sexta-feira, 24 de agosto de 2018

As Fúrias.



As erínias em grego: Ἐρīνύς, na mitologia grega, eram personificações da vingança. Enquanto Nêmesis (deusa da vingança) punia os deuses, as erínias puniam os mortais. Eram Tisífone (Castigo), Megera (Rancor) e Alecto (Inominável). Na mitologia romana, eram chamadas fúrias – Furiæ ou Diræ.

Viviam nas profundezas do Tártaro, onde torturavam as almas pecadoras julgadas por Hades e Perséfone, seus pais. Outra versão afirma que nasceram das gotas do sangue que caíram sobre Gaia quando o deus Urano foi castrado por Cronos. Pavorosas, possuíam asas de morcego e cabelo de serpente.


As erínias, deusas encarregadas de castigar os crimes, especialmente os delitos de sangue, são também chamadas Eumênides (Εὐμενίδες), que em grego significa as bondosas ou as Benevolentes, eufemismo usado para evitar pronunciar o seu verdadeiro nome, por medo de atrair sobre si a sua cólera. Em Atenas, usava-se como eufemismo a expressão Semnai Theai (σεμναὶ θεαί), ou deusas veneradas.

Na versão de Ésquilo, as erínias são filhas da deusa Nix, da noite.

Supunha-se elas serem muitas, mas na peça de Ésquilo elas são apenas três, que se encarregavam da vingança e habitam, segundo as versões, o Érebo ou o Tártaro, o inframundo, onde descansam até que são de novo reclamadas na Terra. Os seus nomes são:

Alecto (Ἀληκτώ, a implacável), eternamente encolerizada. Encarrega-se de castigar os delitos morais como a ira, a cólera, a soberba, etc. Tem um papel muito similar ao da deusa Nêmesis, com diferença de que esta se ocupa do referente aos deuses, Alecto tem uma dimensão mais "terrena". Alecto é a Erínia que espalha pestes e maldições. Seguia o infractor sem parar, ameaçando-o com fachos acesos, não o deixando dormir em paz.

Megera que personifica o rancor, a inveja, a cobiça e o ciúme. Castiga principalmente os delitos contra o matrimônio, em especial a infidelidade. É a Erínia que persegue com a maior sanha, fazendo a vítima fugir eternamente. Terceira das fúrias de Ésquilo, grita ininterruptamente nos ouvidos do criminoso, lembrando-lhe das faltas que cometera.

Tisífone, a vingadora dos assassinatos (patricídio, fratricídio, homicídio). É a erínia que açoita os culpados e enlouquece-os.

As erínias são divindades ctónicas presentes desde as origens do mundo, e apesar de terem poder sobre os deuses, não estando submetidas à autoridade de Zeus, vivem às margens do Olimpo, graças à rejeição natural que os deuses sentem por elas (e é com pesar que as toleram, pois devem fazê-lo). Por outro lado, os homens têm-lhe pânico, e fogem delas. Esta marginalidade e a sua necessidade de reconhecimento são o que, segundo conta Ésquilo, as erínias acabam aceitando o veredicto de Atena, passando mesmo por cima da sua inesgotável sede de vingança.

Eram forças primitivas da natureza que atuavam como vingadoras do crime, reclamando com insistência o sangue parental derramado, só se satisfazendo com a morte violenta do homicida.

Porém, posto que o castigo final dos crimes é um poder que não corresponde aos homens (por mais horríveis que sejam), estas três irmãs se encarregavam do castigo dos criminosos, perseguindo-os incansavelmente até mesmo no mundo dos mortos, pois seu campo de acção não tem limites. As erínias são convocadas pela maldição lançada por alguém que clama vingança. São deusas justas, porém implacáveis, e não se deixam abrandar por sacrifícios nem suplícios de nenhum tipo. Não levam em conta atenuantes e castigam toda ofensa contra a sociedade e a natureza, como por exemplo, o perjúrio, a violação dos rituais de hospitalidade e, sobretudo, os assassinatos e crimes contra a família.

Na Antiguidade, sacrificavam-lhes carneiros negros, assim como libações de nephalia (νηφάλια), ou hidromel. As erínias são representadas normalmente como mulheres aladas de aspecto terrível, com olhos que escorrem sangue no lugar de lágrimas e madeixas trançadas de serpentes, estando muitas vezes acompanhadas por muitos destes animais.Aparecem sempre empunhando chicotes e tochas acesas, correndo atrás dos infratores dos preceitos morais.

Existe na Arcádia um lugar em que se atopam dois santuários consagrados às Erínias. Num deles, elas recebem o nome de Maniai (Μανίαι, as que volvem todos). Neste lugar, segundo a lenda relatada por Ésquilo na sua tragédia As Eumênides, perseguem a Orestes pela primeira vez, vestidas de negro. Perto dali, e segundo conta Pausânias, apontava-se outro santuário onde o seu culto associava-se ao das graças, deusas do perdão. Neste santuário purificaram a Orestes, vestidas completamente de branco. Orestes, uma vez curado e perdoado, aplicou um sacrifício expiatório às maniai.

Hinos.

Hino Órfico 70, às Fúrias (Eumênides), com fumigação de aromáticos:

Ouçam-me, ilustres Fúrias (Eumênides), de poderosos nomes e impressionantes poderes, famosas por seu prudente conselho;
Sagradas e puras, nascidas do terrestrial Jove (Zeus Khthonios) e Proserpina (Perséfone), a quem adoráveis cachos adornam;
Cuja vista penetrante, com visão irrestrita, inspeciona as ações de toda a espécie ímpia:
Atendente dos Destinos, punidora da raça - com severa ira - de obras injustas e vis.
Rainhas de cor escura, cujos olhos resplandescentes são brilhantes de luz temível, radiante e destruidora de vida:
Eternas governantes, terríveis e fortes, a quem a revanche e a tortura horrendamente pertencem;
Fatais e repugnantes à vista humana, com cabelos serpentinos vagando na noite;
Aproximem-se e rejubilem-se destes ritos, pois a vós eu chamo, com voz sagrada e suplicante.

Hino Órfico 69, às Fúrias (Erínias), com fumigação de aromáticos:

Vociferantes e Desenfreadas Fúrias [Erínias], ouçam! A vós eu invoco, poderoso temor, a quem todos reverenciam;
Noturnas, profundas, que se retiram em segredo, pavorosas Tisífone, Alecto e Megara;
Imersas em uma profunda caverna, envolvidas pela noite, perto de onde o Estige flui impermeável à vista;
Sempre presente nos ritos misteriosos, furiosas e ferozes, em quem a lei terrível do destino se delicia;
Vingança e tristeza medonhas a vós pertence, ocultas em um véu selvagem, grave e forte,
Espantosas virgens, que sempre habitam dotadas de várias formas, no mais profundo Hades;
Aéreas, e não vistas pelo gênero humano, de veloz corrida, rápidas como a mente.
Em vão o Sol com brilho alado refulgente, em vão a Lua com sua suave luz dardejante,
Sabedoria e Virtude podem tentar em vão, e a agradável Arte obter nosso transporte
Ao menos com estas vocês prontamente conspiram, e logo previnem sua ira toda-destrutiva.
As ilimitadas tribos de mortais vocês avistam e justamente regem com o olhar imparcial do Direito [de Dikê].
Venham, Moiras de cabelo serpentino, de muitas formas, divinas, suprimam sua raiva, e favoreçam nossos ritos.
(traduções da Alexandra)

Fonte: Wikipédia, Helenos.

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