos e se vingar do pai. Somente Krónos aceitou. Gaía então tirou do peito o aço e fez a foice dentada. Colocou-a nas mãos de Krónos e o escondeu, para que, quando viesse Ouranós, durante a noite não percebesse sua presença. Ao descer, Ouranós, para se unir mais uma vez com a esposa, foi surpreendido por Koíos e três dos seus irmãos que armaram uma emboscada colocando-se nos quatro pontos cardeais para agarrar o pai enquanto Krónos, atacava e castrava-o, Koíos se posicionava no Norte como a constelação de Draco, Hyperíôn no Leste onde nasce o sol, Iapetós no Oeste onde fica o pilar do céu, e Kreíos no sul como a constelação de Aries, separando assim o Céu e a Terra.

Após a castração de seu pai, Krónos lançou primeiro a foice ao mar e esta se transformou na ilha de Kérkyra, morada dos Phaíakes, povo abençoado pelos deuses, depois lançou os genitais de Ouranós em Thálassa (o mar) e gerou assim Aphrodítê (deusa do amor) da espuma que se formara, mas algumas gotas de ikhór (sangue divino) caíram sobre Gaia, fecundando-a. Do ikhór de Ouranós derramado sobre Gaía, nasceram os Kourétes (jovens cretenses) com armaduras e as belas Meliádes (freixos), o ikhór de Ouranós também jorrou sobre Nýx que gerou as três Erinýes (vinganças): Alektó (implacável), Tisiphónê (punitiva) e Mégaira (rancorosa) e também sobre Heméra que gerou as três Moúses (artes): Mnémê (memória), Melétê (ensaio) e Aoídê (canto).

Ouranós chamou seus filhos de Titánes (“os que abusam”), já que “com temerária sensatez haviam cometido um ato terrível pelo qual logo teriam justo castigo”, pois tal como Ouranós havia sido deposto por seu próprio filho, Krónos também estava destinado a ser derrotado pelo seu.

Após a queda de Ouranós, Gaía gerou com Póntos, os Pontídes: Nereús (velho do mar), Thaúmas (maravilhas do mar), Phórkys (nevoento), Kétos (monstro marinho), Eurybía (grande violência) e Khárybdis (fôlego). Com os Oúrea teve as Nýmphes Epigaíai (donzelas terrestres), Agrônomoí (dos campos cultivados), Alseídes (dos bosques), Antryádes (das cavernas), Auloníades (dos pastos), Leimônídes (dos prados), Napaíai (dos vales), Oreiádes (das montanhas). Krónos subiu ao trono do mundo e libertou os irmãos. Mas vendo o quanto eram poderosos, também os temia e os aprisionou mais uma vez, sendo guardados pela monstruosa Kámpê. Gaía, revoltada com o ato de tirania e intolerância do filho, tramou uma nova vingança.

Quando Krónos se casou com Rheía e passou a reger todo o universo, Ouranós lhe anunciou que um de seus filhos o destronaria. Ele então passou a devorar cada recém nascido por conselhos do pai. Mas Gaía ajudou Rheía a salvar o último filho que viria a ser Zeús (rei divino). Rheía então, em vez de entregar seu filho para Krónos devorar entregou-lhe uma pedra envolta em panos, e escondeu-se em uma caverna do monte Ida na ilha de Krétê onde pode parir com a ajuda de Gaía, no momento do parto Rheía segurou com força a terra e dela gerou os Dáktyloi (dedos): Hekáteros, Epimédês, Paiônaíos, Iasíos, Seilênós. O filho foi criado e educado pelas Meliádes: Melíê, Melíssa, Helíkê, Kynosoúra, Ídê, Díktê, Amalteía, Adamanteía e Adrásteia, alimentado com mel dos carvalhos e leite da cabra Górgon Aix, e protegido pelos Kourétes: Prymneús, Pyrríkhos, Hóplodamos, Ókytos, Idaíos, Melisseús, Ánytos, Sókos, Óxylos.

Já adulto, Zeús libertou seus irmãos, os Kronídes: Hestía (lar), Dêmétêr (agricultura), Héra (casamento), Hádês (submundo) e Poseidón (mares), do ventre de Krónos com a ajuda da Ôkeanís Métis (com ela foi pai de Athéna) que preparou um veneno que o faria vomitá-los, primeiramente veio a pedra que foi lançada no centro do mundo em Delphoí, chamada assim de Ómphalos (“umbigo”) e se tornou o monte Parnassós, declarou então guerra ao pai e aos demais Titánes. E durante cem anos nenhum dos lados chegava ao triunfo. Gaía então foi até Zeús e prometeu que ele venceria e se tornaria rei do universo se descesse ao Tártaros e libertasse os três Kýklôpes e os três Hekatónkheires.

Ouvindo os conselhos de Gaía, Zeús venceu Krónos, matou Kámpê e com a ajuda dos filhos libertos da Terra, os Kýklôpes lhe ofereceram o trovão e o relâmpago como arma, para Poseidón o tridente e para Hádes, o capacete invisível, os Hekatónkheires lutaram lançando inúmeras montanhas contra os Titánes, somente alguns Titánes participaram, entre eles Krónos, Iapetós, Koíos, Kreíos, Átlas e Menoítios, outros como Ôkeanós e as Titanídes permaneceram neutros, assim se tornou o novo soberano do Universo. Todavia, Zeús encarcerou no Tártaros apenas alguns, impondo outras penalidades aos demais, Átlas foi condenado a sustentar o céu em seus ombros. Por fim realizou um acordo com os Hekatónkheires para que estes vigiassem os Titánes no fundo do Tártaros. Gaía pela terceira vez se revoltou e lançou mão de todas as suas armas para destronar Zeús.

Num primeiro momento, ela pariu os incontáveis Andrógynoi, seres com quatro pernas e quatro braços que se ligavam por meio da coluna terminado em duas cabeças, além de possuir os órgãos genitais femininos e masculinos. Os Andrógynoi surgiam do chão em todos os quadrantes e escalavam o Ólympos com a intenção de destruir Zeús, mas, por conselhos de Thémis, ele e os demais deuses deveriam acertar os Andrógynoi na coluna, de modo a dividi-los exatamente ao meio. Assim feito, Zeús venceu.

Gaía gerou então seus inúmeros filhos Gígantes: Agríos, que foi morto pelas Moíres que lhe golpearam com umas maças de bronze. Alkyoneús, que era imortal enquanto lutasse em sua terra de origem, foi morto por Heraklés que o arrastou fora de Pallénê, após disparar-lhe uma flecha. Álpos, foi morto por Diónysos. Klytíos, foi morto por Hekátê com tochas. Khthoníôn foi convencido por Héra a lutar contra Diónysos, prometendo-lhe em troca Aphrodítê. Damasén, criado por Éris, matou uma vez a uma serpente que foi devolvida a vida por outra serpente, sua companheira, com a ajuda de uma erva curativa. Ephiáltês se rebelou contra os deuses e Apóllôn lhe disparou uma flecha no olho esquerdo e Heraklés no direito. Enkélados morava sobre o monte Aítna, cujos estrondos eram provocados por suas revoluções. Athéna lhe arremessou encima da ilha da Sikelía. Eúrytos foi morto por Diónysos com seu thýrsos. Gratíôn foi morto por Ártemis. Hippólytos foi morto por Hermés, que usava o capacete de Hádes. Mímas foi morto por Héphaistos com projéteis de metal em vermelho vivo, mas alguns dizem que foi morto por Árês. Palas foi morto por Athéna, que usou sua pele como escudo para seu próprio corpo. Pelôreús foi convencido por Héra a lutar contra Diónysos. Polýbotês foi morto por Poseidón, que rompeu um pedaço da ilha de Kós e o arremessou sobre ele. Porphyríôn rasgou a túnica de Héra com a intenção de violá-la, e que esta lhe havia prometido a Hébê por esposa si lutasse contra Diónysos, Zeús lhe feriu com um raio e Heraklés lhe rematou com uma flecha. Týphôn filho do primeiro Typhôeús, igual a ele em tudo, lutou contra Diónysos. Thoón foi golpeado até a morte pelas Moíres com maças de bronze e travou-se longa batalha.

Gaía também produziu uma planta que ao ser comida poderia dar imortalidade aos Gígantes; todavia a planta necessitava de luz para crescer. Mas ao saber disto Zeús ordenou que Hélios, Selénê, Eós e os Ástra não subissem ao céu, e escondido nos véus de Nýx, ele encontrou a planta e a destruiu. Mesmo assim Gaía incitou os Gígantes sobreviventes a colocarem as montanhas umas sobre as outras na intenção de subir o céu e invadir o Ólympos. Mas Zeús e os outros deuses venceram novamente.

Como última alternativa, enviou seu filho mais novo e o mais horrendo, Typhôeús, gerado de sua união com Tártaros, para dar cabo dos deuses e seus aliados, Typhôeús começou a destruir cidades e arremessar montanhas em fúria; Hádes, com a ajuda de Kheírôn e dos heróis remanescentes tentaram deter o monstro, que se aproximava do Ólympos. Kérberos recusou enfrentar seu próprio pai, até que Hádes foi imobilizado pelas muitas serpentes de Typhôeús. Quando os deuses viram Typhôeús avançando em direção ao Ólympos, fugiram aterrorizados para o Egito, onde tentaram se esconder no deserto transformando-se em animais. Zeús tornou-se um carneiro, Apóllôn um corvo, Diónysos uma cabra, Héra se transformou em uma vaca, enquanto Aphrodítê tornou-se um peixe e Árês um porco. De todos os deuses, somente Athéna teve coragem de permanecer com sua própria forma.

Repreendido por Athéna por sua covardia, Zeús, por fim, resolveu combater o monstro. Enviando um raio contra Typhôeús, avançou contra a criatura horrível no Olýmpos girando a foice que tinha sido utilizada por seu pai Krónos para castrar seu avô, Ouranós. Os dois se defrontaram. Typhôeús desarmou Zeús facilmente e usou sua arma para arrancar os nervos essenciais da consciência e os tendões dos pés e dos braços do deus. Então o arrastou impotente e veio trancá-lo na caverna de Korykía, na Sikelía, onde o Zeús imortal permaneceu incapaz de mover-se, guardado pela ira de Typhôeús, que envolveu os músculos de Zeús em uma pele de urso e os confiou a Delphynê, um monstro com língua de serpente, algumas vezes dita ser o próprio monstro um dragão. Typhôeús perseguiu Zeús por muitos anos.

Depois Hermés e Pán, para evitar o desastre, recorreram a um estratagema. Entraram secretamente na caverna onde Zeús permanecia cativo e conseguiram vencer Delphynê, fazendo-a adormecer com uma flauta. Outras versões dizem que Pán a teria assustado fazendo um barulho enorme, visto a palavra pânico derivar justamente dessa habilidade de Pán. Hermés descobriu que os tendões tinham sido escondidos e os costurou nos membros de Zeús. Mas o combate continuou.

Zeús retornou imediatamente ao Olýmpos. Montado numa biga puxada por cavalos alados, travou luta mais uma vez com Typhoeús. Este arremessou montanhas inteiras contra Zeús, mas o deus usou seus raios para fazer as montanhas voltarem contra seu arremessador. Typhoeús fugiu e Zeús o perseguiu.

Com ajuda de Poseidón e Hádes, Zeús enfrentou Typhôeús com seus raios e trovões, e a luta violenta fez tremer o céu, a terra e o mar, e abalou o próprio mundo subterrâneo. Venceu-o com dificuldade e soterrou Typhôeús sob o Monte Aítna, Héphaistos colocou-lhe sobre suas cabeças pesadas bigornas, impedindo-o de libertar-se. Esta foi à única vez que Zeús chegou perto da derrota.

Enfim, Gaía cedeu e acordou com Zeús que jamais voltaria a tramar contra seu governo. Dessa forma, ela foi recebida como uma Théa Olýmpia (deusa olímpica).

NASCIMENTO DO UNIVERSO

“Antes de todas as coisas era o Kháos; e depois Gaía a de amplo seio, assento sempre sólido de todos os Imortais que habitam os cumes do nevado Ólympos e o Tártaros sombrio escavado nas profundezas da terra espaçosa; e depois Érôs, o mais formoso entre os Deuses Imortais, que rompe as forças, e que de todos os Deuses e de todos os homens domina a inteligência e a sabedoria em seus peitos. E de Kháos nasceram Érebos e a negra Nýx, Aithér e Heméra nasceram, porque os concebeu ela após unir-se em amor a Érebos. E primeiro pariu Gaía a seu igual em grandeza, a Ouranós estrelado, com o fim de que a cobrisse por inteiro e fosse uma morada segura para os Deuses ditosos. E depois pariu aos Oúrea enormes, frescos retiros das divinas Nýmphes que habitam as montanhas abundantes em vales pequenos; e depois, o mar estéril que bate furioso, Póntos; mas a estes os gerou sem unir-se a ninguém nas suavidades do amor. E depois, concubina de Ouranós, pariu a Ôkeanós o de redemoinhos profundos, e a Koíos, e a Kreíos, e a Hyperíôn, e a Iapetós, e a Theía, e a Rheía, e a Thémis, e a Mnemosýnê, e a Phoíbê coroada de ouro, e a amável Têthýs. E o último a quem pariu foi o sagaz Krónos, o mais terrível de seus filhos, que cobrou ódio por seu pai vigoroso.” – Hesíodos, Theogonía.

"Antes do mar, da terra e céu que tudo cobre, a natureza tinha, em todo o orbe, um só rosto a que chamaram Chaos, massa rude e indigesta; nada havia, a não ser o peso inerte e díspares sementes mal dispostas de coisas sem nexo.

Inda nenhum Titan iluminava o mundo, nem Phoebe, no crescente, os chifres renovava, nem a terra pendia no ar circunfuso, suspensa no seu peso, nem, por longas margens, os seus braços havia espraiado Amphitrite.

E como ali houvesse terra e mar e ar, instável era a terra, a onda inavegável e o ar sem luz; a nada aderia uma forma, e cada coisa obstava outras, pois num só corpo o frio combatia o quente, o seco o úmido, o mole o duro, e o peso o que não tinha peso.

Tal disputa um Deus de uma melhor natureza resolveu, pois de Coelum, Terra, e de Terra separou Pontus, e o fluente Aether separou de Coelum espesso. Estas coisas, depois de que as separou e libertou de sua cega acumulação, dissociadas por lugares, com uma concorde paz as uniu.

A força ígnea e sem peso do convexo Coelum atrelou e um lugar se fez no supremo recinto. Próximo está Aether a ela em leveza e em lugar. Mais densa que eles, Terra, os elementos grandes arrastou e presa foi pela sua gravidade; o circunfluente gênio por último possuiu e conteve ao sólido orbe. Assim quando disposta estava, quem quer que fosse aquele, dos Deuses, esta acumulação sarjou, e sarjada em membros a refez.

No princípio Terra, para que não fosse desigual por nenhuma parte, em forma a aglomerou de grande orbe; então aos estreitos difundirem-se, e que por arrebatadores Venti se intumescessem ordenou e que da rodeada Terra circundassem os litorais.

Acrescentou também fontes e pântanos imensos e lagos, e as correntes declinantes cingiu de oblíquas margens, as quais, diversas por seus lugares, em parte são sorvidas por ela, em Pontus elevam-se em parte, e em tal planície recebidas de mais livre água, em vez de ribeiras, seus litorais batem. Ordenou também que se estendiessem as planícies, que se afundassem os vales, que de folhagens se cobrissem os bosques, lapídeos que se elevassem os Montanum.

E, como duas pela direita e outras tantas por sua parte esquerda, em Coelum cortam umas faixas, a quinta é mais ardente que aquelas, igualmente a carga nele incluída a distinguiu com o mesmo número o cuidado do Deus, e outras tantas chagas em Terra se marcam.

Das quais a que no meio está não é habitável pelo calor. Neve cobre, alta, a segunda; outras tantas entre ambas colocou e temperança lhes deu, misturada com o frio a chama. Domina sobre elas Aether, o qual, enquanto é, que o peso de Terra, seu peso, que o de Pontus, mais veloz, no entanto é mais pesado que o Sol.

Ali também as névoas, ali fixar-se as Nebulae ordenou, e os que haveriam de locomover, os trovões, as humanas mentes, e com os raios, fazedores de relâmpagos, os Venti.

A eles também não por todas as partes o artífice do mundo que tivessem Aether lhes permitiu. Apenas agora se pode impedir a eles, quando cada um governa seus sopros por diverso trecho, que destroem o Cosmos: tão grande é a discórdia dos irmãos.

Eurus, a Aurora e aos Nabateus reinos se retirou, e a Persia, e os cumes submetidos aos raios matutinos. Lucipher e os litorais que com o obsoleto Sol se temperam, próximos estão a Phavonius; Skythia e os Hyperboreioi horrendo os invadiu o Austrius. A contrária região com nuvens assíduas e chuva a umedece o Notus.

Dele em cima impôs, fluido e de gravidade carente, o Aether, e que nada da terrena face possuí. Apenas assim com certos limites havia cercado tudo, quando, as que presa muito tempo haviam sido de uma neblina cega, as Astrae começaram a ferver por todo o Coelum, e para que região não houvesse nenhuma de seus viventes órfã, as Astrae possuem o Coelum solo, e com elas as formas dos deuses; cedeu para ser habitado pelos nítidos peixes Pontus, Terra as feras acolheu, aos voadores o agitado Aether.

Mais santo que eles um vivente, e de uma mente alta mais capaz, faltava todavia, e que dominar nos demais pudesse: criado o homem foi, seja que a ele com divina semente o fez aquele artesão das coisas, de um mundo melhor a origem, seja que de recente Terra, e afastada pouco antes do alto Aether, retinha sementes de seu parente Coelum; a ela, a linhagem de Iapetus, misturada com pluviais ondas de Pontus, a modelou na efígie dos que governam tudo, os deuses, e embora inclinados contemplem os demais viventes Terra, uma boca sublime ao homem deu e Coelum e as Stella ver lhe ordenou levantar erguido seu semblante.

Assim, a que pouco antes havia sido rude e sem imagem, Terra se vestiu das desconhecidas figuras, transformadas, dos homens." – Obídios, Metamorphóseis.

TITANOMAKHÍA

"E Rheia, subjugada por Kronos, pariu uma ilustre raça, os Kronides: Hestia, Demeter, Hera a de sandálias douradas e o poderoso Haides, que habita sob a terra e cujo coração é inexorável; e o retumbante Poseidon, e o sábio Zeus, pai dos Theoi e dos Anthropoi, cujo trovão locomove a terra espaçosa.

Mas o grande Kronos os tragava à medida que desde o seio sagrado de sua mãe lhe caiam nos joelhos. E o fazia assim com o fim de que nenhum entre os ilustres Ouranides possuisse jamais do poder supremo entre os imortais.

Porque, efetivamente, Gaia e Ouranos estrelado lhe inteiraram de que estava destinado a ser dominado por seu próprio filho, pelos desígnios do grande Zeus, apesar de sua força. E por isso, não sem habilidade, meditava seus estratagemas e devorava a seus filhos. E Rheia estava oprimida por uma grande dor.

Mas, quando ia partir Zeus, pai dos Theoi e dos Anthropoi, suplicou a seus queridos pais, Gaia e Ouranos estrelado, que lhe ensinassem os meios do qual se valeriam para ocultar o nascimento de seu querido filho e para poder castigar os furores paternos contra os outros filhos a quem Kronos havia devorado. E Gaia e Ouranos atenderam a sua filha bem-amada e lhe revelaram quais seriam os destinos do rei Kronos e de seus filhos magnânimos.

E a enviaram a Liktos, rica cidade de Krete, no momento em que ela ia partir ao último de seus filhos ao grande Zeus. E a grande Gaia lhe recebeu na vasta Krete, para criá-lo e educá-lo. E em seguida o levou a Liktos, atravessando a noite negra; logo, carregando-o com suas mãos, o escondeu dentro de um antro elevado, nos flancos da terra divina, sobre o monte Argeus, coberto de espessas selvas. Depois, após envolver entre mantos uma pedra enorme, Rheia a deu ao grande príncipe Ouranide, ao antigo rei dos Theoi, e este a pegou e a lançou ao ventre.

Insensato! Não previa em seu espírito que, em troca desta pedra, sobreviveria seu filho invencível e em segurança e dominando-lhe muito logo com a força de suas mãos, lhe arrebataria seu poderio e mandaria por si só nos imortais. E o vigor e os membros robustos do jovem rei cresciam rapidamente e transcorrido um tempo, enganado pelo conselho astuto de Gaia, o sagaz Kronos devolveu toda sua raça, vencido pelos artifícios e pela força de seu filho.

E primeiro vomitou a pedra que havia tragado por último, a Omphalos. E Zeus a sujeitou fortemente na terra espaçosa, sobre a divina Pythos, no fundo da garganta do Parnassos para que fosse um monumento futuro e uma maravilha para os Anthropoi mortais.

E Zeus livrou de suas cadeias opressoras a seus tios, os Ouranides, a quem haviam encarcerado seus pais em um acesso de demência. E corresponderam eles neste benefício, e lhe deram o trovão, e a branca centelha, e o relâmpago, que até então havia escondido a grande Gaia em seu seio. E desde aquela estação, confiado em suas armas, Zeus manda nos Anthropoi e nos Theoi." – Hesíodos, Theogonía.

GIGANTOMAKHÍA

"E quando Zeus havia expulsado de Ouranos aos Titanes, a grande Gaia pariu seu último filho, Typhoeus, após unir-se em amor a Tartaros pela Áurea Aphrodite.

E eram ativas no trabalho as mãos, e eram infatigáveis os pés do robusto Theos. E de seus ombros saiam cinquenta cabeças de um horrível dragão, com línguas negras. E sob as sobrancelhas, os olhos dessas cabeças monstruosas flamejavam em fogo, e brotava este fogo de todas essas cabeças que olhavam.

E saiam vozes de todas essas cabeças horrendas, produzindo sons de todas as classes, inefáveis, semelhantes às próprias vozes dos Theoi, ou a voz de um enorme touro mugindo feroz, ou a de um leão de alma taciturna, —coisa prodigiosa— ao latido dos cães, ou ao ruído estridente das altas montanhas.

E acaso naquele dia se não houvesse mandado nos mortais e nos imortais, si não houvesse compreendido assim em seguida o pai dos Anthropoi e dos Theoi, e trovejou com ímpeto e com força, e por todas as partes Gaia recebeu um choque horrível, e por cima dela, o amplo Ouranos, e Pontos, e Okeanos, e a profundidade de Gaia.

E sob os pés imortais, cambaleou o grande Olympous quando se levantou o rei, e gemeu Gaia. E os Anemoi e a centelha ardente se espalharam por todos os lados sobre o negro Pontos, e a chama e o trovão, e o relâmpago, e os turbilhões de fogo do monstro.

E se queimavam toda a Gaia, e todo o Ouranos, e todo o Pontos, e as ondas ferviam a o longe e ao longo das margens, sob o choque dos Theoi, e o choque era irresistível.

E se espantou Hades o que manda nos mortos e se estremeceram os Titanes encerrados em Tartaros, em torno de Kronos, ao ouvir aquele clamor inextinguível e aquele terrível combate.

E reunindo forças, Zeus empunhou suas armas, o trovão, o relâmpago e a centelha abrasadora, e saltando do Olympous, feriu a Typhoeus. E assim incendiou todas as enormes cabeças do monstro feroz, e o venceu por sob seus golpes, e Typhoeus caio mutilado, e a grande Gaia gemeu por ele.

E a chama da centelha brotava do corpo deste rei, caindo nas gargantas frondosas de uma áspera montanha, e ardia toda a imensa Gaia em um vapor ardente, e corria como pela terra divina corre, nas mãos de Hephaistos, o estanho fundido pelos ferreiros em um forno de amplas faces, ou como o ferro, que é o mais sólido de todos os metais, na garganta de uma montanha, vencido pelo ardor do fogo. Assim corria Gaia sob o relâmpago de fogo ardente, e Zeus, irritado, lançou Typhoeus no amplo Tartaros.

E de Typhoeus sai a força dos Anemoi Thuellai de sopro úmido, exceto Notos, Boreas e o rápido Zephyros, que procede de Zeus e são sempre utilíssimos aos Anthropoi. Mas os demais Anemoi, sem utilidade, despertam Pontos, e precipitando-se sobre o negro Pontos, terrível açoite dos Anthropoi, formam redemoinhos violentos e sopram daqui e dali e dispersam as naus e perdem aos marinheiros; por que não há remédio para a ruína daqueles que se encontram em Pontos. E sobre a superfície de Gaia imensa e florida, destroem os formosos trabalhos dos Anthropoi nascidos dela, enchendo-os de pó e de um ruído odioso." – Hesíodos, Theogonía.

"Agora, por causa de sua raiva contra os Titánes, Gé deu à luz aos Gigántes, Ouranós era o pai... Agora havia um oráculo entre os Theoí que dizia que eles mesmos não seriam capazes de destruir qualquer um dos Gigántes, mas somente poderiam acabar com eles com a ajuda de algum aliado mortal. Quando Gé soube disso, ela procurou uma planta que iria impedir a sua destruição até mesmo por mãos mortais. Mas Zeús impediu o aparecimento de Eós, Selénê e Hélios, e cortou-se a planta antes que Gé pudesse encontrá-la... A derrota dos Gigántes pelos Theoí irritou Gé ainda mais, então ela teve relações sexuais com Tártaros e gerou Typhoeús na Kilikía ". – Pseúdos-Apollódôros, Bibliotheké 1. 34-39.

MÃE DOS THEOI HALIOI

"Era chamado de Ancião, porque é doce e verdadeiro, e por que não se esquece da justiça, e porque suas decisões são equitativas e sábias. E depois, Póntos gerou ao grande Thaúmas, e ao robusto Phórkys, e a Kétô a de formosa face, após unir-se a Gaía, e também a Eurybía, que tinha em seu peito um coração de aço." – Hesíodos, Theogonía.

MÃE DOS DAIMONES

"De Aether [Aithér] e Terra [Gaía] [nasceram]: Dolor (dor) [Álgos], Dolus (engano) [Dólos], Ira (fúria) [Lýssa], Luctus (lamentação) [Pénthos], Mendacium (mentira) [Pseúdos], Jusiurandum (juramento) [Hórkos], Ultio (vingança) [Poinê], Intemperantia (intemperança) [Manía], Altercatio (altercação) [Amphilogía], Oblivio (esquecimento) [Léthê], Socordia (preguiça) [Aergía], Timor (medo) [Phóbos], Superbia (soberba) [Adephagía], Incestum (desejo) [Hímeros], Pugna (combate) [Hysminé]. [De Caelum e Terra:] Oceanus, Themis, Tartarus, Pontus; e os Titanes: Briareus, Gyes, Steropes, Atlas, Hyperion e Polus [Koíos], Saturnus [Krónos], Ops [Rheía], Moneta [Mnemosýnê], Dione [Aphrodítê]; e as três Phuriae, nomeadas de Alecto, Megaera, Tisiphone." – Pseúdos-Hygínos, Prólogos.

"Phama (rumor) [Phémê], a mais rápida viajante de todos os males da terra, florescendo com seu movimento, ganhando força quando vai; no início é uma coisa pequena e corvarde, mas ela logo se eleva com um sopro, e anda sobre a terra, e enterra a cabeça na base das nuvens. O mito diz que enfurecida com os deuses, Terra [Gaía] produziu essa criatura como seu último filho, como uma irmã para Enceladus e Coeus, uma criatura de pés velozes, um anjo alado da ruína, um terrível monstro grotesco, cada pena em seu corpo, por mais incrível que pareça, possui um olho que nunca dorme, e para cada olhar que possui também tem uma língua, uma voz, e um ouvido atento." – Birgílios, Aineiáda 4. 174.

A GÊNESIS DOS ANIMAIS

"Um número de criaturas cujos mal arranjados membros declarou não serem nem homens e nem animais haviam se reunido ao redor [Kírkê a feiticeira] como um grande rebanho de ovelhas seguindo seu pastor no redil, monstros indescritíveis como estes, equipado com diversos membros, certa vez foram produzidos espontaneamente por Gé de sua lama primordial, quando ela ainda não tinha se solidificado sob um céu sem chuva e derivado nenhuma umidade pelo sol escaldante. Mas Khrónos [Aíôn], combinando isto com aquilo, trouxe a criação dos animais uma ordem." – Apóllônios Rhódios, Argonautikás 4. 673.

“Muitos seres encontram seus cultivadores ao mexer nos terrenos (gé) e entre eles existem alguns apenas começados, no próprio espaço de seu nascimento, alguns inacabados e se vê cortados em suas proporções, e no mesmo corpo frequentemente uma parte vive, a outra parte é rude terra (gé).
Porque quando uma temperança tomam a fumaça e o calor, concebem, e desses dois se originam todas as coisas e, embora o fogo e a água seja distintos, o vapor úmido todas as coisas cria, e a discórde concórdia é apta para as crias.

Assim pois, quando do dilúvio recente Tellus enlodada com os sois etéreos se incandeceu e com seu alto fervor, deu à luz a inumeráveis espécies e em parte suas formas antigas devolveu, em parte novos prodígios criou.” – Obídios, Metamorphóseis 1. 416.

A GÊNESIS DAS PLANTAS

"Ao amanhecer, cai uma névoa frutífera sobre a Terra [Gaía] do estrelado Céu [Ouranós] sobre os campos dos homens bem-aventurados: Desenhada pelos rios de eterno fluxo e erguida acima da terra por um vendaval... Gé, mãe de todos, trazendo novamente os seus variados frutos." – Hesíodos, Érga kai Hemérai 547.

“De Gaía eu canto, Mãe firme de tudo, a mais antiga, que alimentou a vida na terra, sempre que caminhava no solo ou nadasse no mar ou voasse; Ela sustentou cada uma de suas riquezas. Através de ti os povos são abençoados de filhos e frutos, Ó Rainha, que dá e reclama a vida dos mortais; enriqueça quem quer que te agrade e honre; toda a abundância para eles; que suas terras férteis sejam frutíferas; através dos campos seus rebanhos prosperem; sua casa seja repleta de deuses. Eles regem os estados bem-ordenados com formosas mulheres, e ampliam as riquezas dos que os seguem; seus filhos exultam com júbilo jovial; suas filhas brincam em danças de espalhar flores com o coração feliz, e pulam pelos campos floridos. Tal coisa tu dás, Rica Divindade Sagrada. Então te saúdo, Deusa-Mãe, Esposa do Estrelado Céu [Ouranós]; recompense minha canção com um sustento prazeroso! De ti eu me recordo, e de outra canção também.” – Homerikós Hymnós 30 para Gaía.

"Se as plantas fixam e enraizam na terra, devem suas vidas e vigor à arte da natureza, certamente Terra [Gaía] deve se sustentar pelo mesmo poder, na medida em que, quando impregnada com sementes ela traz de seu ventre todas as coisas em profusão, nutre suas raízes em seu peito e faz com que elas cresçam, e ela mesma, por sua vez, é alimentada por elementos superiores e exteriores. Além disso, suas exalações proporcionam alimento para o ar, o éter e todos os corpos celestes." – Kikérôn, De Natura Deorum 2. 33.

O CASAMENTO DE ZEÚS & HÉRA
I) A MACIEIRA DOURADA DE HÉRA

"Pherekydês disse que quando Jupiter [Zeús] desposou Juno [Héra], Terra [Gaía] surgiu, portando um ramo com maças douradas, e Juno, em admiração, pediu a Terra para plantá-las em seu jardim próximo ao distante Monte Atlas." – Pseúdos-Hygínos, Astronomica 2.

II) O LEITO NUPCIAL DE ZEÚS & HÉRA

"[sobre o pico do monte troiano, Idê]. Após ter falado, nos braços o filho de Krónos [Zeús] apertou a consorte [Héra]. Fez logo que erva florida da divina terra (khthón) [Gaía] crescesse loto rociado e virente açafrão prazenteiro e jacinto que numa alfombra adensados o par solevou do chão duro. Ambos aí se deitaram cobertos por nuvem dourada bela de ver donde gotas de orvalho luzente caíam. – Hómêros, Iliáda 14. 345

"Gaía espalhou seus abundantes perfumes e coroou o leito conjugal [de Zeús e Héra] com lindas flores: ali brotou açafrão Kikilios, ali brotou corriola, e para envolver sua virilidade deixou aproximar-se a planta fêmea ao seu lado, contudo, respirando desejo, e ele mesmo, no mundo das flores, era igualmente delicado. Então o crescimento dos dois adornou o leito do casal, cobrindo Zeús com açafrão e Héra sua esposa com corriola; amável íris saltando sobre a anêmona descrevendo por um significativo silêncio o exasperado amor de Zeús." – Nónnos, Dionysiakás 32. 76.

O RAPTO DE PERSEPHÓNÊ

"Os narcisos, que Gaía fez brotar pela vontade de Zeús e para agradar ao Anfitrião de muitos [Haídês] para ser uma armadilha para a florescente donzela [Persephónê], uma maravilhosa e radiante flor. Foi uma coisa tão fabulosa para ambos, deuses imortais ou homens mortais, verem: De sua raiz cresceram uma centena de flores e cheirava tão docemente, que o amplo Ouranós acima e Gaía e salgada Thálassa intumesceram, rindo de alegria. E a donzela ficou surpresa e estendeu ambas as mãos para pegar o gracioso brinquedo: Mas a terra de amplos caminhos se abriu na planície do Nysa, e o lorde, Anfitrião de muitos, com seus cavalos imortais saltou por sobre ela." – Hýmnos Homerikós 2 à Dêmétêr, 5.

DIVERSOS
I) APODRECIMENTO DOS MORTOS

"[Apóllôn aborda ao cadáver de Pýthôn:] Mas aqui, devem Gaía e o brilhante Hyperíôn fazer você apodrecer." – Hýmnos Homerikós 4 à Hérmês 3. 300.

II) NASCIMENTO DOS FLUXOS

Gaia era a mãe de Ôkeanós e Têthýs, os Titánes dos rios, fontes e fluxos. Têthýs atrai as águas de Ôkeanós (o fluxo que circunda a terra) através das fendas da terra.

"E protegida do perigo [Tinha dado à luz a Zeús numa árida Arkadía e requerindo auxílio] a senhora Rheia disse, Querida Gaía, dê a luz tu também! Tuas dores de parto são leves. Assim falou a deusa, e elevando seus imensos braços ela feriu a montanha com seu apoio; e foi imensamente fendida em dois por ela e derramado um poderoso fluxo [o rio Lymas]." – Kallímakhos, Hymnos 1 a Zeus 28.

III) PEDRAS DA TERRA

"[Amphíôn edificou os muros de Thébês com a música de sua lýra:] Certamente ele mantém sua mente atenta na harpa, e mostra um pouco os dentes, apenas o suficiente para um cantor. Sem dúvida ele está cantando um hýmnos à Gê porque ela, criadora e mãe de todas as coisas, está dando-lhe suas paredes, que já estão se elevando por conta própria." – Philostratos o velho, Imagins 1. 10.

IV) TESOUROS ENTERRADOS

"Um fazendeiro lutando com seu arado enfiou uma parte na terra viu um tesouro saltar do sulco. Tudo em um ímpeto, ele imediatamente abandonou o vergonhoso arado, levando seus bois à melhor semente. Imediatamente ele construiu obedientemente um altar para a deusa Gé/Tellus, que de bom grado lhe outorgou a riqueza contida dentro dela. A deusa Týkhê/Fortuna (fortuna), sentindo-se menosprezada, pois ele não tinha pensado nela do mesmo modo, digna de uma oferenda de incenso, advertiu o fazendeiro, pensando no futuro, enquanto ele estava regozijando-se em sua nova descoberta: - Agora você não oferece os presentes que encontrou ao meu santuário, mas você prefere promover outros deuses como particiantes de sua boa fortuna. No entanto, quando o seu ouro é roubado e você está acomedido de tristeza, você faz as reclamações a mim antes de todos, chorando a sua perda." – Aisópos, Mýthoi 84 & Avianus, Mýthoi 12.

V) MAGIA DAS FEITICEIRAS

[Médeia preparando um feitiço] “Noite” (nox) [Nýx], disse, “fidelíssima aos arcanos, e sucedeis com a lua (luna) [Selénê], aos áureos astros diurnos (Astra) [Ástra Planéta], e tu, tricéfala Hecate [Hekátê], que cúmplice de nossas empresas e fautora, vêns, e cantos e artes aos magos, e Terra (tellus) [Gaía], que aos magos, de potentes ervas equipa, e brisas (aurae) [Aúrai] e ventos (venti) [Anemoí] e montes (montanum) [Oroí] e rios (phuminae) [Potamoí] e lagos (amnes) [Límnai] e todos os deuses dos bosques (di omnes nemorum) [Theoí Nómioi], e todos os deuses da noite (di omnes noctis) [Theoí Khthónioi], vejam, com cuja ajuda quando quis perante suas assombradas margens as torrentes aos seus mananciais retornaram; e estando agitados, os acalmo, e estando quietos, os agito, com meu canto os estreitos; as nuves (nebulae) [Nephélai] expulso e as nuvens (nebulae) [Nephélai] congrego, os ventos (venti) [Anemoí] afugento e chamo, vipéreas faces rômpo com minhas palavras e canção, e rochas vivas e carvalhos convulsos de sua terra, e florestas movo e mando tremer os montes e mugir o sólo e aos fantasmas ( manes) [Spéktros] sair de seus sepulcros. – Obídios, Metamorphóseis 7. 192.

GAIA QUEIMADA PELO AURIGA PHAÉTHÔN

"A nutritiva Tellus, ainda assim, como estava circundada por Póntos, entre as águas do pélago e, contraídas por todos os lados, suas fontes, que haviam se escondido nas vísceras de sua opaca mãe, sustentou até o pescoço, árida, seu rosto devastado e pôs sua mão sobre a testa, e com um grande tremor sacudindo tudo, um pouco se firmou e mais abaixo do que poderia estar, permaneceu, e assim com voz ressequida falou:
“Se isto te agrada e se mereci, porque, oh, teus raios cessam, dos Theoí, supremo? Possa a que há de perecer pelas forças do fogo, pelo teu fogo perecer, e sua calamidade por seu autor aliviar. Apenas eu, certamente, minhas faces para estas mesmas palavras libero” –lhe oprimia a boca o vapor– “queimados, ai, olhe meus cabelos, e em meus olhos tanta brasa, tanta sobre mi cara. Estes frutos, este prêmio de minha fertilidade e de meu serviço me devolves, porque as feridas do curvo arado e dos rastelos suporto, e tudo me assedia no ano, porque ao gado folhagens, e ternos alimentos, os grãos, ao gênero humano, a vós também incensos, forneço? Mas ainda assim, este final dê-me porque eu mereci. O que as ondas, o que há merecido teu irmão? Por que, a ele entregadas à sorte, as superfícies decrescem e do Aether mais longe se afastam? E si nem a graça de teu irmão, nem a minha te comovem, mas compadeçe do teu céu. Olhe ambos os lados: fumega um e o outro pólo, os quais o fogo corrompe, os vossos átrios despencarão. Atlas, ai, mesmo padece, e apenas em seus ombros ardentes sustenta o eixo. Si os estreitos, si as terras perecem, si a realeza do céu: no antigo Kháos nos confundimos. Arrebata as chamas pelo quanto, todavia permanece, e vela pela soma das coisas.
Havia dito isto Tellus, visto que nem tolerar o vapor mais além podia nem dizer mais, e sua boca voltou-se para si mesma, e a suas cavernas aos Manes mais próximas." – Obídios, Metamórphoseis 2.272.

A VOZ ORACULAR DA TERRA

Gaía era frequentemente considerada como uma deusa profética. Aiskhýlos a compara com o oráculo de Thémis.

"E em seguida, Zeús, o rei dos Theoí, tomou por esposa Métis, a mais sábia entre os Theoí imortais e os homens mortais mas, quando ela ia parir a Théa Athéna, a dos olhos claros, enganando-lhe o espírito com astúcia e com lisonjeiras palavras, Zeús a encerrou em seu ventre por conselho Gaía e de Ouranós estrelado. E o haviam aconselhado istos para que não possuísse o poder real nenhum outro senão Zeús entre os Theoí eternos; Porque estava predestinado que de Métis nasceriam filhos sábios, e primeiramente a virgem Tritogenía, a dos olhos claros, tão poderosa quanto seus pais e tão sábia. Logo, haveria de parir Métis um filho, rei dos Theoí e dos homens, que possuiria grande valor mas, antes disso, a encerrou Zeús em seu ventre, com o fim de que a Théa lhe desse a ciência do bem e do mal. " – Hesíodos, Theogonía 886.

"Héra orou, golpeando o terreno plano com suas mãos, e falando assim: Ouça agora, eu oro, Gaía e amplo Ouranós acima, e vós Titánes, deuses que habitam debaixo da terra sobre o grande Tártaros, e de quem surgiram ambos, deuses e homens! Escuta-me agora, uma entre todos, e fazei com que eu possa ter um filho além de Zeús, não menos sagaz do que ele em força ou, ainda melhor, que ele seja mais forte do que Zeús, como Zeús, que tudo vê, era mais forte do que Krónos. Assim, ela gritou e atacou a terra com suas fortes mãos. Então a vivificante (pheresbios) Gaía se moveu: E quando Héra viu que ela estava com o coração contente, ela acreditou que sua oração seria cumprida." – Hýmnos Homerikós III para Apóllôn Pýthios 300.

GAÍA E OS ESPÍRITOS DOS MORTOS

Gaía era invocada quando eram feitas as ofertas para os mortos, geralmente sob a forma de libações derramadas sobre um túmulo. Ela também era invocada em orações para vingar o crime de homicídio, pois a terra era manchada pelo sangue derramado no crime.

"Com o intuito de afastar o mal com uma deselegante graça, Oh, mãe Terra (gaía maía), ela [Klytaimnestra acorda de um pesadelo enviado pelo fantasma de seu marido assassinado] envia-me, mulher ímpia como ela é [para derramar libações como oferenda para aplacar seu fantasma]. Mas tenho medo de pronunciar as palavras que ela me encarregou de falar. Por que a expiação existe pelo sangue caído na terra? Ah, coração cheio de tristeza! Ah, casa prostrada em ruínas! Escuridão sem sol, detestada pelos homens, encobre nossa casa devido a morte de seu mestre [Agamémnôn]." – Aiskhýlos, Portadores de Libações 30.

"Eléktra [em pé diante do túmulo de seu pai]: Supremo arauto do mundo superior e do mundo inferior, Oh, Hérmês Khthónios (do subterrâneo), venha em meu auxílio, chame até mim os espíritos [ancestrais] abaixo da terra para ouvir minhas orações, espíritos que vigiam a casa de meu pai, e a própria Gaía, que dá origem a todas as coisas, e tendo nutrido os acolhe e deles recebe o respectivo aumento. E enquanto isso, enquanto derramo essas oferendas lustrais aos mortos, eu invoco meu pai... Eu pronuncio estas orações em nosso favor, mas eu peço que o seu vingador apareça aos nossos inimigos, pai, e que seus assassinos possam ser mortos pela justa retribuição. Então eu interrompo minha oração para o bem para oferecer esta oreação para o mal. Mas que seja portadora de bênçãos para nós no mundo superior, com a ajuda dos Theoí e de Gé e Díkê coroada com a vitória." – Aiskhýlos, Portadores de Libações 124.

GAIA E O ESPÍRITO DOS PESADELOS

Na seguinte invocação em uma peça de Aiskhýlos, Gaía é aparentemente chamada para afastar a visão de um pesadelo. Presumivelmente, isto ocorreu porque acreditava-se que os sonhos eram emitidos diante do submundo, assim Gaía a Terra precisa levá-los de volta.

"Como uma aranha, ele [um estrupador] está me levando [uma mulher] passo a passo em direação ao mar – um pesadelo (onar), um negro pesadelo (melas onar)! Oh! Oh! Mãe Terra (Ma Gé), Mãe Terra (Ma Gé), evise seus gritos de medo! O pai Zeús, filho de Gé!" – Aiskhýlos, Mulheres suplicantes 886.

CULTO

Gaia é a personificação do antigo poder matriarcal das antigas culturas Indo-Européias. É a Grande Mãe que dá e tira, que nutre e depois devora os próprios filhos após sua morte. É a força elementar que dá sustento e possibilita a ordem do mundo. Nos mitos gregos, os conflitos entre Gaia e as divindades masculinas representam a ascensão do poder patriarcal e da sociedade grega sobre os povos pré-existentes.

Na mais antiga cosmologia grega, a Terra era concebida como um disco chato cercado por Okeanos (rio principal), coberta pela cúpula de Ouranos (céu) e tendo por baixo o abismo do Tartaros (subterrâneos). Ela suporta Pontos (mar) e os Ourea (montanhas) sobre seu seio.

Segundo algumas fontes Gaia pode ter sido a divindade original por trás do Oráculo de Delphos, transpassando seus poderes sucessivamente para Themis, Phoibe e finalmente Apollon. Apollon, porém já estava há muito estabelecido como senhor do oráculo no tempo de Homeros, depois de ter matado a serpente Python, filha de Gaia e usurpado seu poder ctônico. Por isso, Gaia teria punido Apollon, enviando-o para servir o rei Admetos como pastor por nove anos.

Na arte clássica Gaia era representada de duas formas. Nos vasos gregos, Gaia era representada como uma matrona robusta, meio erguida do solo e com freqüência dando o bebê Erekhthonios a Athena para que esta o criasse. Nos mosaicos, costuma aparecer como uma figura completa, reclinada, freqüentemente vestida de verde e às vezes acompanhada pelos Karpoi, crianças que representam os frutos da Terra, as colheitas, as estações ou os espíritos dos grãos.

Os juramentos prestados em nome de Gaia, na antiga Grécia, estavam considerados entre os mais sagrados.

HINOS

Hino Órfico a Gaia, com incenso de olíbano:
Toda-Fértil e Toda-Destruidora Gaia, Mãe de Tudo, que traz generosos frutos e flores, Toda variedade, Donzela que ancora no mundo eterno sozinha, Imortal, Abençoada, coroada com toda a graça, Profundo florescer da Terra, doces planíces e campos, gramas aromáticas nas chuvas que nutrem. Em torno de ti voam as belas estrelas, eternas e divinas; Venha, Abençoada Deusa, e ouça as preces de Teus Filhos, faça os frutos e grãos crescerem em teu constante cuidado, e que com as estações férteis tuas criadas se aproximem e abençoem teus suplicantes.

Hino Homérico XXX - À Terra, Mãe de Tudo:
De Geia eu canto, Mãe firme de tudo, a mais antiga, que alimentou a vida na terra, sempre que caminhava no solo ou nadasse no mar ou voasse; Ela sustentou cada uma de suas riquezas. Através de ti os povos são abençoados de filhos e frutos, Ó Rainha, que dá e reclama a vida dos mortais; enriqueça quem quer que te agrade e honre; toda a abundância para eles; que suas terras férteis sejam frutíferas; através dos campos seus rebanhos prosperem; sua casa seja repleta de deuses. Eles regem os estados bem-ordenados com formosas mulheres, e ampliam as riquezas dos que os seguem; seus filhos exultam com júbilo jovial; suas filhas brincam em danças de espalhar flores com o coração feliz, e pulam pelos campos floridos. Tal coisa tu dás, Rica Divindade Sagrada. Então te saúdo, Deusa-Mãe, Esposa do Céu Estrelado; recompense minha canção com um sustento prazeroso! De ti eu me recordo, e de outra canção também.
(traduções da Alexandra)

Hino Órfico 26: Terra (Gaia)
fumigação: qualquer, exceto favas e ervas aromáticas

Deusa Terra [Gaia], mãe dos venturosos e dos homens mortais,
toda nutriz em tudo dadivosa, perfectiva destruidora de tudo,
vicejante, frutífera e florescente de belas estações,
sede do cosmo imortal, donzela de muitas cores,
que nas dores do parto concebes frutos de muitos tipos,
perpétua, rica e respeitada deusa de amplo seio,
nume que se agrada com o doce sopro de multiflóreos brotos
e com as chuvas, em torno de ti o dedáleo cosmo de estrelas
revolve, com os fluxos da natureza [Phýsis] semprefluente e terrível.
Eia, venturosa Deusa, prouvera faças crescer deliciosos frutos,
com peito benfazejo, na companhia das prósperas estações.
(tradução de Rafael Brunhara)

Fontes:
Wikipédia.
Helenos.
Universo Grego Blog.
Teogonia

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