Renenutet era considerada Deusa da Colheita, farta e, por isso mesmo, seu fetival era celebrado no 9.º mês do ano egípcio, denominado pachons, quando as colheitas estavam em andamento. No 15.º dia daquele mês, correspondente ao nosso 30 de março, ocorria o festival de Renenutet. Essa festividade celebrava o aspecto de serpente da deusa, símbolo de morte e renovação, e do ser jovem saindo do velho, que a troca de pele do ofídio lembrava e que a semente do trigo sendo oferecida pela planta madura exemplificava. Como parte da cerimônia o faraó pisava sobre grãos de cevada e os primeiros frutos da colheita eram ofertados à deusa e às almas dos mortos. Jarros com água fresca e pilhas dos melhores grãos eram postos sobre o solo em oferenda e, em troca, ela protegia os campos da seca, das pragas e dos ladrões. Essa divindade garantia que as árvores se enchessem de frutos e que os talos das plantas alimentícias em geral pendessem de tão cheios. Também era frequente que existisse um relicário dedicado a ela perto de um lagar, para que ela pudesse receber as oferendas dos fabricantes de vinho.
No seu papel de Deusa da Fertilidade, Renenutet era conhecida como Senhora dos Campos Férteis e Senhora dos Silos. O antigo egípcio achava que ela era responsável pelos cuidados com a colheita, talvez porque nessa época visse cobras se escondendo nos campos. Na cidade que recebia o nome de Dja, que os gregos batizaram de Narmouthis e que hoje se chama Medinet Madi, havia um festival anual dedicado à deusa. A cidade situa-se nas margens do lago Moeris, limite meridional do Faium, e lá os arqueólogos encontraram um complexo de um templo dessa divindade, associada aos deuses Sebek e Hórus, construído inicialmente por Amenemhet III (c. 1844 a 1797 a.C.) e Amenenhet IV (c. 1799 a 1787 a.C.), com adições ptolomaicas. No interior existe uma grande estátua da deusa ladeada por aqueles dois faraós.
Renenutet também era uma Divindade da Sorte, e protetora das crianças, voltando seu terrível olhar contra todas as criaturas que ousassem jogar alguma maldição sobre elas. Quando um bebê nascia ela lhe transmitia a vontade de viver, moldava sua personalidade e assumia aspectos de uma deusa do destino, calculando o seu tempo de vida, controlando a prosperidade e o vigor do indivíduo. Dizia-se que uma criança que se tornava escriba tinha nascido com aquela deusa sobre o ombro, porque ser escriba significava ser brilhante, jamais passar fome nem ter que trabalhar nos campos ou lutar no exército. Em virtude dessa sua função de deusa do destino, tinha assento na sala onde se realizava o julgamento das almas dos mortos.
Quanto ao faraó, ela o protegia também, inclusive no mundo subterrâneo, onde era vista como uma serpente que soltava fogo. No além-túmulo, era encarregada de alimentar as almas dos defuntos e ainda era vista como protetora da roupa usada pelo faraó, o qual, trajado com tal defesa, incutia medo aos seus inimigos. Em função disso, no Império Novo (c. 1550 a 1070 a.C.) o papel dela se expandiu para incluir a concessão de poderes mágicos às bandagens da mumificação. Durante a dinastia ptolomaica (304 a 30 a.C.) ela era conhecida como A Senhora dos Mantos, em virtude de sua associação com as roupas.
Também chamada de Termuthis, Ernutet ou Renenet, essa deusa da abundância era representada como uma mulher, às vezes com cabeça de uma serpente naja, ou como uma enorme serpente naja tendo na cabeça uma coroa com duas plumas altas e, de vez em quando, um uraeus ou o disco solar e chifres de vaca. Ainda podia ser mostrada como uma serpente amamentando uma criança, principalmente o filho do faraó. Por sua ligação com alimentos, os egípcios costumavam colocar uma imagem dessa divindade na parede da cozinha. Seu principal centro de culto situava-se no delta do Nilo, no local onde hoje fica a moderna cidade de Tarrana e onde se localizava a Terenuthis clássica, cerca de 70 quilômetros a noroeste do Cairo. Esse nome antigo já era ele mesmo derivado do nome Termuthis da deusa.
Fonte: f
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