sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Chang E, e a desterrada beleza da Lua.



A 15 de cada mês do calendário lunar uma Lua límpida e brilhante paira sempre nas alturas celestes da noite transparente. Com uma beleza sentimental e expressiva ela contempla a terra com uma cara sorridente, derramando os seus suaves e diáfanos fulgores sobre esta. Conforme conta a lenda, nessa Lua redonda e luminosa mora a deusa Chang E, a mulher do herói Hou Yi (o arqueiro que derrotou nove sóis). Mas por que passa a deusa uma vida solitária na Lua? A resposta a essa pergunta encontra-se na seguinte e triste historia.

Por ordem do Imperador Celestial, Hou Yi tinha disparado nove setas contra os nove Sois, castigado o demônio das aguas, aprisionado e morto um grande em número de animais e aves selvagens. Assim, com o beneficio que ele trouxe aos seres humanos ganhou a estima e o respeito de todos. O herói que era um incansável viajante, percorreu inúmeras regiões ajudando as populações e tendo sido sempre albergado pelo povo de todos os locais.


Um dia depois de uma longa caçada Hou Yi atravessava sedento um riacho no caminho de regresso para casa, quando se deparou com uma jovem sorvendo a água da corrente com um bambu oco. Aproximou-se da jovem e perguntou-lhe se também podia utilizar o bambu para beber. Vendo as flechas brancas e o arco vermelho que Hou Yi levava às costas, esta se apercebeu de que o vigoroso e elegante homem devia ser o herói e, para lhe mostrar a sua gratidão pelos feitos operados por ele relativos ao bem-estar da humanidade, passou-lhe imediatamente o instrumento para que ele pudesse beber e colheu um ramo de flores para lhe oferecer em sinal de admiração. Em retribuição desta cortesia, Hou Yi escolheu uma das mais preciosas peles da raposa prateada que tinha acabado de caçar e presenteou-a a jovem. Após encetarem conversa o herói veio a saber que a jovem se chamava Chang E, que os seus pais tinham sido vitimas dos animais selvagens da floresta e que vivia agora solitária, vestindo uma blusa e uma saia branca em expressão do seu imenso pesar pela morte de ambos.

Condoído com o infeliz passado da jovem, Hou Yi tentou consola-la o melhor que lhe foi possível e estes sentimentos altruístas despertaram o amor da jovem pelo herói; pouco tempo depois eles casaram-se formando um par mutuamente dedicado e respeitador.

A partir de então Hou Yi e Chang E tornaram-se inseparáveis, viajando e caçando sempre na companhia um do outro de tal modo unidos que o herói decidiu não fazer caso a ordem que recebera do Imperador Celestial para voltar ao céu.

O tempo passou-se veloz! E só ao fim de três anos de Hou Yi estar no mundo e que chegou aos ouvidos de sua mulher a noticia de que o Imperador Celestial o tinha chamado de volta. Ela chorou lagrimas de sangue ao saber que teria de se apartar de quem muito amava; o herói também não se podia conter.

Quando o Imperador Celestial foi informado de que Hou Yi tinha se casado com uma mortal e estabelecido uma família no mundo e não estava querendo voltar mais para o céu, ficou furioso e demitiu-o das funções de que o tinha encarregado de um modo tão peremptório, fazendo com que o herói não pudesse mais subir ao céu. Todavia, Hou Yi não se arrependeu do procedimento que lhe tinha merecido tal castigo do Imperador Celestial, pois ele achava a vida na terra mais feliz do que no céu porque, para além de ter uma linda e bondosa mulher, vivia entre as majestosas montanhas, os impetuosos rios, as viçosas arvores e os honestos homens.

Mas os seres humanos tem uma vida limitada e, se bem que cheguem a viver 70 ou 80 anos, ou no máximo 100 anos, mais tarde ou mais cedo acabam por morrer!

Um dia, Hou Yi disse a Chang E:

- Quando eu vivia no céu ouvi dizer que na cordilheira Kunlun, no longínquo oeste, a mãe-imperatriz tem uma parceira que cura tudo - mesmo a morte. Acho que o melhor será eu partir para essas regiões a procura de tal medicamento, a fim de que o possamos tomar para que assim possamos viver eternamente!

Ouvindo isto, Chang E ficou contentíssima. Preparou cuidadosamente a bagagem do marido e tudo o que era necessário para a sua viagem, e disse-lhe insistentemente que prestasse bem atenção ao caminho e que regressasse ao lar o mais cedo possível, logo depois de ter obtido o medicamento. Era a primeira vez, apos o seu casamento, que se separavam um do outro e Chang E não podia deixar de sentir uma profunda dor e tristeza pela partida de Hou Yi, somente se sentindo reconfortada ao pensar que, graças à panaceia, eles iriam poder viver juntos eternamente e livrar-se assim, para sempre da ameaça do deus da morte. Com a sua aljava repleta de flechas e o arco as costas, Hou Yi montou um veloz corcel e partiu galopando rumo ao oeste.

A região onde Morava a mãe-imperatriz no longínquo oeste era de difícil acesso, e para se chegar lá, era preciso atravessar-se inúmeras, altas e escarpadas montanhas, um grande em número de florestas a perder de vista desertos despovoados sem fim onde, por vezes, se levantavam furiosos vendavais. Mas, para além disso, perto da montanha Kunlun encontravam-se duas barreiras que eram os obstáculos mais difíceis de serem transpostos, respectivamente: o rio das Aguas Afogadoras e a montanha das Chamas Ardentes. A agua deste rio era tão leve e vaporosa que nem mesmo uma pena de pato conseguia vela flutuar, tornando impossível a navegação. Quanto a montanha, encontrava-se constantemente envolta por um mar de fogo que regurgitava altas labaredas, envoltas por um denso fumo, que atingiam dezenas de metros de altura e ameaçavam queimar todos quantos se aproximavam, tornando-se assim, completamente inacessível. Depois de uma infindável cavalgada e após ter transposto montes e vales, no fim de uma Tonga e difícil viagem, Hou Yi acabou por chegar às margens do rio das Aguas afogadoras. Como haveria ele de fazer para atravessar esse imenso rio sendo-lhe impossível flutuar ou nadar em suas aguas? De repente, ele lembrou-se de uma vez ter visto em umas serranias quando andava procurando uma arvore rara cuja Madeira era dura como aço, Mas leve como uma pena. Ele tinha mesmo apanhado umas ramagens e atirado-as para um lago próximo, as quais, como se fossem sustentadas por qualquer gás, levitavam-se acima da superfície da água em vez de flutuarem. Hou Yi pensou que se utilizasse a madeira desta árvore invulgar poderia certamente atravessar o rio e assim, inspirado por esta ideia, o herói montou de novo no seu corcel e cavalgou ao sul, na direção do local onde anteriormente tinha visto a tal arvore e quando a encontrou, cortou-lhe o tronco fazendo com este uma canoa. Quando regressou ao rio das Aguas Afogadoras empurrou a embarcação sobre as águas e, tal como esperava, esta nem tocou a sua superfície. Impelida pela suave brisa, a canoa começou a deslizar sobre a agua rumo a margem oposta e, não obstante a grande largura do rio que contava cinquenta quilômetros, a embarcação transportou o herói mais o seu cavalo para a outra margem em um abrir e fechar de olhos.

Pouco depois de ter passado são e salvo o rio das Aguas Afogadoras, Hou Yi chegou aos arredores da montanha das Chamas Ardentes. Apesar de duas das suas labaredas lamberem as nuvens, o herói não teve medo porque sabia que estava bem preparado para enfrenta-las. Outrora, Hou Yi tinha morto a besta Xiongshui capaz de cuspir fogo e vomitar agua, tendo guardado a pele do animal que era tão espessa que nem o fogo nem a agua a podia atravessar. O herói trazia-a sempre consigo onde quer que fosse, para, na eventualidade de precisar, poder utiliza-la contra quaisquer elementos, e agora não hesitou em utiliza-la, fazendo com ela duas armaduras impregnáveis: uma para si próprio e outra para o seu corcel.

Depois de ter confeccionado os meios de defesa e de ambos estarem prontos, Hou Yi montou no seu cavalo esporeando-o e lançou-se que nem uma flecha no recinto escaldante da montanha das Chamas Ardentes. No seio do negro fumo e das Chamas, o herói não tardou a sentir bastante dificuldade em respirar, mas a sua montada era um corcel divino capaz de correr mil quilômetros por dia e tinha de transporta-lo em um instante pela montanha das Chamas Ardentes - com centenas de quilômetros de comprimento. Após a perigosa travessia, Hou Yi apeou-se para verificar se o seu cavalo tinha saído ileso, observando que nada lhe tinha acontecido excetuando a cauda do seu cavalo que estava chamuscada.

Dessa maneira, e devido a sua inteligência e coragem, Hou Yi conseguiu vencer as duas maiores dificuldades da sua viagem em busca do remédio da imortalidade, acabando por, finalmente, chegar ao sopé da cordilheira Kunlun onde morava a mãe-imperatriz do oeste.

A mãe-imperatriz do oeste morava nos píncaros da montanha de Jade Límpido, no centro da cordilheira Kunlun. Quando Hou Yi chegou às portas do palácio já o mensageiro imperial - a ave Qing Niao - tinha informado a imperatriz da sua chegada. Esta, sabendo que o visitante tinha anteriormente sido um deus, que depois de ter sido anunciado ao mundo para aniquilar os Sóis e os animais selvagens em favor da população, se estabelecera ali espalhando bondade, recebeu-o com muita cortesia e gentileza. Conhecendo também a finalidade da sua vinda, a mãe-imperatriz do oeste, querendo satisfazer-lhe os seus ensejos com a maior das magnanimidades, ordenou a Ave de Três Pernas - guardiã da panaceia - que trouxesse no bico a preciosa cabala com o miraculoso medicamento, preparado a base dos pêssegos da arvore da Imortalidade, que só dava flores e frutos a cada três mil anos.

- Toma, isto e tudo o que me resta - disse a imperatriz, passando-lhe a cabala. - Embora seja pouco, e o suficiente para ambos. Se ingerir a metade cada um, vocês viverão eternamente, mas, cuidado, se um de vocês tomar tudo transformar-se-á em um ser divino e voara para o céu sem jamais poder voltar a terra.

- E para que ambos possamos viver para sempre juntos que eu resolvi vir cá buscar o elixir. A mim não interessa voltar de novo a ser divino - disse o herói fazendo, em agradecimento da magnânima dadiva, uma profunda reverencia.

No momento da despedida de Hou Yi, a mae-imperatriz do oeste mandou a Ave de Três Pernas buscar uma porção da tenra e perfumada erva Yao, que crescia nas margens do Lago de jade, entregando-a depois ao herói para que este a pudesse ofertar a Chang E. Tratava-se de uma erva tão preciosa quão misteriosa que, conforme se dizia, era originaria da metamorfose de Yao Ji, uma das filhas do deus do Sol, Yandi. Yao Ji era uma bonita e delicada jovem. Aos 17 anos de idade tinha-se apaixonado por Zhi Songzi, um subordinado do deus da Agricultura. Ao principio, estavam ambos muito apaixonados um pelo outro, mas, depois o rapaz partiu para o sul e traindo o amor da sua companheira nunca mais voltou. Esta, ansiosa por o encontrar resolveu procura-lo por toda parte até que, chegada ao centro da cordilheira Kunlun ao saber que o seu noivo tinha casado com uma deusa, ali morreu de dor e de tristeza.

Segundo constava, Yao Ji, a bela e desventurada jovem tinha-se então transformado na preciosa erva Yao que crescia nas margens do Lago de Jade. Em breve a erva tinha florescido espalhando-se rapidamente e proliferado não só ao longo das margens do rio, mas também em todas as encostas da montanha central. Dizia-se que, independentemente das estações do ano, ou de ser noite ou madrugada, as folhas desta erva estavam sempre cobertas de um fresquíssimo orvalho, que não era senão as lagrimas inesgotáveis da desditosa jovem. A erva Yao tinha uma característica especial. Qualquer que fosse a mulher que cheirasse o seu perfume, tornar-se-ia carinhosa de trato e extremamente bela de corpo e feições - e por isso lhe tinham também dado o nome de "erva encantadora".

Agora, em posse do elixir da longevidade, Hou Yi retomou rapidamente o caminho de regresso. Já se tinham passado mais de seis meses que ele tinha deixado o lar. Ambos ficaram felicíssimos de estarem de novo juntos e Hou Yi contou a Chang E todas as peripécias da sua viagem, dando-lhe no fim o medicamento.

- Aqui esta o elixir que eu adquiri depois de tantos esforços. A mãe-imperatriz do oeste disse que se ambos tomarmos cada um metade dele, poderemos viver eternamente, mas, se uma pessoa o tomasse por inteiro subiria ao céu para nunca mais voltar. Por favor, guarde bem o medicamento, ate escolhermos um dia auspicioso para ambos o tomarmos.

Rejubilante, Chang E recebeu o elixir da imortalidade das mãos de Hou Yi e guardou-o cuidadosamente. Em seguida, o herói entregou-lhe a erva Yao e disse-lhe:

- Isto e uma erva preciosa que a mãe-imperatriz do oeste mandou especialmente colher para te oferecer.

Cheia de contentamento Chang E admirou-a detalhadamente, exclamando depois de surpresa:

- Que extraordinária erva! Nunca vi nada de tão belo!

E ao mesmo tempo que falou, aproximou inadvertidamente a erva do seu nariz inspirando o seu doce perfume. De fato, o cheiro da erva provou o seu efeito, porque ela imediatamente se tornou ainda mais bela que nunca.

Sendo um excelente arqueiro, a fama de Hou Yi tinha-se espalhado até os quatro cantos do mundo, tendo vindo muitos jovens procura-lo, com intuito de aprenderem com ele a arte de que era mestre. O zeloso herói tinha lhes ensinado conscientemente os predicamentos do que sabia, e como de um bom professor saem sempre bons alunos, muitos dos alunos de Hou Yi vieram a tornar-se famosos arqueiros.

Feng Meng, considerado o melhor de todos os discípulos de Hou Yi, era, no entanto, orgulhoso, invejoso e perverso, e todos os dias ansiava que o seu mestre morresse o mais cedo possível, pois cobiçava vir a ser considerado como o mais exímio arqueiro de todo o mundo.

Contudo, ele sabia que o mestre tinha obtido da mã-imperatriz do oeste um elixir da imortalidade que tomava irrealizável o seu sonho e no seu coração ardia constantemente o fogo da inveja. Um dia, resolveu-se, portanto, a tecer uma intriga e aproveitando-se da ocasião do herói ter ido a casa, entrou furtivamente na sua casa e apontando uma flecha ao peito de Chang E disse-lhe perversamente:

- Dá-me depressa o elixir da imortalidade! Depressa! Depressa! Depressa! Caso contrario, acabo-te com a vida de um só golpe!

Surpreendida pelo inesperado acontecimento ela perguntou-lhe:

- Mas você não é um amigo e discípulo de Hou Yi? Por que razão...

- Desde ha muito tempo já não o considero como meu mestre. Enquanto ele estiver vivo eu nunca poderei gozar da fama de ser o melhor do mundo e por isso odeio-o tanto e lhe desejo uma morte breve - disse Feng Meng rangendo os dentes.

Chang E permaneceu calada e chorou de raiva.

- Dá-me o elixir, depressa! - berrou o discípulo brandindo o ameaçador arco e flecha contra ela. Entretanto, Chang E pensava que nunca poderia entregar a esta ignóbil criatura a panaceia que Hou Yi tinha adquirido apos ter desafiado tantas dificuldades e perigos. Vendo-se ameaçada tirou o medicamento da sua algibeira, mas, quando o patife estendeu a mão com a intenção de se apoderar da preciosa cabala, ela meteu-a na boca e engoliu o seu conteúdo o mais rapidamente que foi possível e correu em direção à porta.

Mal Chang E tinha passado o limiar da porta já, começou a sentir-se tão leve que, dir-se-ia, diáfanas nuvens a impeliam para o céu. Gradualmente Chang E elevou-se airosamente para as alturas; mas para onde iria ela? Pensando que Hou Yi ficaria agora, para sempre um prisioneiro do mundo e, repleta saudades dele resolveu-se a ficar na Lua, por ser local mais vizinho da terra. A sua chegada ao palácio de Guanghan, na Lua, fez rebrilhar este astro ainda mais suave e claramente.

De regresso da casa, Hou Yi ficou tão triste ao saber do que tinha acontecido que, com a cabeça levantada e os olhos imóveis, não parava de fitar a longínqua Lua, pensando na sua amada que nunca mais poderia ver, enquanto que abundantes lagrimas lhe escorriam pelas faces sem cessar.

Ao refletir sobre o ingrato e desprezível ato de Feng Meng, o herói sentiu-se invadido por um misto de indignação e raiva e, pegando no seu arco e flechas, saiu de casa a sua procura.

Entretanto, o ardiloso Feng Meng tinha-se escondido no bosque sobranceiro a casa do seu mestre e ali lhe preparava uma emboscada. Assim, quando Hou Yi ao sair da casa, passou por aquelas paragens o malandro que nem um fantasma, saiu do seu esconderijo e com um grosso cacete, deu uma forte pancada na nuca do seu mestre deixando-o prostrado e morto.

O golpe tinha sido tão rápido que o herói nem teve tempo para se aperceber ou se defender do que lhe estava acontecendo.

A morte de Hou Yi despertou o pesar, o pranto e a pena de todos os homens. Tratava-se, realmente, de uma tragédia!

Quando os outros discípulos souberam do crime de Feng Meng, perseguiram-no, cercaram-no e prenderam-no, depois amarraram-no a uma grande arvore e mataram-no, cada um atravessando-o com uma flecha. No fim das contas ele não veio a ser considerado o arqueiro de primeira classe que tanto ansiava vir a ser, mas teve a triste sorte de um conspirador, em abono da verdade, um homem com demasiada ambição nunca tem bom fim!

Apos a morte de Hou Yi, em comemoração dos seus méritos indelegáveis em favor do povo, todas as famílias penduraram a sua imagem na sala principal de suas casas e passaram a venera-lo como um deus tutelar e a invocar o seu nome como modelo de virtude e altruísmo. Enquanto em vida, Hou Yi tinha, efetivamente, eliminado múltiplos flagelos em beneficio do povo e, após a sua morte, propagou-se a ideia de que o seu espirito continuava a zelar pelo bem-estar e sobrevivência dos povos. Sempre que havia secas ou inundações, dizia-se que ele lutava contra o demônio das Aguas ou o fantasma da Seca, vindo a ser considerado como uma divindade protetora dos interesses dos homens.

Consoante a Chang E, ela continuou a habitar, tal como uma fada celestial, o luxuoso palácio de Guanghan feito de jade e esmeraldas, mas afastada da terra e da companhia de Hou Yi, a sua eternidade tornou-se um mar de amargura, solidão e sofrimento.

Juntamente com Chang E, no palácio lunar, morava o coelho de jade que para ali tinha sido expulso pelo Imperador Celestial, encontrando-se condenado a ser constantemente o pilar de um almofariz de plantas medicinais, em castigo por ter roubado uma erva divina. Havia uma terceira personagem que também estava condenada a habitar a Lua para a perpetuidade. O seu nome era Wii Gang, e o Imperador Celestial tinha-o desterrado para este lugar com a função de cortar o laurel lunar, por ele ter cometido um grave erro de aprendizagem das artes imortais. O Imperador Celestial tinha-lhe prometido que se ele conseguisse cortar a tal arvore poderia regressar a terra, mas o laurel lunar tinha as propriedades magicas de cicatrizar qualquer golpe do machado de Wu Gang antes de ele o atingir de novo. Pobre Wu Gang! Dia apos dia não parava de desferir o seu machado no laurel lunar, no entanto, sem conseguir sequer fazer-lhe uma beliscadura. Então, como seria possível ele vir a tornar realidade a sua aspiração de deixar este local desolado?

Como o coelho de jade e Wu Gang viviam na Lua expiando as suas culpas, certos historiadores tradicionais, posteriores, vieram a divulgar que Chang E também vivia ali devido a ter cometido o erro de ter tomado o elixir da imortalidade egoisticamente, às escondidas. Este comum mal-entendido encontra-se explicito nos versos de Li Shangyin, um grande poeta da Dinastia Tang:

Chang E sente-se arrependida do roubo do elixir, E passa as noites só, no céu tão límpido como um mar azul.

Se bem que a poesia conte ser por causa do roubo do elixir da imortalidade que Chang E foi condenada a ficar para a eternidade no palácio lunar, e ali a passar uma existência solitária, sabe-se que a realidade é bem outra, e a sina dos amores desditosos do herói Hou Yi e da bela Chang E continua a provocar a compaixão das gerações.

Fonte:Mitologia Chinesa: Quatro Mil anos de cultura, através dos mitos e das lendas da Antiga China. Editora Princípio.

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