terça-feira, 14 de agosto de 2018

Hera, a Senhora do Casamento



Hera (em latim: Ἥρα, transl. Hēra ou Ἥρη, transl. Hērē), no mito grego, é a deusa das bodas, da maternidade, do céu e das esposas, equivalente de Juno no mito romano. Irmã e esposa de Zeus, é a rainha dos deuses, e patrona da fidelidade conjugal. Retratada como majestosa e solene, muitas vezes coroada com os polos (uma coroa alta cilíndrica usada por várias deusas), Hera é geralmente representada ostentando na mão uma romã, símbolo da fertilidade, sangue e morte, e substituto das cápsulas da papoula de ópio. A vaca e, posteriormente, o pavão eram seus animais simbólicos principais. Íris era a sua fiel atendente, também mensageira e aia.


Retratada como ciumenta e agressiva contra qualquer relação extra-conjugal, odiava e perseguia as amantes de Zeus, e os filhos bastardos gerados desses relacionamentos. Tentou, dentre alguns exemplos, matar Hércules ainda no berço. A única exceção era Hermes e sua mãe Maia, que a deusa até admirava pela astúcia e beleza.

Como patrona do matrimônio, odiava adúlteros e, por isso, não raro era invocada por seus devotos para castigar cônjuges infiéis.

Possuía sete templos na Grécia antiga. Usava uma pena do seu Pássaro como marcação de seus locais sagrados, e aparecia aos mortais apenas como um par de olhos. Daí seu epíteto, "de garços olhos", segundo o Poeta.

Domínios: Rainha do céu, Mulheres, Casamento, Fecundação.
Animais: Cuco, Pavão, Garça/Grua, Falcão, Vaca (Bezerra), Leão.
Plantas: Agno-casto (vitex), Romã.
Símbolos: Bastão de lótus, Coroa, Leão, Penas de pavão.
Ofertas: Ervas aromáticas; salgueiro, penas de pavão, papoula, safira estrela, mirra, almiscareiro, casadinhos, bolo de casamento.
Cores: Dourado, prateado, branco.

Como todas as suas Irmãs e irmãos, exceto Zeus, foi engolida por Crono, mas salva pelo embuste de Métis e os combates vitoriosos de seu futuro esposo.

Durante todo o tempo em que Zeus lutava contra os Titãs, Réia entregou-a aos cuidados de Oceano e Tétis, que a criaram nas extremidades do mundo, o que irá provocar para sempre a gratidão da filha de Crono. Existem outras tradições que lhe atribuem a educação às Horas, ao herói Têmeno, filho de Pelasgo, ou ainda às filhas de Astérion, rei de Creta. Após seu triunfo definitivo, Zeus a desposou, em núpcias soleníssimas. Era, na expressão de Hesíodo, a terceira esposa (a primeira foi Métis e a segunda, Têmis), à qual o deus se uniu em "justas núpcias". Conta-se, todavia, que Zeus e Hera se amavam há muito tempo e que se haviam unido secretamente, quando o deus Crono ainda reinava sobre os Titãs. O local, onde se realizaram essas "justas núpcias" varia muito, consoante as tradições. A mais antiga e a mais "canônica" dessas variantes coloca-as no Jardim das Hespérides, que é, em si mesmo, o símbolo mítico da fecundidade, no seio de uma eterna primavera. Os mitógrafos sempre acentuaram, aliás, que os pomos de ouro do Jardim das Hespérides foram o presente de núpcias que Géia ofereceu a Hera e esta os achou tão belos, que os plantou em "seu jardim", nas extremidades do Oceano. Homero, na ilíada, desloca o casamento divino do jardim das Hespérides para os píncaros do monte Ida, na Frígia. Outras tradições fazem-no realizar-se na Eubéia, por onde o casal passou, quando veio de Creta. Em diversas regiões da Grécia, além disso, celebravam-se festas para comemorar as bodas sagradas do par divino do Olimpo. Ornamentava-se a estátua da deusa com a indumentária de uma jovem noiva e conduziam-na em procissão pela cidade até um santuário, onde era preparado um leito nupcial. O idealizador de tal cerimônia teria sido o herói beócio Alalcômenes.

Como legítima esposa do pai dos deuses e dos homens, Hera é a protetora das esposas, do amor legítimo. A deusa, no entanto sempre foi retratada como ciumenta, vingativa e violenta. Continuamente irritada contra o marido, por suas infidelidades, moveu perseguição tenaz contra suas amantes e filhos adulterinos. Héracles foi uma de suas vítimas prediletas. Foi ela a responsável pela imposição ao herói dos célebres Doze Trabalhos. Perseguindo-o, sem tréguas, até a apoteosa final do filho de Alcmena. Por causa de Héracles, aliás, Zeus, certa vez a puniu exemplarmente. Quando o herói regressava de Tróia, após tomá-la, Hera suscitou contra seu navio uma violenta tempestade. Irritado, Zeus suspendeu-a de uma nuvem, de caça para baixo, amarrada com uma corrente de ouro e uma bigorna em cada pé. Foi por tentar libertar a mãe de tão incômoda posição, que Hefesto foi lançado no vazio pelo pai. Perseguiu implacavelmente Io, mesmo metamorfoseada em vaca, lançando contra ela um moscardo, que a deixava como louca. Mandou que os Curetes, demônios do cortejo de Zeus, fizessem desaparecer Épafo, filho de sua rival Io. Provocou a morte trágica de Sêmele, que estava grávida de Zeus. Tentou o quanto pôde impedir o nascimento de Apolo e Artemis, filhos de seu esposo com Leto. Enlouqueceu Átamas e Ino, por terem criado a Dionisio, filho de Sêmele. Aconselhou Artemis a matar a ninfa Calisto, que Zeus seduzira, disfarçando-se na própria Artemis ou sem Apolo, segundo outros, porque a ninfa, por ser do cortejo de Artemis, tinha que guardar a todo custo sua virgindade. Zeus, depois, a transformou na constelação da Ursa Maior, porque, conforme algumas fontes, Artemis, ao vê-la grávida, a metamorfoseou em ursa e a liquidou a flechadas. Outros afirmar que tal metamorfose se deveu à cólera de Hera ou a uma precaução do próprio Zeus, para subtraí-la à vingança da esposa.

Para Escapar da vigilância atenta de Hera, Zeus não só se transformava de todas as maneiras, em cisne, touro, chuva de ouro, no marido da mulher amada, mas ainda disfarçava, a quem desejava poupar da ira da mulher: Io o fez em vaca; Dionisio, em touro ou bode... De resto, o relacionamento entre os esposos celestes jamais foi muito normal e a cólera e vingança da filha de Crono se apoiavam em outros motivos. Certa vez, Hera discutia com o marido para saber quem conseguia usufruir de maior prazer no sexo, se o homem ou a mulher. Como não conseguissem chagar a uma conclusão porque Zeus dizia ser a mulher a favorecida, enquanto Hera achava que era o homem, resolveram consultar Tirésias, que tivera sucessivamente a experiência dos dois sexos. Este respondeu que o prazer da mulher estava na proporção de dez para um relativamente ao do homem. Furiosa com a verdade, Hera prontamente o cegou.

efesto.

Hera preside os casamentos e é o arquétipo da união no leito conjugal, mas ela não é notável como uma mãe. A descendência legítima de sua união com Zeus são Ares (o deus da guerra), Hebe (deusa da juventude), Eris (a deusa da discórdia) e Ilitia (deusa do parto). Ênio, a deusa da guerra responsável pela destruição de cidades e companheira de Ares, também é mencionada como uma filha de Zeus e de Hera, embora Homero equivalia a Eris. Hera tinha ciúmes de Zeus ter dado à luz a Atena, sem recorrer a ela (na verdade, com Metis), então ela deu luz a Hefesto, sem ele, embora em algumas histórias, ele é filho dela com Zeus. Hera ficou revoltada com a feiura de Hefesto e o jogou do monte Olimpo.

Em alguns mitos, Hefesto se vingou da sua mãe por tê-lo rejeitado, fazendo-lhe um trono mágico que, quando ela se sentou não permitiu que se levantasse. Os outros deuses imploraram Hefesto para voltar ao Olimpo para deixá-la sair, mas ele se recusava. Dionísio o embebedou e levou-o de volta para o Olimpo no lombo de uma mula. Hefesto tirou Hera do trono após ter sido dado Afrodite como sua esposa.

Perseguição às consortes de Zeus

Leto

Quando Hera descobriu que Leto estava grávida e que Zeus era o pai, ela proibiu Leto de dar à luz em terra firme, ou em continente, ou qualquer ilha no mar. Poseidon, com pena de Leto guiou-a para uma ilha flutuante em Delos, que não era nem continente, nem uma verdadeira ilha e Leto foi capaz de dar à luz seus filhos na ilha. Como um gesto de gratidão, Delos foi presa com quatro pilares. A ilha mais tarde se tornou sagrada para Apolo. Alternativamente, Hera impediu que sua filha Ilitia, a deusa do parto, fosse ajudar Leto a dar a luz. Os outros deuses subornaram Hera com um belo colar que ninguém podia resistir, e ela finalmente cedeu.

Ártemis teria nascido primeiro e depois assistiu o nascimento de Apolo. Algumas versões dizem que Ártemis ajudou a mãe a dar à luz a Apolo durante nove dias. Outra versão diz que Ártemis nasceu um dia antes de Apolo, na ilha de Ortígia e que ela ajudou Leto atravessar o mar para Delos no dia seguinte para dar à luz Apolo.

Eco.

De acordo com a releitura do mito urbano de Ovídio em Metamorfoses, por um longo tempo, uma ninfa chamada Eco tinha a função de distrair Hera enquanto Zeus namorava outras ninfas. Quando Hera descobriu o engano, ela amaldiçoou Eco para apenas repetir as palavras dos outros (daí a nossa moderna palavra "eco").

Sêmele.

Quando Hera descobriu que Sêmele, filha de Cadmo, o rei de Tebas, estava grávida de Zeus, ela se disfarçou de enfermeira de Sêmele e convenceu a princesa a insistir que Zeus mostrar-se a ela sua verdadeira forma. Quando ele foi obrigado a fazê-lo, tendo jurado por Estige seus trovões e relâmpagos destruíram Sêmele. Zeus então, tirou do ventre de Sêmele Dionísio, e o colocou em sua coxa terminando a gestação.

Em outra versão, Dionísio era originalmente o filho de Zeus com Deméter ou Perséfone. Hera enviou seus titãs para rasgar o bebê em pedaços, a partir do qual ele foi chamado de Zagreus ("despedaçado"). Zeus conseguiu resgatar o coração; ou, o coração foi salvo, por Atena, Reia, ou Deméter. Zeus usou o coração para recriar Dionísio e implantar-lo no ventre de Sêmele, daí Dionísio ficou conhecido como "o nascido duas vezes". Certas versões afirmam que Zeus deu a Sêmele o coração para comer e engravidá-la. Hera enganou Sêmele ao pedir para Zeus revelar sua verdadeira forma, o que a matou. Dionísio depois conseguiu resgatar sua mãe do submundo e leva-la para morar no monte Olimpo.

Io.

Hera quase pegou Zeus com uma amante chamada Io, um destino evitado por Zeus que transformou Io em uma bela novilha branca. No entanto, Hera não estava completamente enganada e exigiu que Zeus lhe dar a novilha de presente.

Uma vez que Io foi dada a Hera, está colocou o titã Argos Panoptes para manter Io separada de Zeus. Zeus então ordenou Hermes matar Argos, o que ele fez. Hera, revoltada, enviou um inseto para infestar Io, que vagou da Grécia até o Egito, onde, à beira do Rio Nilo, retornou à forma de mulher, dando à luz Épafo.

Lâmia

Lâmia foi uma rainha da Líbia, amante de Zeus. Hera transformou-a em um monstro e matou seus filhos. Ou, em alternativa, ela matou os filhos de Lâmia e a tristeza transformou-a em um monstro. Por fim, para torturá-la ainda mais, Lâmia foi condenada por Hera a não poder cerrar os olhos, para que ficasse para sempre obcecada com a imagem dos filhos mortos. Zeus, apiedado, deu-lhe o dom de poder extrair os olhos de vez em quando para descansar. Lâmia estava com inveja das outras mães e comeu seus filhos.

Herácles.

Hera foi a madrasta e inimiga de Herácles (Hércules), que foi batizado de "Glória de Hera" em sua honra; Herácles é o herói que, mais do que até mesmo Perseus, ou Teseu, introduziu as formas do Olimpo na Grécia. Quando Alcmena estava grávida de Herácles, Hera tentou impedir que o nascimento ocorresse amarrando as pernas de Alcmena. Ela foi frustrado por Galanthis, seu servo, que disse a Hera que ela já tinha tido o bebê. Hera puniu Galanthis transformando em uma doninha.

Enquanto Herácles ainda era um bebê, Hera enviou duas serpentes para matá-lo enquanto ele estava deitado em sua cama. Herácles estrangulou uma única serpente em cada mão e foi encontrado por sua ama brincando com seus corpos flácidos como se fossem brinquedos de uma criança. A anedota é construída sobre uma representação do herói segurando uma serpente em cada mão. "A imagem de uma criança divina entre duas serpentes pode ter sido muito familiar para os tebanos, que adoravam o Cabeiri, embora não seja representado como uma primeira exploração de um herói".

Mais tarde, ela despertou as amazonas contra ele quando Herácles estava em uma de suas missões.

Um mito sobre a origem da Via Láctea é que Zeus tinha enganado Hera dando uma criança para ela amamentar, mais está criança era Herácles: Quando Hera descobriu, ela o puxou de seu peito, e um jorro de seu leite formou uma mancha no céu que pode ser observado desde esse dia. Diferente dos gregos, os etruscos, imaginou um adulto Herácles no seio de Hera: isto pode referir-se a sua aprovação por ela quando ele se tornou imortal. Ele já havia ferido severamente seu peito.

Hera fez Herácles trabalhar para o rei Euristeu de Micenas. Ela o obrigou fazer cada trabalho, conhecidos popularmente como os Doze trabalhos de Hércules.

Quando ele lutou contra a Hidra de Lerna, ela enviou um caranguejo para morder os seus pés, na esperança de distraí-lo. Quando Herácles tomou o gado de Gerião, ele atirou na mama direita de Hera com uma seta farpada: a ferida era incurável e deixou-a em constante dor, como Dione diz para Afrodite na Ilíada, Livro V. Depois, Hera enviou um moscardo para morder o gado. Hera então enviou uma inundação que elevou o nível da água de um rio tanto que Herácles não podia atravessar o rio com o gado. Ele empilhou pedras no rio para tornar a água mais rasa. Quando ele finalmente chegou à corte de Euristeu, o gado foi sacrificado para Hera.

Euristeu também queria sacrificar o Touro de Creta para Hera. Ela recusou o sacrifício porque refletia a glória de Herácles. Alguns mitos afirmam que, no final, Herácles fez amizade com Hera, salvando-a de Porfírio, um gigante que tentou estuprá-la durante a Gigantomaquia, e que ela mesmo deu a sua filha Hebe como noiva de Herácles. A criação desse mito serviu para explicar uma representação arcaica de Herácles como "homem de Hera", pensava-se adequado para os construtores do Heraião em retratar as façanhas de Hércules nos relevos do templo de Hera.

A punição de Íxion

Íxion, que tinha sido rei dos Lápitas, se apaixonou por Hera e tentou estuprá-la, e quando Hera contou a Zeus, ele queria verificar se era realmente verdade. Então ele fez uma nuvem se parecer com Hera, e colocou-o ao lado de Ixion. Quando Ixion alardeou para todos que ele tinha dormido com Hera, Zeus irritado, o castigou, amarrando-o em uma roda, lançou no tártaro condenado a nela girar pela eternidade.

Assistência aos argonautas

Hera odiava Pélias, porque ele tinha matado Sidero, em um dos templos da deusa. Mais tarde, ela convenceu Jasão e Medea matarem Pélias. Jasão se tornou um dos protegidos de Hera, assim como os Argonautas, que foram ajudados por ela em sua busca pelo Velocino de Ouro.

O Julgamento de Páris e a Guerra de Troia

Todos os deuses e deusas, bem como vários mortais foram convidados para o casamento de Peleu e Tétis (os pais de Aquiles). Só Eris, deusa da discórdia, não foi convidada. Ela estava irritada com isso, então ela chegou no banquete do casamento com uma maçã dourada, que tinha a inscrição καλλίστῃ (kallistēi, "para a mais bela"), e lançou a maça entre as deusas. Afrodite, Hera e Atena todas alegaram ser a mais bela, e assim, a dona da maçã.

As deusas optaram para deixar a questão ser resolvida por Zeus, que, não querendo favorecer uma das deusas, colocou a escolha nas mãos de Páris, um príncipe de Troia. As deusas se despiram para Páris no Monte Ida, ainda assim, Páris não poderia decidir, como todas as três eram idealmente belas, então as deusas recorreram a subornos. Hera ofereceu o controle sobre toda a Ásia e Europa, enquanto Atena ofereceu sabedoria, fama e glória na batalha, e Afrodite ofereceu o amor da mulher mortal mais bonita do mundo, está mulher era Helena, que era casada com o rei de Esparta, Menelau. Páris escolheu Afrodite, e as outras duas deusas ficaram furiosas por terem perdido e favoreceram os gregos não guerra que se seguiu, causada pelo rapto de Helena por Páris.

Durante a Guerra de Troia, Hera, Atena, Poseidon, Hefesto e Tétis protegeram os gregos. Na guerra, Hera chegou a ferir Ártemis que protegia os troianos, e pegou o cinto mágico de Afrodite para favorecer os gregos.

Pelo fato de ser esposa de Zeus, Hera possui alguns atributos soberanos, que a distinguem das outras imortais, suas irmãs. Como seu divino esposo, exerce uma ação poderosa sobre os fenômenos celestes. Honrada como ele nas alturas, onde se formam as borrascas e se amontoam as nuvens, que derramam as chuvas benfazejas, ela pode desencadear as tempestades e comandar os astros que adornam a abóbada celeste. A união de Zeus e Hera é como símbolo da natureza inteira. É por intermédio de ambos, do calor dos raios do sol e das chuvas, que penetram o solo, que a terra é fecundada e se reveste de luxuriante vegetação. Ainda como Zeus, Hera personifica certos atributos morais, como o poder, a justiça, a bondade. Protetora inconteste dos amores legítimos, é o símbolo da fidelidade é respeitada pelo Olimpo inteiro, que a saúda como sua rainha e senhora. É verdade que, por vezes, uma rainha irascível e altiva, mas que jamais deixou de ser, em seus rompantes ou em sua majestade serena, a grande divindade feminina do Olimpo grego, cujo grande deus masculino é Zeus.

Tipo e atributos de Hera - O tipo feminino que corresponde a Zeus, como deus do céu, é Hera, sua irmã e esposa. Hera é, antes de tudo, a deusa tutelar do casamento, a protetora das uniões castas, o laço da família, assim como Zeus é o laço da cidade.

Para bem compreendermos o papel de Hera e a sua fisionomia na arte, convém nos lembremos de que o casamento grego, isto é, a monogamia, se opunha a todos os hábitos das idades primitivas, em que a poligamia era universal. Hera assumiu, pois, no espírito público o caráter de um protesto; a poesia atribuiu-lhe um humor violento, lento e difícil que a arte substituiu por grave majestade, como convinha a uma deusa que representa a esposa.

Desde os tempos mais antigos, Hera tem por atributo o véu tomado pela jovem, em sinal de separação do resto do mundo. Primitivamente, o véu envolvia inteiramente a deusa; Fídias caracterizou Hera no friso do Partenão com o véu atrás. Hera está sempre envolvida da cabeça aos pés pelas vestes; mas tem o pescoço e os braços nus. Os seus atributos são o véu, a diadema, o pavão e o cuco. Representavam-na como mulher de elevada estatura e severa beleza, com feições majestosas e atitude imponente e digna. "A fisionomia de Hera, diz O. Muller, tal qual foi muito provavelmente fixada por Policleto, apresenta as formas da beleza em todo o seu esplêndido e inalterável frescor, isto é, docemente arredondadas, sem serem demasiadamente cheias, dignas de respeito, mas sem dureza. A testa, cercada de cabelos que caem em linhas onduladas, forma um triângulo levemente abobadado; os olhos abertos e redondos olham para a frente. Um ar de juventude e frescor paira sobre todo o corpo da deusa que nos representa uma matrona a banhar-se sem cessar na fonte da virgindade, como se narra de Hera."

Foi o escultor Policleto que fixou o tipo da deusa numa estátua colossal feita para os argivos, cuja cidade estava sob a proteção especial de Hera. Honravam-se ali famosíssimas relíquias, entre outras o leito da deusa. A Hera de Policleto era colossal, embora um pouco menor que a Atena de Fídias, que fora esculpida vinte anos antes. Achava-se sentada num trono de ouro: a cabeça, o peito, os braços e os pés eram de marfim; as vestes de ouro. Trazia um diadema sobre o qual o artista representara as Horas e as Carites. Com uma das mãos empunhava o cetro, com a outra segurava uma romã; no topo do cetro havia um cuco, e a manta estava ornada de grinaldas formadas de ramos de videira. Os pés da deusa repousavam sobre uma pele de leão.

Marcial celebra assim a Hera de Policleto: "Ó Policleto! essa Hera, milagre da tua arte, esse feliz título da tua glória, a mão de Fídias invejaria ao teu cinzel: a sua beleza tem algo de tão imponente, que no monte Ida, Páris, sem hesitar, lhe houvera dado a preferência sobre as deusas forçadas a confessar-se vencidas. Policleto, se Zeus não tivesse amado a sua Hera, teria amado a tua."

Iris - Hera, que na ordem moral é a deusa do casamento, caracteriza na ordem física a umidade do ar. É por isso que a Fábula lhe dá por ancila íris, personificação do arco-íris, que aparece após as grandes chuvas. Íris é que foi incumbida de preparar o banho de Hera; mas a sua principal missão é ser mensageira da rainha do céu. Desliza no ar com a rapidez de uma andorinha, e a arte lhe dá a forma de uma jovem alada, que traz o caduceu e asas talares, como Hermes, o mensageiro de Zeus. O caminho percorrido por íris é a curva descrita pelo arco-íris com o qual se identifica. Essa divindade só aparece raramente nos monumentos antigos.

Hera de Lanúvio - Hera era adorada sob forma especial em Lanúvio, cidade do Lácio, de onde o seu culto se espalhou pelos romanos. O caráter absolutamente guerreiro que a arte lhe tem dado difere do das outras figuras da deusa. Sob os seus pés está uma serpente. A deusa empunha uma lança e um escudo, e traz a égide, ou pele de cabra, que lhe recobre a cabeça. Além da bela estátua do Vaticano, várias moedas a representam com a sua belicosa atitude.

O Cuco de Hera - Zeus, querendo dobrar a altiva Hera, que até então só tivera desdém por ele, assumiu a forma de um cuco, e após provocar violenta tempestade, foi refugiar-se, trêmulo de frio, aos pés da deusa, a qual, apiedando-se do pobre pássaro, o pegou e ocultou no seio. O rei dos deuses reassumiu imediatamente a forma divina, e Hera, impressionada sem dúvida pela interessante maneira pela qual fora feita a declaração, consentiu em tornar-se-lhe esposa. É em memória de tal fato que Hera traz um cuco no alto do cetro.

A Punição de Hera - Hera, embora seja a deusa tutelar do casamento, raramente viveu em harmonia com o divino esposo. Um dia ousou, com o apoio de Posídon, conspirar contra Zeus, com a intenção de o destronar, e juntos conseguiram até amarrá-lo. Mas a Nereida Tétis levou em socorro ao rei dos deuses o gigante Briareu, cuja presença bastou para deter os projetos de Hera. Zeus, encolerizado, suspendeu a mulher entre o céu e a terra, valendo-se de uma cadeia de ouro, com uma pesada bigorna a puxar-lhe os pés. Essa singular Fábula, antiquíssima, foi reproduzida por Correggio, no convento de São Paulo, em Parma. Por uma inconveniência mitológica, de que a Renascença nos oferece vários exemplos, o artista representou a rainha do céu completamente nua, ao passo que Hera sempre está vestida da cabeça aos pés.

A grande causa da desinteligência que tão freqüentemente se nos depara entre Hera e o divino esposo, tem por principal motivo o ciúme provocado na rainha do céu pelos numerosos himeneus de Zeus. É a esse ciúme que o pavão deve a honra de ter substituído o cuco, como atributo de Hera.

Incenso para Hieros Gamos (para honrar Zeus e Hera no Gamelia e em casamentos):

3 partes de olíbano
2 partes de pétalas de rosa
1 parte de ervas aromáticas (combinação de partes iguais de lavanda, sálvia, tomilho e manjerona)
1/2 parte de murta/mirto
1/2 parte de casca de salgueiro-branco
1/4 parte de goma ou óleo de estoraque/benjoim

Ritual.

Fazer a purificação do miasma, inclusive lavando as mãos com a água lustral antes de começar.

Circular o altar em sentido anti-horário para deixar suas ofertas. O altar de preferência deve estar voltado para o leste e ter imagens de Hera e coisas associadas a ela. Uma tigela para receber as libações estará no altar, assim como a vela com a chama sagrada.

Erguer as mãos para cima e dizer essas partes retiradas do Hino Homérico a Hera:

"Ouça-me, Hera Parthenos (virgem), Hera Zygia (unificadora), Hera Akraia (Das alturas), ou quaisquer nomes que desejas ser chamada. Cantamos à Hera do trono dourado, Rainha dos Imortais, que sobrepassa tudo em beleza, a irmã e esposa do Zeus de altos trovões. Pedimos que abençoe e proteja nossa(s) família(s). Faça isso por nós, e nos reuniremos em sua honra novamente."

Verter as libações de vinho, água, leite, mel, azeite de oliva etc. Enquanto são feitas as ofertas líquidas, recita-se uma das seguintes frases:

Uma libação em sua honra, Hera Boöpis, “olhos de vaca”
Uma libação em sua honra, Hera Khera, “solitária”
Uma libação em sua honra, Hera Pais, “donzela”
Uma libação em sua honra, Hera Agreie, “de Argos”
Uma libação em sua honra, Hera Leukolenos, “de braços brancos”
Uma libação em sua honra, Hera Teleia, “realizada”
Uma libação em sua honra, Hera Gamelia, “do casamento”

Acender incenso e oferecer a Hera. Ler o Hino Órfico a Hera:



“Tu estás oculta em buracos escuros, e aérea é a tua forma,
Ó Hera, rainha de tudo e abençoada consorte de Zeus.
Tu envias brisas suaves aos mortais, assim como nutres a alma,
e, mãe das chuvas,
tu cuidas dos ventos e dás nascimento a tudo.
Sem ti não há sequer vida nem crescimento;
e, misturada como estás no ar, te veneramos,
participas de tudo e de tudo és rainha e senhora.
Atiras-te e te viras com o vento impetuoso.
Que tu possas, ó deusa abençoada e rainha de muitos nomes,
trazer gentileza e alegria em teu amável rosto.”

Qualquer pedido especial ou devoção pessoal é feito neste momento. Outras ofertas podem ser feitas, com algumas palavras espontâneas ditas em voz alta junto com o oferecimento.

Para concluir o ritual, uma libação final é vertida, enquanto se diz "Salve, gloriosa deusa, mãe dos Imortais. Devemos nos reunir em sua honra novamente. ”

Após o ritual, compartilha-se uma refeição.
(Alexandra)

Hinos á Hera.

Hino Homérico XII - A Hera
Eu canto à Hera do trono dourado, a quem Réia deu à luz. Rainha dos imortais ela é, superando todas em beleza: ela é a irmã e esposa do Zeus do alto trovão, - a gloriosa, a quem todos os abençoados pelo alto Olimpo reverenciam e honram, tanto quanto a Zeus que se delicia em trovões.
(tradução da Alexandra)

Hino Homérico XII: A Hera
Hera canto auritrônia a quem Reia engendrou
de imortais a rainha, tendo suprema formosura.
de Zeus trovejante é irmã e esposa
gloriosa, a quem todos os venturosos no vasto Olimpo
venerando honram qual Zeus jubiloso do raio.
(tradução de Rafael Brunhara)

Hino Órfico 16, a Hera:
Ó Hera da realeza, de modos majestosos, formada no etéreo, divina, rainha abençoada de Zeus, entronada no âmago do ár cerúleo (cor-do-céu), a raça dos mortais é teu costante cuidado. As resfrescantes ventanias, elas sozinhas já inspiram poder, que nutre a vida, que toda a vida deseja. Mãe dos chuviscos e ventos, a ti apenas, produzindo todas as coisas, a vida mortal é conhecida: toda a natureza compartilha o teu temperamento divino, e o domínio universal é apenas teu, com sonoras rajadas de vento, o mar que se expande e os rios que fluem e bradam quando sacudidos por ti. Venha, abençoada Deusa, poderosa e renomada rainha, de aspecto gentil, rejubiloso e sereno.
(tradução da Alexandra)

Hino Órfico 16, a Hera:
Tu estás oculta em buracos escuros, e aérea é a tua forma,
Ó Hera, rainha de tudo e abençoada consorte de Zeus.
Tu envias brisas suaves aos mortais, assim como nutres a alma,
e, mãe das chuvas,
tu cuidas dos ventos e dás nascimento a tudo.
Sem ti não há sequer vida nem crescimento;
e, misturada como estás no ar, te veneramos,
participas de tudo e de tudo és rainha e senhora.
Atiras-te e te viras com o vento impetuoso.
Que tu possas, ó deusa abençoada e rainha de muitos nomes,
trazer gentileza e alegria em teu amável rosto.
(outra versão)

Hino Órfico 15 a Hera, com incenso de ervas aromáticas
No escuro seio do mar assentada, aeriforme,
Hera rainha de tudo, venturosa consorte de Zeus,
nutriz de almas que oferece brisas suaves aos mortais,
mãe das chuvas, nutriz dos ventos, progênie de tudo:
sem ti não se vê em absolutamente nada a natureza da vida,
pois, misturada ao ar insigne, estás em tudo;
sobre tudo imperas, apenas tu rege todas as coisas,
agitando as águas em rajadas de ar.
Eia, venturosa deusa de muitos nomes, rainha de tudo,
prouvera venhas benfazeja, com belo e alegre rosto.
(Tradução: Rafael Brunhara)

Fontes: Helenos, Templo de Apolo e Wikipédia.

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